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Mão de ferro contra o 'greenwashing': a UE proibirá as marcas de usar etiquetas verdes enganosas

As afirmações de que uma peça é "responsável" ou "eco" terão que ser sustentadas em factos "fiáveis, comparáveis e verificáveis"

Duas pessoas olham para a etiqueta verde de uma peça de vestuário / PEXELS
Duas pessoas olham para a etiqueta verde de uma peça de vestuário / PEXELS

Pode-se branquear dinheiro negro, uma dentadura ou a má conduta de um amigo. Branquear um regime tirânico, a imagem de alguém ou inclusive a própria pele. Branquear remete univocamente à cor branca, associado à pureza e a limpeza, mas é algo que também se faz –quiçá com maior frequência-- com a cor verde, símbolo do sustentável. Agora, a União Europeia quer apertar as empresas em matéria de sustentabilidade e evitar que usem livremente conceitos como "eco", "responsável" ou "verde".

A ideia é que, quando um consumidor pegue uma camisa ou uns jeans numa loja, a palavra "empenhado" que aparece na etiqueta não possa levar a equívoco. Para evitá-lo, a Proposta de Diretiva de 30 Março 2022 obrigará a que estas afirmações "sejam fiáveis, comparáveis e verificáveis em toda a UE".

Mais informação ao consumidor

Silvia Pérez Bou é directora do Mestrado Executivo de Direcção de Empresas de Moda (FBA) na ISEM Fashion Business School e explica à Consumidor Global que esta medida outorgará "informação mais fiável ao consumidor", o que ao mesmo tempo o "empoderará".

Algumas grandes empresas, afirma, já tiveram que reduzir esta liberalidade conceptual em colecções que ostentavam as frases "Join Life", "Commited" ou "Conscious". Os ditos claims desapareceram dos seus sites. Agora, para que gigantes como Mango possam apresentar esses nomes, deverão ter "todos os certificados necessários".

Una persona guarda unos vaqueros / PEXELS
Uma pessoa guarda uns jeans numa caixa / PEXELS

Etiquetas verdes falsas

De certa forma, é um movimento necessário: esta perita lembra que um relatório publicado em outubro de 2021 revelava que 39% destas etiquetas verdes, que dão um atractivo extra às peças, resultavam falsas porque a marca em questão utilizava materiais poluentes ou têxteis que na verdade não se tinham produzido eticamente.

A ONG Changing Markets revelou alguns casos particularmente flagrantes, ccomo o facto de a colecção Conscious da H&M "conter uma percentagem mais elevada de produtos sintéticos do que a sua colecção principal (72% contra 61%, respectivamente)". Na mesma linha, a própria Comissão Europeia afirma no seu site que 53% das afirmações ecológicas "fornecem informações vagas, enganosas ou não fundamentadas".

Cansaço e aumento de custos

"Isto irrita o consumidor", acrescenta Pérez Bou. No entanto, a professora admite que, ainda que a medida beneficie todos os compradores porque dar-lhes-á mais dados para escolher uma peça de roupa ou outra, para alguns será indiferente. "Muitos já estão cansados de todo este tema, porque deram conta de que não se podem se fiar da suposta sustentabilidade. Mas beneficiará os que o façam bem", considera.

La página de Mango en la que detallan sus acciones de sostenibilidad / MANGO
A página de Mango na qual detalham as suas acções de sustentabilidade / Mango

Os produtores que não o façam, simplesmente terão que se expor menos e não exagerar as origens dos seus artigos. Mas há outro efeito secundário: aqueles que querem usar estes rótulos como medalhas terão de pagar por isso: o custo de provar as afirmações verdes à Europa correrá a seu cargo. Previsivelmente, as marcas repercuti-los-ão, pelo que comprar marcas sustentáveis que também afirmam ser sustentáveis será mais caro.

Não se aplica a microempresas

"Isto não se vai aplicar às microempresas, isto é, àquelas que têm vendas inferiores a 2 milhões de euros e menos de 10 empregados", acrescenta Pérez Bou. Isto pode ser uma salvaguarda para as empresas realmente empenhadas, mas pouco dinâmicas; ou também uma forma de se tornarem lobos em pele de cordeiro.

Una camisa de lino / PEXELS
Uma camisa de linho / PEXELS

"Quem o fazia de forma um pouco fraudulenta, agora calar-se-á", argumenta Pérez Bou. No entanto, a perita não considera justo fazer uma crítica generalizada a todas as grandes empresas de moda. "Não creio que as grandes tenham feito os seus truques", expressa. Por exemplo, considera que a "Inditex tem reagido muito bem. Há algum tempo que está a tentar fazer progressos em matéria de sustentabilidade, eliminando tecidos que podem ser prejudiciais e utilizando matérias-primas mais responsáveis".

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