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Os espanhóis sofrem o sablazo aduaneiro por comprar nos 'e-commerce' britânicos

Os produtos de Reino Unido agora são importações e os controles dantes de entrar no país atrasam os envios e molestam a vendedores e utentes

Uma pessoa faz uma compra online num e-commerce / PIXABAY
Uma pessoa faz uma compra online num e-commerce / PIXABAY

British Foods é uma empresa que vende produtos britânicos em Espanha. Tem um supermercado em Lloret de Mar, distribui a hotéis, bares e restaurantes de toda a Costa Brava e também dispõe de canal de venda on-line para particulares. "Levamos um mês sem receber mercadoria desde Inglaterra porque está todo parado na aduana. Dantes disto os pedidos chegavam numa semana", lamenta numa conversa com Consumidor Global Samantha Walde, administradora da companhia. E os problemas não ficam aí. "O envio de um palé de género desde Reino Unido dantes custava 150 euros e agora 700 euros. Vamos ter que subir os preços porque não podemos manter com estes custos de importação", acrescenta Walde.

Estas são algumas das consequências directas do Brexit que pouco a pouco começam a se fazer tangíveis. Apesar de que a saída efectiva da União Européia teve lugar em fevereiro de 2020, os efeitos concretos sobre os vendedores e os consumidores começaram o 1 de janeiro deste ano. Nessa data terminou o período de transição durante o qual se seguia aplicando no Reino Unido a legislação comunitária relativa ao mercado interior e à união aduaneira. "Os clientes espanhóis que compram algo on-line em Reino Unido agora estão a fazer uma importação e isso supõe um processo mais complicado para o utente", adverte Fernando Matesanz, experiente em IVA e director de Spanish Vat Services.

Atraso nos envios

Que as compras ao país britânico sejam agora consideradas importações --em lugar de aquisições intracomunitarias-- implica um aumento dos atrasos nos prazos de entrega. Estes se devem, principalmente, a que os produtos procedentes de ali estão sujeitos a trâmites aduaneiros aos que dantes não se viam submetidos. De facto, nas redes sociais começam a ver-se a cada vez mais comentários de utentes afectados. "Levo dez dias esperando um pacote que chegou --ou isso diz o rastreamento do envio-- o 16 de janeiro a Espanha desde o Reino Unido", se queixa Isabel (@minisashas) uma tuitera que exigia explicações a Correios .

Os novos procedimentos nas aduanas têm que ver com os controles de segurança e com as inspecções sanitárias que se realizam a todas as mercadorias importadas. As leis britânicas e européias nestes momentos são parecidas em matéria de controle fitossanitário e de segurança porque vêm de um longo período com um regulamento comum. No entanto, "o problema é que de aqui a uns anos estas serão mais dispares e isso dificultará ainda mais o intercâmbio de bens entre o Reino Unido e a UE", considera José María Viñals, experiente em comércio internacional e sócio do despacho Squire Patton Boggs.

Aumento dos preços

Outro inconveniente do Brexit é o incremento dos preços para os utentes da União Européia que comprem nas lojas on-line britânicas. Isto se deve a que as empresas de transportadora --como Correios, DHL ou Fedex, por exemplo-- deverão gerir na aduana uma série de pagamentos derivados da importação, como são os relativos ao IVA –que em função do bem será de 21%, 10% ou 4%-- e aos trâmites aduaneiros. As companhias de transportadora transladam esse custo ao utente final e ademais cobram-lhe uma comissão por realizar essa gestão. Para fazer-se uma ideia, as tarifas de Correios para estes trâmites são, por um lado, 5,88 euros só pela apresentação na aduana. Mas a isso há que acrescentar 19,03 euros pela tramitação do Documento Único Administrativo (DUA) de importação simplificado --que se realiza em caso que o valor da mercadoria seja inferior a 150 euros--. Em mudança, se o produto custa mais de 150 euros, ou está sujeito a impostos especiais ou controles de segurança, será necessário gerir o DUA ordinário, algo pelo que Correios cobra 24,62 euros.

Cola de camiones en un puerto de carga en Reino Unido / EP
Bicha de camiões num porto de ónus em Reino Unido / EP

Todos estes sobrecostes têm apanhado por surpresa a muitos utentes. "Sabíamos que os trâmites se iam a encarecer, mas pensávamos que não tanto", relata Walde, a administradora de British Foods. De facto, a situação não pode chegar em pior momento. "Temos a trabalhadores em ERTE pelo Covid-19 e agora com isto não sabemos se teremos que fechar. Se a coisa não se anima igual não podemos durar mais de seis meses ou um ano", confessa a britânica, que leva 15 anos neste negócio.

Mudanças para os que reexportan produtos

Um dos aspectos positivos do acordo comercial entre Londres e Bruxelas do 24 de dezembro de 2020 é que não terá impostos para a comercialização de produtos entre ambas economias. No entanto, existe um ponto cego que pode afectar àquelas lojas on-line que se dedicam à reexportación de produtos que não procedem da UE. "A mercadoria de uma empresa espanhola que compra tomates em Marrocos e depois os vende em Reino Unido estará submetida aos impostos que Marrocos tem com os britânicos", explica o especialista em comércio internacional Viñals.

Sobre isso, muitas empresas que reexportan a Reino Unido produtos de fora da UE mudarão sua corrente de produção para fazer que sua mercadoria seja considerada uma importação da União Européia. "No caso dos tomates, por exemplo, o empresário espanhol que os vende de Marrocos agora fá-lhes-á uma grande transformação, como os converter em tomate fritado, para que esse produto se possa considerar da UE e não ter que pagar impostos em Reino Unido", adverte este experiente.

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