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As heranças 'caídas do céu' aumentam pelo coronavirus

Ao redor de 40% dos espanhóis falece sem fazer testamento e quando não se encontra um herdeiro legítimo o Estado fica com o património

Una persona mayor escribe a mano un testamento
Una persona mayor escribe a mano un testamento

Quatro em cada dez espanhóis falecem sem deixar testamento. O Código Civil estabelece quem são os herdeiros legítimos nestes casos, mas o problema surge quando os familiares estão ilocalizables e desconhecem que seu parente tem morrido. Realizar uma investigação deste calado supõe um grande investimento de tempo e de meios, algo que, segundo os experientes consultados por Consumidor Global, não abunda na administração pública para gerir estes expedientes. Ademais, por se não estivesse já desbordada com este assunto, o número de casos tem aumentado devido ao Covid-19.

Nesse contexto, há despachos de advogados e empresas especializadas em localizar aos familiares que têm direito a receber estas heranças ab intestato --isto é, sem testamento--. Em caso que não se encontre a ninguém, o património lho fica o Estado. Segundo os cálculos de Marco Lamberti, director em Espanha de Coutot & Roehrig, a única assinatura no país dedicada à genealogia sucesoria, o mercado nacional das heranças não reclamadas se situa em 180 milhões de euros. O 90% dos casos que gere esta empresa em Espanha não são patrimónios desorbitantes, mas, segundo relata o experiente, chamar à porta de alguém para lhe dizer que lhe correspondem 400.000 euros pela herança de um parente longínquo ao que desconhece é "como que lhe toque a loteria".

A quem lhe toca primeiro?

Os primeiros herdeiros legítimos em caso de não ter testamento são os descendentes, isto é, os filhos, netos, etc. Em caso que não tenha descendencia, os seguintes são os ascendientes (pais, avôs…). E se por essas duas linhas de parentesco não se encontra a nenhum familiar, passa ao cónyuge, ainda que só se não tem tido uma separação legal.

Uma vez exploradas essas opções, a busca continua entre os seguintes graus de consanguinidade, nesta ordem: irmãos, sobrinhos, tios e primos. Os filhos destes últimos são o eslabão final dantes de que o património da herança passe a mãos do Estado, ainda que devem se dar umas circunstâncias determinadas. Mais especificamente, que o primo da pessoa falecida sem testamento tenha morrido após esta, isto é, que tenha gerado um direito a herdar que se transfira a seus filhos.

Obter um 10% da herança por denunciar

A maior parte das denúncias deste tipo de casos procede de administradores de fincas. De facto, uma das situações mais comuns é que, de repente, um vizinho deixa de pagar os recibos da comunidade como tem falecido e, quando se propõe a situação, ninguém sabe a que familiar ir para reclamar essas dívidas. "Com a pandemia do Covid-19 têm morrido muitas pessoas sozinhas e deram-se muitos casos assim. Vivemos num mundo no que nos enclausuramos em nossa casa e não lhe comentamos ao vizinho nem sequer se temos filhos", lamenta Adolfo Calvo-Parra, secretário técnico do Colégio de Administradores de Fincas de Madri.

Também há pessoas que denunciam estas situações ante Fazenda, no entanto, nestes casos o objectivo é económico. Em algumas comunidades autónomas bonifica-se com um 10% da herança àqueles que notifiquem estes casos às autoridades. "Têm que apresentar um inventário do que acham que essa pessoa possui e, se não se encontra aos herdeiros legítimos, ficam um 10%", explica a este médio Alicia Delgado, directora do departamento de investigação do despacho de advogados especializado em heranças Grupo Herda. De facto, "há gente que vive disso", acrescenta.

Um tema cultural

Quanto aos motivos de por que em Espanha a percentagem de pessoas que falece sem fazer testamento é tão alto, Lamberti o tem claro: "Deve-se a um tema cultural". A empresa tem despachos em 20 países e, em base a sua experiência, assegura que tanto no norte como no centro de Europa a gente está mais habituada a atar estes assuntos e não os deixar para idades avançadas.

"Para mim não é casualidade que nos países mediterráneos, como Espanha, Itália ou Grécia, se façam menos testamentos", aponta o experiente. Sobre isso, considera que nestas zonas pensar na morte costuma ter uma connotación de "mau fario" que empurra às pessoas de 50 ou 60 anos, por exemplo, a deixar para mais adiante a redacção de sua testamento.

Renunciar a uma herança milionária

A maior parte das heranças sem reclamar não são patrimónios milionários, mas em muitas ocasiões sim que incluem, por exemplo, inmuebles. De facto, num BOE de outubro de 2020 publicou-se o caso de uma pessoa que faleceu com mais de 100.000 euros numa conta bancária e com um andar de 80 metros quadrados em Madri. Não é um caso espectacular, mas que chamem à porta de alguém que não lho espera e lhe dêem a notícia de que tem direito a esse património é, quanto menos, llamativo. Apesar disso, Alicia Delgado assinala que em muitas ocasiões estas pessoas renunciam a isso como não podem pagar o imposto de sucessões.

Sobre isso, Coutot & Roehrig assegura que gere em Espanha ao redor de 850 expedientes de heranças sem reclamar e que o património de 10% das mesmas supera o milhão de euros. Conquanto há gente que renuncia a elas por não poder enfrentar as despesas que implica, há outras que o fazem por outros motivos. Lamberti relata que faz quase uma década teve uma experiência particular. Um caso que se iniciou no França, lhe levou até dois irmãos em Espanha que tinham direito a uma fortuna superior ao milhão de euros. Localizaram a um deles que, após a desconfiança inicial, aceitou o legado que lhe correspondia de um parente longínquo. Ao perguntar por seu irmão, este se tinha convertido numa espécie de ermitaño que vivia em Huesca. A empresa localizou a esta pessoa e, ao informar-lhe da grande quantidade de dinheiro à que tinha direito, disse: "Não vês como estou a viver, pára que me interessa?".

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