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Santi Santisteban (Tranjis): "A cultura do jogo de mesa em Espanha está longe do resto de Europa"

Um dos criadores do famoso 'Vírus' e director da editoria que o distribui fala da situação do sector após o empurrão da pandemia e desmente os estereotipos de um mundo não tão afastado da tecnologia digital

Santisteban, director da editora de jogos de tabuleiro Tranjis Games / TRANJIS GAMES
Santisteban, director da editora de jogos de tabuleiro Tranjis Games / TRANJIS GAMES

Tudo começou numa garagem de Rivas Vaciamadrid. Santi Santisteban e Domingo Cabrero eram amigos de liceu e, embora nunca se tivessem empenhado em desenvolver tal projecto, foram capazes de converter a sua paixão pelos jogos de mesa num negócio. "Fizemos um produto com o único objectivo de brincar uns com os outros e de nos divertirmos com os amigos, mas gostámos tanto que decidimos criar uma empresa e torná-la toda profissional", lembra Santisteban.

Sob o nome de Tranjis Games, estes dois madrilenos publicaram em apenas sete anos 40 títulos, entre os quais está o famoso Vírus, com o qual se venderam mais de um milhão de exemplares em 20 países. Falamos com Santi Santisteban, cofundador e director desta editoria de jogos de mesa que se dedica a tornar realidade projectos de outros autores.

--Como tudo começou?

--A verdade que uma coisa foi consequência de outra. Não era nossa intenção tornarmo-nos uma editora, mas vimos que a Virus estava a ter tanto sucesso entre as pessoas que conhecíamos e mais tarde em feiras e festivais que decidimos lançar o projecto. Primeiro fizemos 100 unidades e algumas lojas estavam motivadas a comprá-las a nós, mas claro que as fazíamos nós próprios e tínhamos recursos bastante precários, pelo que nos constituímos como uma empresa para poder facturar e ter uma fábrica atrás de nós.

Domingo Cabrero, Carlos López y Santi Santisteban, creadores del juego 'Virus' / TRANJIS GAMES
'Vírus' é o jogo mais vendido da editoria / TRANJIS GAMES

Vírus foi o seu primeiro projecto e o de mais sucesso. Como se consegue?

--À base de muito trabalho. Obviamente há um componente de sorte, o jogo caiu na graça aos consumidores e sobretudo nas crianças, que o levaram a todas partes. Expandimos o Vírus e graças a isso estamos aqui. Estivemos quase um ano a desenvolvê-lo e outros oito meses para a parte gráfica. Depois de termos o jogo reproduzido, percorremos toda Espanha indo a feiras e festivais, demos a nós próprios uma boa tareia. Sempre digo que deveria levar eu as rédeas do jogo e na verdade é ele o que me arrasta. Chegou um momento no qual o projecto pedia-nos mais trabalho do que podíamos dar porque cada um tinha a sua vida e no final acabamos por deixar os nossos trabalhos e nos dedicar a isto a 100%.

--Como é o trabalho numa editoria de jogos de mesa?

--Funciona um pouco como o mercado dos livros. Podes editar o teu próprio título, apanhar outro que já tenha sido um sucesso noutro país e traduzi-lo ou receber propostas de outros autores. Nós trabalhamos um pouco essas três pernas. A raiz do Vírus, conhecemos muitos autores e prototipistas que nos mostraram os seus projectos e ideias e fomos encorajados a publicá-los. Também nos aventuramos com as licenças internacionais e hoje temos quase 50 títulos publicados.

Domingo Cabrero, Carlos López y Santi Santisteban, fundadores de Tranjis Games / TRANJIS GAMES
Domingo Cabrero, Carlos López e Santi Santisteban, fundadores da Tranjis Games / TRANJIS GAMES

--Espanha é um país de jogos de mesa?

--Diria que não. Comparado com a tradição que há em países como França e Alemanha, nem sequer chegamos perto. Em Espanha diz-se que não há essa cultura dos jogos de mesa porque com o bom tempo as pessoas preferem estar na rua bebendo cerveja, mas na verdade acho que é uma questão social e cultural. Quando as pessoas experimentam este mundo descobrem um lazer alternativo com o qual ficam.

--Como fomentam essa cultura a partir da Tranjis?

--Nós participamos em muitos eventos a nível local nos quais se promove uma cultura de lazer alternativo. Pouco a pouco muitas cidades como Barcelona dão-se conta de que os jogos de mesa são uma alternativa saudável e educativa e organizam festivais que fazem com que a torcida cresça porque muitas pessoas chegam a estes eventos sem ter muito conhecimento e levam uma ideia diferente do clássico Monopoly ou Trivial. As pessoas aprendem que há mais lá, há um mundo por descobrir, já que na verdade há um jogo de mesa para cada pessoa.

