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Comprar avaliações falsas na Amazon: "É algo quase obrigatório para os novos vendedores"

Muitos fabricantes, sobretudo chineses, pagam a utilizadores por avaliações positivas de seus produtos para melhorar a sua visibilidade no Aliexpress ou no Ebay

Una persona realiza una compra online
Una persona realiza una compra online

A concorrência nas principais plataformas de comércio electrónico é feroz. A variedade de preços e de produtos dentro de uma mesma categoria na Amazon, Aliexpress ou Ebay é assustadora. Isto coloca os clientes num estado de indecisão que, em muitas ocasiões, se resolve em função da experiência de outros utilizadores. Os fabricantes sabem disso e, por isso, muitos deles optam por pagar a pessoas para que façam comentários positivos dos seus produtos. Com isto conseguem se posicionar dentro das e-commerce e melhorar as suas vendas.

Em troca, estes comentaristas ganham coisas grátis e um pequeno bónus, algo muito atraente em tempos de crise como a actual. No entanto, estas práticas preocupam as grandes plataformas, que, apesar dos seus esforços para as combater, vêem como proliferam grupos organizados nas redes sociais para levar a cabo estas técnicas tão questionáveis. Porém, a compra de reviews é algo "praticamente obrigatório" para empresas que lançam novos produtos para competir nestas plataformas, garante à Consumidor Global Víctor García, consultor especializado em marketplace.

Como identificar comentários falsos

Este especialista sublinha que o padrão das avaliações falsas é bastante simples de detectar. "99,9% das pessoas não coloca um vídeo no comentário. É dificil fazê-lo e muitas vezes a app da Amazon falha à hora de carregá-lo. O mesmo com as imagens. Se uma review tem 3 ou 4 parágrafos, vídeos e muitas imagens… cheira a falso", assegura.

García também apela ao senso comum. "Se gostaste, quando muito, escreves uma frase e pouco mais, não entras em tanto detalhe", explica. Para ter uma visão mais real da experiência de outros utilizadores, um dos seus conselhos é ordenar as opiniões por data, em vez de por relevância, dado que este último aspecto também se pode manipular. Além disso, as avaliações negativas tendem a ter mais valor porque um consumidor médio vai extender o prazo quando uma compra não for satisfatória. No caso da Amazon, outra recomendação deste especialista é a de examinar as dúvidas dos clientes. "É o que menos se manipula. Muitas são reais e também as respostas de outros utilizadores. Além disso, podes comprovar se a empresa que vende o produto dá um bom serviço de atendimento ao cliente", acrescenta.

Grupos organizados em redes sociais

A compra de avaliações falsas organiza-se, sobretudo, através das redes sociais. Este meio infiltrou-se em dois grupos de Facebook que põem em contacto fabricantes e falsos comentaristas e o slogan é claro. "Quando entras neste mundo aceitas normas não escritas, levas produto grátis em troca de uma review de cinco estrelas. Evidentemente não é uma compra privada particular, se o produto deixa de funcionar ou não era o esperado, podes contactar com o agente para que te diga se se pode fazer algo, mas nem sempre é possível. Isto tem que estar muito claro", alertam as normas do grupo Melhores Revisores de Espanha-Amazon Spain Reviews, que já foi eliminado e que contava com mais de 16.000 membros. Não entanto, com uma simples pesquisa entre os grupos de Facebook podem-se encontrar montes de comunidades similares e vigentes.

A maior parte das publicações nestes grupos são de fabricantes que oferecem produtos para conseguir avaliações positivas na Amazon. Há todo o tipo de artigos, desde relógios inteligentes até panelas. Em geral, o benefício é obter o produto grátis --que depois se pode revender-- e remunerações que rondam os três euros por comentário. A Consumidor Global pôs-se em contacto com vários destes provedores e a resposta foi sempre a mesma: "Partilha tua conta de Paypal e teu perfil de Amazon". Sobre isto último, a empresa norte-americana tem uma lista dos comentaristas mais valorizados dentro de sua plataforma e, evidentemente, estes são os mais cotados pelos fabricantes.

Um dos melhores 'reviewers' de Espanha

David Cobos é especialista em marketing on-line e chegou a estar no top 20 dos comentaristas mais valorizados na Amazon. "Existe uma concorrência brutal entre vendedores para dar visibilidade ao seu produto acima do resto. Conseguir um bom posicionamento na Amazon, Ebay ou Aliexpress, onde se oferecem milhões de produtos similares, é fundamental para conseguir vendas", garante.

Sobre compra-a de avaliações, Cobos sublinha que "alguns vendedores recorrem a estas práticas pouco éticas" e revela que "quase que diariamente" comerciantes asiáticos que vendem através de Amazon se põem em contacto com ele. "Sabem que o peso destas opiniões --as dos melhor posicionados no ranking-- pode repercutir mais rapidamente na valoração do produto e procuram tirar proveito disso", afirma.

As estratégias dos gigantes do 'e-commerce'

Fontes da Amazon asseguram a este meio que o sistema de avaliações é "fundamental para a sua reputação" e também para que os utilizadores possam fazer compras com informação precisa. Para isso, todas as semanas reevem-se cerca de 10 milhões de comentários a nível global na plataforma. Quanto ao volume de reviews falsas que detetam, aludem à sua política interna para não revelar valores, embora apontem  que "é uma percentagem muito baixa em relação ao total das publicadas". Mas, apesar dos seus esforços, em setembro passado tiveram que eliminar 20.000 avaliações falsas no Reino Unido depois de uma investigação do Financial Times que revelou este tipo de fraude por parte de alguns utilizadores.

Da plataforma avisam de que a violação das políticas da empresa, que proíbe totalmente a remuneração por comentários, pode implicar para os fabricantes desde o cancelamento da sua conta até, chegado o caso, à adopção de medidas legais.

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