"Eu era um desses que nunca iam a nenhuma parte sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um bastão; se pudesse voltar a viver, viajaria mais leve", reza o poema Instantes, atribuído a Jorge Luis Borges.
E visto o que se viu no Caminho de Santiago, muitos tomaram as sábias palavras do escritor argentino ao pé da letra, pois cada vez mais são os peregrinos que optam por contratar os serviços de Correios, ou de qualquer outra agência, para fazer esta famosa rota sem ter que carregar a mochila às costas.
O Caminho mais leve
O serviço de Correios mais procurado no Caminho de Santiago é o Paq Mochila. "Recolhemos a bagagem no hotel onde passaram a noite à primeira hora da manhã e entregamos-a no alojamento seguinte antes das duas e meia da tarde", explica Charo Calvo, responsável pelo El Camino con Correos, que afirma que no momento movimentam cerca de 1.000 mochilas por dia.
"Já temos alguma idade e é muito duro fazê-lo com mochila", expõe à Consumidor Global Luzia, uma peregrina que pela quarta vez faz a pé alguma das Rotas Jacobeas com Encarna, Alejandro e José, todos recém entrados nos sesentena. "A verdade é que o serviço funciona muito bem e reduz o desgaste das articulações. Andar com qualidade não tem preço", acrescenta a peregrina, que confessa que todas as noites, antes de ir a dormir, envia um e-mail ao profissional de Correios com o alojamento do dia seguinte para se assegurar de que todo dê certo.
Quanto custa?
A verdadei é que a empresa estatal cobre quase a totalidade dos principais Caminhos de Santiago --o francês, o português, o português da costa, o primitivo, o do norte, o inglês, o nortenho e o que vai para Fisterra e Muxía-- e cada percurso tem a sua tarifa, ainda que o preço médio seja de 4 e 5 euros por etapa, e o peso máximo da mochila é de 15 quilos.
A rota que Luzia, Encarna, Alejandro e José estão prestes a concluir, que vai de Navia (Astúrias) a Villalba (Galiza), tem120 quilómetros divididos em oito etapas e tem um custo total por mala de 32 euros, ou, seja, 4 euros por etapa. "A primeira vez que contratamos o serviço era bastante mais barato. Há um par de anos subiram o preço, mas ainda assim o próximo verão vamos repetir com certeza", aponta Luzia, que explica que ao ser dois casais juntam a roupa em duas mochilas e poupam uns euros.
Alternativas aos Correios
Ainda que a empresa estatal ofereça a cobertura mais ampla quanto a rotas, há outras agências que oferecem um serviço muito semelhante. A Caminofácil, por exemplo, cobra 27 euros por transportar uma mochila nas cinco etapas que separam Sarria de Santiago, algo mais que o que custa com Correios (20 euros) pelo mesmo trecho.
Jacotrans (Caminho francês), Pilbeo (francês e português) e Tuitrans (português) também oferecem o transporte de mochilas, um serviço que, no geral, requer de certa previsão por parte dos peregrinos, que devem informar as agências da rota que farão e dos lugares nos quais pernoitarão. "Se alguém prefere improvisar, pode nos avisar até às nove da noite anterior", dizem dos Correios.
Outros serviços
O Paq Bicicleta e o Peregrino são as outras opções que oferece Correios aos ciclistas e caminhantes. O Paq Peregrino, que consiste em enviar a mala no início ou no final do percurso, "tem uma alta procura entre os estrangeiros, que costumavam ser 55% dos que faziam o Caminho, mas este ano não vieram", explica Calvo, que afirma que o Paq Bicicleta, que consiste no envio dos velocípedos no ponto de partida e após volta a casa, é o segundo mais procurado.
A julgar pelo grande volume de envios que realiza Correios nos seus diferentes serviços, tudo indica que os espanhóis se apoderaram do Caminho de Santiago este verão. Será que leram o poema de Borges? "Se pudesse viver novamente a minha vida (…) faria mais viagens, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios, e iria a mais lugares onde nunca fui".