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Sigrid Cervera (sexóloga): "Temos uma sala com grandes máquinas sexuais do medievo"

Entrevistamos à terapeuta de referência do Museu Erótico de Barcelona (MEB) para descobrir os momentos estelares da história da sexualidad

Sigrid Cervera, la sexóloga de referencia del Museo Erótico de Barcelona CEDIDA
Sigrid Cervera, la sexóloga de referencia del Museo Erótico de Barcelona CEDIDA

Se todas as pessoas vêm do sexo e são sexo, por que segue sendo um tema tabu? Fala-se muito de violência e prevenção, mas a educação sexual é a eterna matéria pendente. Em 2023, os succionadores arrasam. Que se levava no paleolítico? E na época medieval? Que brinquedos tinham? Quais são os momentos estelares da história da sexualidad?

"Cultiva o sexo que és". Esta frase da sexóloga Sigrid Cervera poderia ser um bom resumo da entrevista que a responsável pelos tours e oficinas do Museu Erótico de Barcelona (MEB) tem concedido a Consumidor Global.

--Em que ponto da história se encontram a sexualidad e o erotismo?

--Vivemos numa sociedade avançada e atingiram-se grandes lucros, mas também há muito retrocesso em outros sentidos. É como se o puritanismo estivesse a ganhar terreno. Há que seguir estudando e aprendendo para entender melhor a sexología. O presente é uma oportunidade para seguir avançando.

--Como se aprende no Museu Erótico de Barcelona?

--O Museu Erótico de Barcelona não é um museu de arte, é um museu de história da arte erótico cujo valor, desde o ponto de vista sexológico, é o conjunto de todas as obras. A colecção permite-nos acercar-nos a como se entendeu a sexualidad ao longo da história. De que falamos quando falamos de sexo? Falamos do que somos, de como nos percebemos e sentimos como as mulheres e homens que somos.

--No paleolítico já utilizavam brinquedos sexuais?

--O sexo existe desde que há humanidade. O tipo de práticas que levavam a cabo estes homens e mulheres tem evoluído. Há muitos mitos e lendas. Encontraram-se falos da prehistoria? Sim, encontrou-se um falo numa gruta de Alemanha que tinha 28.000 anos e era do paleolítico. As teorias dizem que se utilizavam pára rituales. Em épocas posteriores, como a grega e romana, era símbolo de fertilidad. Em Pompeya tinha falos por todos os lados, mas pouca gente sabe que os romanos e napolitanos eram muito supersticiosos e os utilizavam para afugentar o mau de olho. Tinha falos que se utilizavam para praticar a penetração e dar prazer? Sim, muito provavelmente sim.

--Que é o mais surpreendente das épocas grega e romana?

--De Grécia podemos descobrir como o homoerotismo masculino era amplamente aceitado, ou como a pederastia era um processo educativo no que o adulto introduzia ao jovem na vida do cidadão, e um dos aspectos era a sexualidad. O papel da mulher na época grega, que basicamente era o reproductivo, mas também conheceremos que a teoria erótica de Platón nos dizia que os sexos existem porque estamos factos para essa busca e encontro com o outro, para além e à margem da reprodução. Isso é revelador. Com a influência judeocristiana esqueceram-se muitas coisas. Alguém poderia pensar que em outras épocas não existia o amor sexuado, mas sim. No Museu Erótico de Barcelona podemos aprender sobre sexo com todas as letras.

--Agora arrasa o Satisfyer, mas na época medieval já tinha ferramentas sexuais… Como eram?

