Em 2019, os números das contas de Worten eram da cor de sua logo corporativo: vermelhos. Ao ano seguinte, a empresa fechou 17 lojas em Espanha e anunciou que centrar-se-ia no canal on-line. Para a companhia portuguesa especializada em electrónica e electrodomésticos supunha uma aposta radical, um all in mais ou menos forçado que, com a pandemia, se revelou como exitoso.
Fernando Siles é o chefe de marketing on-line de Worten e explica a Consumidor Global que as colunas que sustentam o edifício de qualquer e-commerce que se aprecie são a oferta, a logística e, como não, o preço.
–Aposta-a de Worten pelo canal on-line tem sido total. Que valoração faz desse movimento?
–"Tem sido uma decisão obrigada pelas circunstâncias, por uma tendência de mercado que vinha muito forte. É muito possível que não tenhamos feito mais que acelerar uma decisão que quiçá se tivesse tomado nuns anos. É uma especulação, mas há que o reconhecer. Já levávamos muitos anos com uma página site transacional, tínhamos muita experiência, uma boa facturação e desgraçadamente o negócio de loja física estava tocadísimo pela pandemia. Não teve mais remédio".
–Como definiria você a Amazon , grande competidor on-line?
–"Acho que Amazon é, praticamente, o inventor do e-commerce. Não podemos dizer que seja um monstro criado porque outros tenham chegado tarde, ou uma plataforma que se tenha criado metendo dinheiro. Não é assim: estava ali ao princípio, quando não tinha nada".
–Quais têm sido alguns dos produtos mais vendidos em Worten no último ano?
–"No ano passado foi parecido ao anterior. A pandemia tem trazido um desequilíbrio entre dispositivos de interior e dispositivos de exterior. Isto é, tem tido uma venda em massa de portáteis, de computadores e de consolas muito impulsionada pelo teletrabalho e pelo entretenimento dentro de casa. Quanto a consola-las, venderam-se as que tinha, porque a PS5 teve problemas de estoque, e tem sido todo um fenómeno. O que ocorre agora é uma volta à normalidade: equilibram-se as coisas, baixa a demanda de portáteis e vendem-se mais telefones móveis e outro tipo de dispositivos para fora, para a rua. Graças a isso, há um pouco mais de oferta. Dantes chegava a ser difícil encontrar o portátil que querias porque a oferta estava súper tensa e as fábricas em máximos".
–Como tem capeado Worten a inflação?
–"Parece-me uma pergunta demasiado temporã, não te posso dizer ainda. Ao final, temos grandes estoques que se compraram sem inflação e sem guerra. Temos tido alguns fabricantes que já nos estão a repercutir a subida de preços, mas é muito cedo para o ver, porque todo o que passe agora impactar-nos-á num tempo".
–Como vê a expansão do sector do gaming?
–"Não lhe vejo fim, o vejo com um crescimento espectacular. Desfrutam do gaming não uma, sina várias gerações inteiras de consumidores. O gaming é o que em seu momento foi o cinema, a literatura ou ir ao teatro faz muito tempo. Não vejo fim a sua mistura com a realidade, com o marketing ou com nosso dia a dia. E isso é aplicável a variáveis como as criptomonedas. A cultura do gaming vai deixar de ser uma subcultura e vai ser a cultura mainstream do futuro. E terá palavras desse mundo que utilizaremos para falar de coisas correntes".
–Que tem que ter um e-commerce para ser bom?
–"A variável que tem, e que não tem a loja física, é que todos os competidores estão a um clique. Só tens que fazer uma busca em Google . Por isso, é impossível falar de um bom e-commerce sem uma boa oferta e um bom preço. Outros pilares seriam a experiência de utente, a logística e quiçá a marca".
–Uma decisão profissional da que esteja muito orgulhoso e outra que mudaria
–"Estou orgulhoso de ter metido a Worten dentro do retail média, isto é, de que Worten não só seja um e-commerce, sina que também seja, parcialmente, um suporte publicitário para as marcas que queiram fazer investimento conosco. Entre as decisões das que não estou orgulhoso está quando vendemos a home de Worten num Black Friday. Vendemos-lha a Viagens Barceló, saiu, mas esteve cheio de incidências e problemas. Foi uma má ideia misturar com um evento tão importante".
–Agora que se fala tanto de sustentabilidade , acha que o consumidor está disposto a gastar um pouco mais em isso?
–"Até dantes da pandemia, a sustentabilidade vinha muito forte como decisão de compra. O consumidor dizia "não quero contribuir a estragar o planeta" e em marketing isso se utilizava como uma alavanca para que o cliente acordasse. Agora, após a pandemia, tenho minhas dúvidas de que tenha ficado relegado à eficiência energética. E não é o mesmo. A União Européia tem mudado o baremo da eficiência dos electrodomésticos para obrigar aos fabricantes a melhorar mais. Isso estará muito bem, mas tem coincidido com uma subida eléctrica. Nós o comprovámos, porque Worten informa, na cada electrodoméstico que vende, de qual é sua poupança energética por mês e por ano. E está a ter demanda, a gente consulta esse serviço. Aqueles produtos que têm mais poupança vendem mais, e isso tampa, um pouco, a parte da sustentabilidade".