Santi Santisteban y Domingo Cabrero, fundadores de Tranjis Games / TRANJIS GAMES
Santi Santisteban e Domingo Cabrero, fundadores da Tranjis Games / TRANJIS GAMES

--Qual é o perfil do jogador de mesa?

--O perfil que é frequentemente visto de fora talvez não seja o verdadeiro. Sempre se costuma relacionar com o típico friki, um homem de 30 anos que frequenta as lojas de bandas desenhadas e leva uma t-shirt de rock, mas essa não é a realidade. O nosso público são rapazes e raparigas jovens que ficam para tomar cerveja e jogar um jogo de forma descontraída ou pais que querem afastar um pouco as crianças das tecnologias digitais.

--A pandemia representou um empurrão para o sector. Como o viveram?

--As pessoas procaram um lazer alternativo que podiam fazer com a sua família encerrados e depois com reuniões pequenas de cinco ou seis pessoas. Os jogos tiveram um protagonismo grande e isso ajudou a que os títulos modernos se conhecessem e as pessoas se animassem aos experimentá-los. Com o confinamiento acabamos a cansarnos de tanta plataforma digital e recorremos muito a eles porque é um recurso que faz com que nos olhemos na cara, dialoguemos e outras coisas que não se conseguem com os entretenimentos digitais. Além disso, graças à pandemia há novos jogadores que se vão juntar ao passatempo e este vai crescer muito.

--Já que menciona o entretenimento digital. São as redes sociais e a tecnologia um inimigo dos jogos de mesa?

--Não, de facto, são um aliado bastante potente. Muitos títulos já começam a incluir aplicações móveis para jogar ao mesmo tempo e outras funcionalidades. Acho que, ao contrário do que se pode pensar, não somos inimigos. Os jogos de mesa e os videojogos são complementares, apoiam-se e no futuro fá-lo-ão mais.

--Onde se encontra agora o sector?

--Em 2021 teve um crescimento de 20% face a 2020 e em 2022 estamos um pouco por baixo porque, obviamente, as pessoas que tiveram dinheiro decidiram sair e gastá-lo a viajar, não em jogos de mesa. Em parte porque já os tinham comprado durante a pandemia. As lojas no general têm um pouco de excesso de stock e notou-se que o carrinho de compras é mais caro, as pessoas já não têm o mesmo dinheiro para este tipo de hobbies.

--Como lhes afectou a inflação?

--Neste ano houve um momento muito crítico sobretudo pelo tema dos transportes. Incrementaram-se muito os custos de produção principalmente pelo transporte tanto por estrada como marítimo. Alguns jogos não poderam sustentar o aumento de preço e tivemos que os tirar de catálogo ou subir o preço. Também somos conscientes de que na carteira das pessoas há menos dinheiro.

Un grupo de amigos se reúne para jugar a juegos de mesa / PEXELS
Um grupo de amigos reúne-se para jogar jogos de mesa / PEXELS

--Qual é o preço médio dos seus produtos?

--Na nossa editoria temos jogos entre 12 e 50 euros, a média poderia estar entre os 20 e 25 euros. Temos alguns títulos dirigidos a um público experiente que são mais caros que a média como Parks ou Wonderful World.

--Não têm loja on-line, porquê?

--Desde que começamos temos mantido a política de que são as lojas e os lojistas que nos têm apoiado desde o início e esta é uma forma de lhes agradecer e de lhes dar apoio. Ainda que seja verdade que fazendo números não descartamos abrir uma loja on-line no futuro, há outras editoras que o fizeram já. No final cada um tem a sua política.

--Que expectativas têm face ao Natal?

--Neste ano tem sido muito mau e, no entanto, nos últimos meses face ao Natal parece que se recuperou um pouco. Por muita crise que haja, no Natal a ninguém lhe falta um detalhe, um presente e aí entramos nós. Confio nestas datas porque no final o Natal é uma grande parte do volume de facturação anual porque nós entramos dentro desse mercado do brinquedo de presente.

--Como definiria numa frase a filosofia da Tranjis?

--Fazemos os jogos que nós gostamos de jogar. Muitas vezes descartámos opções que poderiam ser um sucesso porque não gostámos tanto. Tem em conta que quando vamos a feiras há que estar muitas horas a apresentar ps jogos e ensinar um que não gostas durante de muitas horas é muito duro. Desde o primeiro momento escolhemos esta filosofia de evitar aqueles que não nos apetece ou não gostamos de jogar.

--Pensando já em desenhar um novo jogo?

--Tanto Domingo como eu temos um problema como autores ee que é que o trabalho editorial ocupa tanto do nosso tempo que deixámos o trabalho autoral um pouco de lado. Sim que temos algumas coisas pensadas que não te posso contar que irão saindo. Agora estamos centrados em apanhar ideias e tornar realidade protótipos de outros autores.

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