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O site de sapatos Savose continua ativo: "Não entendo como continuam a enganar"
Os comentários negativos e as queixas sobre esta empresa abundam na Internet, mas isso não impede que muitos clientes caiam na armadilha deste esquema.
"Não entendo como continuam a enganar se pelo que vejo têm alguma que outra denúncia posta", reflete Marta Pina. Ela é uma mais das vítimas do site de Savose, uma empresa que comercializa roupa e calçado variado, desde sandalias a sneakers passando por botas e botins. A página parece segura: está bem organizada, há uma secção de perguntas frequentes, um telefone e um email de contacto e oferecem diversas modalidades de pagamento. A realidade do que há por detrás é muito diferente.
Pina realizou um pedido há já um mês, uma espera mais prolongada do que o estipulado. Um inesperado dia recebeu uma mensagem na qual a empresa afirmava que, ao não ter localizado a cliente, devolviam o pedido à China, de onde, supostamente, rovem. "Claro, é mais económico que volte para a China que me ligar antes por telefone", ironiza a afetada quem já fez uma denúncia. Uma denúncia mais pára Savose, no entanto, o website continua aberto.
Sem ténis e sem dinheiro
Antoni Bisquert comprou uns ténis por um valor de 49 euros. "Em poucos dias úteis ia receber a encomenda, mas passadas algumas semanas, que considerei suficientes, reclamei", disse o utilizador à Consumidor Global. "No entanto, nada foi resolvido, fiquei sem os meus ténis e sem o meu dinheiro", acrescenta.
"Entendi-o como uma fraude e, da minha parte, pude verificar que a Savose era repetidamente reconhecida como fraudulenta", diz Bisquert. A verdade é que nas redes sociais bem como em fóruns de avaliações como Trustpilot, os comentários negativos abundam. A maioria dos clientes utiliza palavras como "fraude" nas suas críticas.
"Definitivamente são uns ladrões"
Anne Cardinal, após esperar mais de um mês, na página de rastreamento da Savose indicaram-lhe que o seu pedido estava entregue. "Ninguém me tinha entregado nada e depois enviaram-me uma mensagem na qual informavam que não se pode realizar a entrega porque não me localizaram em casa. Depois mudaram e disseram que o meu endereço estava a meio", explica a utilizadora, que afirma que em nenhum momento lhe enviaram um e-mail ou fizeram uma chamada telefónica para a avisar.
"Pergunto-me se é uma loja legítima. No início quis dar-lhes o benefício da dúvida, mas não parecem responder nem ajudar. Sinto-me imbecil, esperando sem comprar outros sapatos, que me faziam falta", exclama Cardinal. Para Concha Díaz, "definitivamente são uns ladrões". A ela também não lhe chegou o seu pedido depois de vários meses de espera.
Então, é uma empresa fraudulenta?
Segundo o site da empresa, o titular é Pedro Savose, mas o nome comercial da companhia é "Ecom Boost Scaling LLC". O fundador da mesma parece ser Jinhong Wang, um cidadão que, no seu Linkedin, diz viver na cidade valênciana de Puzol.
As suspeitas aumentam quando lemos que a empresa afirma enviar encomendas a partir dos seus "armazéns e fábricas associadas" localizados na Calle Caminas, 64, Puzol. No entanto, uma rápida consulta ao Google Maps revela que também aqui há algo de estranho: neste local existe uma casa de dois andares, não uma fábrica, armazém ou qualquer outra estrutura que sugira actividades de produção ou logística de calçado.
Mais suspeitas
Na secção de perguntas frequentes, o tom passa de pretensiosamente convincente a delirante. A Savose afirma ter escritórios físicos em Barcelona e Madrid, "a partir dos quais trabalham os nossos designers de têxteis de moda, os principais criadores de sítios Web e a equipa de marketing".
Afirmam também que alguns dos seus trabalhadores trabalham a partir de casa e que empregam "centenas de espanhóis durante estes tempos financeiros difíceis para nos ajudarem em coisas como o serviço ao cliente, cancelamentos de inscrições, consultas nas redes sociais, publicações, produção de conteúdos, modelação e muito mais. Por isso, saibam que a sua compra é importante e apoiem os espanhóis que trabalham arduamente", afirmam.
Como verificar se um website é uma fraude?
Para saber como verificar se um website é uma fraude, este meio consultou Javier Fraile, da equipa de pesquisadores de Proofpoint, uma empresa líder em cibersegurança centrada em deter ameaças dirigidas, proteger dados e fazer com que os utilizadores sejam mais resistentes aos ciberataques. "Para evitar estes riscos, a consciencialização em matéria de cibersegurança é a melhor arma dos compradores", destaca.
"Como conselhos de segurança, recomenda-se verificar a autenticidade da plataforma ou vendedor, ter cuidado com os sites fraudulentos que imitam a aparência das reais, ler opiniões de outros compradores, utilizar senhas seguras e diferentes para cada plataforma", argumenta Fraile. "Também é aconselhável não clicar em links suspeitos ou em emails não solicitados, evitar as redes wifi de acesso livre e manter actualizado o software de segurança do dispositivo utilizado para realizar a compra", conclui.
Sites sob o controle de Jinhong Wang
Savose poderia não ser o único site supostamente fraudulento sob o controle de Jinhong Wang, mas sim que poderia fazer parte de uma rede. Este meio verificou que na calzatemujer.com, modissimashop.com e iktcosmetica.com, o texto que aparece nas perguntas frequentes é exactamente igual. Isso faz pensar que o seu criador simplesmente o copiou e colou. Ademais, a nível de desenho, as três páginas têm um aspecto muito similar.
Como se isso não bastasse, a informação que aparece nas FAQ da Savose é também replicada, de forma idêntica, em angelus.store e omali.es, dois sites que parecem estar ainda em funcionamento, mas em crise: na página inicial, diz que "Devido à Covid-19, somos obrigados a fechar a nossa loja. Compre os nossos modelos originais com 50% de desconto + envio gratuito!
A Consumidor Global tentou contactar com a Savose para perguntar por estas supostas irregularidades mas, até ao termo desta reportagem, não obteve resposta. Este meio também tem perguntado à Polícia Nacional sobre a razão de porque continua aberta esta página, mas também não recebeu nenhuma resposta.
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