--Costuma-se identificar brinquedo erótico com brinquedo genital, e isto reduz muito nossa concepção sobre o que é um brinquedo erótico. As possibilidades são infinitas. Se falamos de brinquedos genitais, temos uma grande colecção de falos (reproduções e originais) que vão desde a prehistoria até a actualidade. Os vestígios indicam-nos que alguns eram utilizados em rituales e outros para a busca do prazer. Concretamente do medievo, temos uma sala com grandes máquinas sexuais: artilugios que reproduzem a penetração peneanal vaginal ou peneanal anal. E também temos cintos de castidade, que as lendas contam que se utilizavam para prevenir violações, mas os últimos estudos detalham que são um jogo mais, uma prática mais dentro do universo BDSM, ainda que sua origem se situe numa época puritana para impedir a masturbación masculina. O sexo é bem mais que os genitais.

--Cite um momento estelar da história da sexualidad…

--Para mim um dos grandes momentos chega com o início da sexología no final do século XVIII e princípios do XIX. Falamos da ilustração e de como se começa a pensar o sexo. Não estamos a falar de genitais, nem da teoria da reprodução, nem da teoria erótica de Platón. Falamos do género e começamos a pensar o sexo.

--Em que se parecem a colecção de pornografía produzida pelo rei Alfonso XIII, o bisabuelo de Felipe VI, e a actual?

--O porno de inícios do século passado era para homens de classes bienestantes que podiam lho permitir, enquanto o povo trocava fotografia erótica, que então era considerada como pornográfica. Alfonso XIII viajou muito e encarregou ao conde de Romanones e aos irmãos Banhos uma série de filmes com uma história erótica. Agora, o porno mainstream se caracteriza pela misoginia e é um produto de uso comercial onde a história é o de menos. Tem mudado muito a visão da estética e da beleza.

--Então, também não temos avançado tanto, não?

--Temos avançado, sim, mas ao mesmo tempo é um momento crítico. Fala-se de pornografia, de violência. Todos os discursos são de medo. A gente jovem não tem espaços onde falar de sexo e amor sem que tenha medo. E isso não pode ser. A educação sexual é educação na convivência. Se há educação sexual, se conhecemos-nos melhor, conhecemos e entendemos melhor ao outro, e há menos situações de violência.

--Se todos vimos de e somos sexo, por que segue sendo um tema tabu?

--Há uma grande influência judeocristiana, muito poderosa, na que há temas de controle e de poder. Sempre dizemos que o poder ao sexo não se importa, mas ao poder sim importar com o sexo. O sexo ainda é essa matéria pendente. Por isso o serviço educativo do Museu Erótico é tão importante. Sempre falamos de sexo e sexualidad desde a prevencion. A quem lhe interessa? Há muito dinheiro em jogo. Quem vontade? A medicalizacon do sexo. Se falássemos mais da promoção do sexo como valor, seguramente não faria falta tanta prevenção.

--Visitar o Museu Erótico de Barcelona é como assistir a uma classe de educação sexual?

--O museu é formação e entretenimento. Através da arte, fazemos educação sexual. Podes descobrir como se vivia a sexualidad na época grega e romana, ou no paleolítico. Nós fazemos educação sexual destinada ao público local. Um tour sobre a mulher e a arte erótico; como cultivar a sexualidad contribui bem-estar em nossas vidas. Somos seres sexuados desde que nascemos até que morremos. Há tantas relações como relações há no mundo. Podemos aprender sobre convivência e diversidade. Ninguém fica fora.

--"Fingimos orgasmos, follamos por fardar, sonhamos com os tríos que vemos no porno, nos acomplejan nossas pollas e nossas tetas… E no entanto nunca temos feito tanto alarde de nossa liberdade e de nosso prazer", escreve a terapeuta Adriana Royo em seu livro Falos e falacias. Quando tirar-nos-emos as máscaras?

--Na actualidade, há muitos discursos que asseguram que só podemos ser fortes ou vulneráveis, e isto não é assim. Fortaleza e vulnerabilidade vão no sujeito sexual. E eu me vulnerabilizo em frente a ti e me fortaleço em frente a ti. E tu igual. Não sê se tirar-nos-emos nossas máscaras ou não. Depende da cada sujeito porque a cada história é única.

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