Não se admitem artistas: o icónico hotel madrileno que recusou aos Beatles

Nem o dinheiro nem a fama permitiam fazer parte de sua selecta freguesia, pelo que a banda de Liverpool teve que pernoctar em outro estabelecimento hoteleiro da capital

Los Beatles durante la rueda de prensa en el antiguo Hotel Fénix de Madrid EFE JDA
Los Beatles durante la rueda de prensa en el antiguo Hotel Fénix de Madrid EFE JDA

Na quinta-feira 1 de julho de 1965, às duas e meia da tarde, baixo um sol abrasador e 38 graus de temperatura, centos de fãs (as cinzas não tanto) passavam da zozobra ao êxtase na pista de aterragem do aeroporto de Baralhas. No alto da escalinata, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr cumprimentavam e sorriam cumprimentavam ao fervoroso público para, acto seguido, entre espejismos, hurras e desmayos adolescentes, subir-se a um Cadillac e desaparecer rumo ao hotel Fénix.

Los Beatles a su llegada a Madrid el jueves 1 de julio de 1965 / EFE
Os Beatles a sua chegada a Madri na quinta-feira 1 de julho de 1965 / EFE

Na sexta-feira 2 de julho e no sábado 3, com o mesmo repertório de 12 canções sem bises tanto na praça de Touros das Vendas de Madri como na Monumental de Barcelona, são duas datas históricas e irrepetibles que ainda muitos septuagenarios e octogenarios recordam vívidamente a dia de hoje. O que muito poucos sabem é que, em plena beatlemanía, mal umas semanas dantes de suas duas únicas actuações em Espanha, teve um icónico hotel madrileno que recusou aos Beatles.

Não se admitem artistas

A britânica Shelagh Tennant, proprietária do primeiro pub de Torremolinos e amiga de Brian Epstein, produtor de The Beatles, exerceu de tradutora e ajudou a procurar hotel para a banda de Liverpool durante sua breve estadia em Espanha. Sua primeira ideia foi hospedá-los no Ritz, mas por aquela época o luxuoso hotel era conhecido por não admitir a pessoas do mundo do espectáculo. Um veto aos artistas que aparece retratado na grande vencedora da primeira edição dos Prêmios Goya, A viagem a nenhuma parte, de Fernando Fernán Gómez.

Una de las salas del hotel Ritz de Madrid / RM
Uma das salas do hotel Ritz de Madri / RM

"Isto não se devia a que a família Marquet, proprietária do hotel entre 1932 e 1978, tivesse algo na contramão deste grémio; simplesmente rehuían seus coloridos atuendos e aos ruidosos fãs que acampavam em frente à entrada", reza um documento de Informação geral facilitado pelo Mandarin Oriental Ritz (Madri) a Consumidor Global. "A verdade é que para alguns o hotel sempre estava completo", expõe a directora de comunicação do estabelecimento hoteleiro, Imaculada Casado.

O código NTR: Não Tipo Ritz

Assim, o Ritz teria recusado hospedar aos Beatles porque a direcção impunha uma série de normas do mais estritas, já que a maioria de seus distintos clientes pertenciam ao mais alto calibre social e a direcção queria salvaguardar sua intimidem, confort e tranquilidade.

"Tratava-se de um código interno denominado NTR (Não Tipo Ritz)", acrescenta Casado, quem explica que à gente que não lha considerava conforme, se lhe recomendava o hotel Palace, que estava justo enfrente e admitia um pouco mais confusão. No entanto, o Sr. Marquet permitia-se efectuar certas excepções com actores que ele considerasse caballeros, e é que o Ritz sim aceitou a famosos como Lawrence Olivier (por ter título de Lord), Cary Grant, que vestia sempre de maneira impecable, ou James Stewart, quem reservava como General James da Armada Americana. Ao que parece, não todo mundo reunia as condições para ser cliente do Ritz, valoração que não dependia só do poder económico, sina mais bem de aspectos como a origem familiar, a educação, o estilo e as boas maneiras. Aqueles que não seguissem uma determinada forma de comportamento, eram transferidos a outros hotéis.

Los Beatles en el antiguo Hotel Fénix / EFE
Os Beatles no antigo Hotel Fénix / EFE

O hotel Fénix

E assim foi como as estrelas do pop acabaram no hotel Fénix, um estabelecimento localizado no Passeio da Castelhana, junto a Praça Colón, no que "só tinha velhos", segundo disseram os quatro de Liverpool.

Ali, nas suites do Fénix, depois de uma roda de imprensa no hall do hotel com perguntas tipo "Gostam a tortilla?", "Conhecem os touros?" ou "Por que levam esses cabelos tão longos?", e após conhecer um tablao flamenco, os Beatles passaram a noite prévia ao concerto.

Paul McCartney, George Harrison, John Lennon y Ringo Starr, subiendo al avión para viajar a Barcelona desde el aeropuerto de Barajas / EFE
Paul McCartney, George Harrison, John Lennon e Ringo Starr, subindo ao avião para viajar a Barcelona desde o aeroporto de Baralhas / EFE

Quanto custa dormir numa suite como a dos Beatles

O preço das entradas oscilava entre 75 e 450 pesetas, um preço quase tão prohibitivo como o de uma suite no Grande Meliá Fénix, membro de The Leading Hotels of the World e antigo lar do grupo mais famoso da história durante um dia.

La terraza de la Presidential Penthouse Suite del Gran Meliá Fénix / GMF
O terraço da Presidential Penthouse Suite do Grande Meliá Fénix / GMF

E é que passar uma noite na Presidential Penthouse Suite do citado hotel se dispara até os 3.850 euros. Isso sim, conta com 200 metros quadrados, jacuzzi e as mesmas vistas das que desfrutaram os autores de Hello, Goodbye.

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