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Isto é o que tens fazer para poder vender legalmente os tomates de teu huerto urbano

Os cultivos comunitários de hortaliças e frutas seguem crescendo, impulsionados também pela inflação actual, dentro das cidades e, em Espanha, já há mais de 20.000

Ana Carrasco González

huerto urbano portada

Cultivar tomates, pimientos, pepinos, lechugas, berenjenas, melones ou sandías no coração das cidades é uma tendência em auge. E é que, se já de por sim os huertos urbanos estão a cada vez mais cotados, agora, com uma inflação que tem disparado os preços dos alimentos, muitos são os consumidores que querem se fazer com uma parcela e destinar ao cultivo de frutas e hortaliças, com o fim de lhe dar um respiro a esse bolso ao que não param de lhe sair buracos. Mas, pode-se fazer negócio com os cultivos comunitários? Isto é o que tens que fazer para vender, de maneira legal, teus produtos.

"A maioria que semeia numa destas parcelas urbanas destinadas ao cultivo de plantas hortícolas, que têm como base a agricultura ecológica, o faz por lazer ou de forma terapêutica", conta a Consumidor Global David Lagares, especialista em huertos urbanos e impulsor do projecto A Huertoteca, dedicado à instalação destes cultivos dentro da cidade. No entanto, pese a que as produções não têm como destino nem a indústria da transformação nem a grande distribuição (correntes de supermercados, grandes superfícies, etc.), em ocasiões sim tem cabida a venda em lojas de bairro ou mercados locais.

A comercialização de produtos

"Há uma norma recente que tem modificado esta possibilidade de venda. O Real Decreto 1086/2020, pelo que se regulam e flexibilizan determinadas condições de aplicativo das disposições da União Européia em matéria de higiene da produção e comercialização dos produtos alimentares", informa Beatriz Robles, divulgadora científica sobre alimentação. "Isto faz referência também aos huertos urbanos, onde os agricultores que desejem vender seus produtos estarão amparados sob este regulamento, ainda que deverão cumprir as normas gerais de higiene dos produtos alimentares que estabelece o regulamento 852/2004", sublinha.

Parcela de um huerto comunitário com cebollas e plantas aromáticas / PIXABAY

"O regulamento tributário entende que toda actividade comercial deve ser cobrada com sua IVA e por tanto declarada ante Fazenda. No entanto, isto é como tudo, podes chegar a um acordo com teu vizinho ou amigo à hora de lhes vender teus tomates, por exemplo", assinala a advogada María Lirio.

Vendê-los como produtos ecológicos

Por outro lado, tal e como especifica Lagares, para vender estes alimentos como ecológicos devem primeiro ter o certificado que o acredite, que está regulamentado no Decreto 2018/848 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 30 de maio de 2018, sobre produção ecológica e etiquetado dos produtos ecológicos.

Depois do adiamento de seu aplicativo por um ano, a nova legislação européia sobre produção ecológica está em vigor desde o 1 de janeiro de 2022. A Comissão Européia pretende que esta "nova normativa reflita a evolução deste sector em rápido crescimento para garantir uma concorrência leal para os agricultores e, ao mesmo tempo, evitar a fraude e manter a confiança dos consumidores".

As vendas se cuelan por Milanuncios ou Wallapop

Os produtos que nascem deste tipo de huertos, caracterizados por ter umas zonas comuns para que todos os participantes do projecto possam utilizar uma série de infra-estruturas comunitárias que facilitem os labores agrários também podem colarse por portais não especializados como Milanuncios ou Wallapop, onde tanto compradores como vendedores realizam transacções a diário."Os requisitos legais dos negócios on-line são iguais aos negócios convencionais. Estes passam por ter a possibilidade de emitir facturas, identificar o negócio, oferecer sistema de reclamações, ter em conta a lei de protecção de dados, entre outros requisitos", realça Lirio.

Mais especificamente, um utente vende por 5 euros uma planta de tomates de "colheita própria ecológica" por Milanuncios. Enquanto, por Wallapop pode-se encontrar tomates de pendurar, –que se colectam mais ou menos aos três meses após a semeia– por 7,40 euros. Isso sim, segundo a informação da publicação, estes últimos contam com o certificado Ecológico: É-ECO-003-AN.

Mais produtos ecológicos

Em Espanha, passou-se dos 1.000 huertos sociais ou comunitários em zonas urbanas no 2000 aos mais de 20.000 que há actualmente. "Os cultivos urbanos estão em pleno auge porque os consumidores têm bem mais interesse pelos produtos ecológicos", explica Álvaro Barreira, presidente de Ecovalia , a associação profissional espanhola da produção ecológica.

Um huerto urbano em Barcelona / EP

A pandemia do Covid-19 tem impulsionado o crescimento dos produtos ecológicos até um 17 % mais. Assim mesmo, Espanha situa-se no podio dos três países com maior superfície ecológica a nível mundial, com 2,4 milhões de hectares, por trás de Austrália e Argentina, segundo o relatório anual da produção ecológica no ano 2021, elaborado por Ecovalia.

Vender não é o principal objectivo

Os huertos urbanos funcionam em sua maioria graças aos convênios que estabelecem as autoridades locais com uma ou várias pessoas para sua exploração. "Na cidade de Madri dentro dos diferentes programas municipais temos mais de 300 huertos urbanos, destacando especialmente os 54 huertos urbanos comunitários, os 221 da rede de huertos escoares sustentáveis e os 40 huertos em centros municipais. Além destes também há cultivos actualmente geridos por alguma junta de distrito", informam a Consumidor Global desde a Prefeitura de Madri.

"O objectivo principal das pessoas que participam nos huertos dentro das zonas urbanas não é vender os produtos que cultivam. Repartem-se entre a gente que está envolvida e em alguma ocasião se doam", destacam desde a municipalidad. No entanto, a conjuntura económica actual está a provocar que muitos deles decidam vender seus cultivos parac ontinuar subsistindo.