As imersões em água fria têm sido uma prática habitual em Escandinavia durante séculos, onde as gentes desta zona tão acostumada às temperaturas baixo zero asseguravam ter descoberto no água frite uma cura a muitos males, pois esta mudança brusca ao que parece lhes fazia sentir alguns benefícios terapêuticos.
A actividade em questão começou a ganhar popularidade mundial durante os confinamientos de 2020, quando muitas pessoas encontraram em se dar banhos de água gelada uma forma segura de socializar ao ar livre num meio frio onde o aparecimento de vírus era menos provável.
"Era uma actividade que se podia realizar com segurança, ao ar livre e em grupo, sem contacto estreito", explica James Mercer, fisiólogo da Universidade de Tromsø em Noruega. "Para muitas pessoas, também tem um componente social importante".
Os banhos em água fria não têm benefícios: a evidência científica
As redes sociais contribuíram à difusão desta tendência, com numerosos depoimentos de aficionados que afirmavam experimentar melhoras em seu estado de ânimo e bem-estar geral ao se submergir numa bañera com gelo ou se ir a banhar ao mar a primeira hora em pleno inverno. Outros menos pudientes têm adaptado esta moda ao facto de abrir o água da ducha ao máximo de fria, procurando assim os mesmos resultados.
Desde então, as imersões em água fria têm sido promovidas como um remédio contra o estrés, a inflamación muscular e um reforço para o sistema inmunológico. Não obstante, a ciência ainda não tem corroborado a maioria destes benefícios que tanto se repetiram como mantras mañaneros e, pelo contrário, já tem assinalado alguns riscos, especialmente para quem não são desportistas de alto nível.
Riscos das imersões em água fria
Figuras influentes das redes sociais e do desporto confessaram-se aficionados ao frio e têm promovido não só começar no dia com uma ducha de água fria, sina também a natación em águas geladas como uma solução para problemas que vão desde a depressão até a diabetes. No entanto, os experientes em fisiología sustentam que a evidência científica que respalda estes supostos benefícios é bastante limitada e perigosa.
François Haman, fisiólogo da Universidade de Ottawa, adverte que as mudanças extremas de temperatura e o impacto no sistema cardiovascular com desvincules trágicos como são alguns ataques cardíacos e, em casos extremos, a morte.
"É uma prática perigosa, especialmente porque a maioria das pessoas só se informam através de redes sociais e carecem de conhecimentos adequados", assinala o experiente a modo de advertência. "O choque térmico que experimenta o corpo é comparável a receber uma descarga elétrica: pode desencadear um desemprego cardíaco".
A moda da água gelada e a falta de provas científicas
Nos últimos anos, algumas tendências do mundo do bem-estar que mais se promoveram se davam a mão com hábitos extremos. Primeiro foi a ideia de acordar-se entre as seis e as cinco da manhã para depois começar no dia com um banho de água gelada com a promessa de reduzir o estrés, a inflamación e fortalecer o sistema inmunológico desde primeira hora.
Pesquisadores da Universidade do Sur de Austrália têm analisado estas afirmações num metaanálisis de 11 estudos globais, cujos resultados foram publicados na revista PLOS One.
O estudo incluiu imersões e duchas frias com temperaturas entre 7 e 15 ºC, durante períodos que oscilaram entre 30 segundos e duas horas. Ainda que alguns efeitos positivos foram identificados, os dados centravam-se em maior medida em atletas, o que deixa aberta a questão de seu impacto na população geral.
Água fria e estrés
Os pesquisadores concluíram que as imersões em água fria podem reduzir o estrés, mas só durante um período de até 12 horas. Em outras palavras, não existem provas de um impacto duradouro sobre o estrés nem de benefícios imediatos significativos.
Assim mesmo, ainda que alguns participantes que tomaram duchas frias de 20, 60 ou 90 segundos reportaram uma leve melhora em sua qualidade de vida, estes efeitos desapareceram depois de três meses, o que sugere que os benefícios não são sustentáveis em longo prazo.
A água fria pode ser inflamatoria
O estudo também não encontrou evidência concluyente sobre melhoras no sistema inmunológico. Conquanto registou-se uma redução do 29 % em ausências trabalhistas por doença entre quem praticavam duchas frias, não se observaram mudanças significativas na resposta inmune imediata.
Um dos achados mais surpreendentes foi o efeito das imersões em água fria sobre a inflamación. A diferença do que se costuma afirmar, os banhos em água gelada não reduzem a inflamación, sina que geram "aumentos relevantes" nela, tanto imediatamente depois como uma hora mais tarde, como resposta adaptativa similar à que ocorre depois do exercício intenso.
Vale a pena o despertador às seis e as duchas de água fria?
Portanto, conquanto submergir-se em água gelada pode ser uma experiência estimulante, não dever-se-ia considerar uma panacea para a saúde. E se o objectivo é simplesmente melhorar a produtividade, uma ducha rápida —sem importar a temperatura— provavelmente consiga o mesmo resultado em menos tempo.
E daí dizer tem do tema de levantar-se às seis, pois isto pode ser beneficioso se és uma pessoa que consegue se deitar cedo e dormir ao menos entre 7-8 horas diárias. O que não pode ser é que não respeites os ritmos circadianos nem o descanso com tal de entrar no molde do que madruga muito, enfrenta melhor no dia. A energia vem de um bom descanso e uma melhor alimentação nunca de ser capaz de batallar contra teu sonho e lhe ganhar a guerra ao despertador.