O seu fumo percorre livremente as ruas, são habituais nos bares e discotecas de noite, nas tabacarias e, cada vez mais, nas escolas. O consumo de vapeadores ou cigarros electrónicos estendeu-se tanto entre crianças e adolescentes que a indústria do fumo e a nicotina já desenha produtos e tácticas publicitárias dirigidas exclusivamente a menores. Prova disso são os vapeadores que se vendem com desenhos coloridos e de personagens de desenhos animados. Quase como se fossem brinquedos.
Segundo dados da Sociedade Espanhola de Medicina de Família e Comunitária, 20% dos adolescentes entre 14 e 18 anos fuma cigarros electrónicos. Um dado que não para de crescer e do qual os peritos vêm alertando desde há tempo. Porque, conquanto, nem todos os vapeadores contêm nicotina, existem outros compostos e aditivos químicos que podem ser perjudiciales para a saúde.
Uma porta ao tabaquismo
Pablo R. é professor numa escola secundária em Santiago del Teide, Tenerife. "Os miúdos estão super viciados. Na escola tivemos de confiscar vários vapes e muitos alunos escondiam-se na casa de banho para fumar. A minha perceção é que há muito mais consumo do que quando só havia os cigarros tradicionais", disse o professor ao Consumidor Global.
E o que é que estes produtos têm que os torna tão populares entre os jovens? A resposta é o marketing. "A indústria do tabaco investiu um capital económico significativo para tornar rentáveis e populares estas alternativas aos cigarros convencionais", disse a este jornal Francisco Pascual, membro da direção do Comité Nacional para a Prevenção do Tabagismo.
A grande armadilha da indústria do tabaco
E fazem-no recorrendo a desenhos e características que sabem que resultam atraentes para as crianças. Por isso é cada vez mais habitual encontrar nos tabacarias vapeadores com forma de Bob Esponja e sabores que fazem lembrar rebuçados. Há sites como Vapes Stores com desenhos infantis realmente surpreendentes. "Tornou-se tão popular como os cigarros. É uma coisa que se apanha nos grupos de pares, eles acabam por fazer o que os amigos fazem e também lhes dá aquela sensação de serem mais velhos", diz Pascual.
É de salientar que, apesar de a indústria tabaqueira tentar vender estes produtos como inofensivos e como se fossem a alternativa perfeita ao consumo tradicional de tabaco, nem tudo o que reluz é ouro. "A grande armadilha é dizer que é inofensivo, que é vapor de água inofensivo, quando não é. Apesar de não conterem nicotina, existem outras substâncias tóxicas que foram ignoradas e que podem ser cancerígenas", afirma o presidente da Sociedade Científica Espanhola para o Estudo do Álcool, Alcoolismo e Outras Toxicodependências.
Fácil acessibilidade
Outro dos detalhes a considerar é a fácil acessibilidade que têm as crianças a estes produtos, que se podem adquirir pela internet ou inclusive em qualquer tabacaria. "Se não contém nicotina, não se considera um produto nocivo e as crianças podem-no comprar sem problema ainda sendo menores de idade", indica Pascual à Consumidor Global.
Do Comité Nacional para a Prevenção do Tabaquismo consideram que os vapeadores é mais uma armadilha da indústria para favorecer outro tipo de consumo "provavelmente mais bem visto dentro da sociedade, mas que ademais pode ser porta primeiramente para consumo de cigarros convencionais", afirma Pascual.
A OMS alerta dos perigos dos vapeadores
E o que é que se pode fazer em relação a este flagelo? Na opinião de Francisco Pascual, há dois princípios básicos. O primeiro é acabar com a visão positiva do vaping como uma alternativa saudável ao tabaco convencional. "Diz-se que é útil para deixar de fumar, mas se fosse um medicamento seria regulamentado e vendido nas farmácias", salienta. Relativamente ao consumo por crianças e menores, "é preciso deixar de banalizar o consumo e acabar com a imitação do comportamento dos adultos, pois isso pode levar a dependências no futuro", conclui o especialista, que considera ainda que deve ser aprovada legislação sobre esta matéria.
Organismos internacionais como a OMS já alertaram os países para este problema e instaram-nos a regulamentar a comercialização destes produtos junto de crianças e jovens, uma vez que "é um perigo para a saúde e não atenua os danos do tabaco convencional", afirmou o Diretor-Geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus.