A de que os jovens são os que mais se preocupam pela sustentabilidade é uma ideia muito estendida. Afinal de contas, são eles (e não seus pais nem seus avôs) os que, por uma pura questão biológica, viverão mais anos num planeta que a mudança climática sacudirá: deverão enfrentar-se a temperaturas mais elevadas, a fenómenos meteorológicos extremos e, em alguns casos, à crescente escassez de recursos, o que obrigará a estabelecer novas pautas para comer ou para viajar.
Ademais, a figura de Greta Thunberg tem contribuído a reforçar essa percepção nos últimos anos. Sua 'greve pelo clima' inspirou o movimento global Fridays For Future, que mobilizou a milhares de estudantes em todo mundo e pôs o foco na urgência da acção climática. Com seu icónico How dare you!, Thunberg se erigió em 2019 uma voz poderosa que parecia falar por toda uma geração.
A preocupação pela sustentabilidade mingua
No entanto, ainda que em seu momento todo foram elogios, a audiência à que Thunberg interpeló faz já seis anos não tem actuado com a contundência que a ativista (e boa parte da comunidade científica) exigia. Em 2021, Netflix estreou Dom't look up, e desde então muitos seguem olhando para outro lado. Neste contexto, a preocupação pela sustentabilidade entre os jovens tem descido de forma muito notável nos últimos anos, passando de 45% de 2019 ao 23% em 2024, segundo um estudo de Clickoala citado por EFE.
A Universitat Oberta de Cataluña (UOC) faz-se eco de que o mesmo estudo reflete que, da faixa de pessoas maiores de 55 anos, o 49% está preocupado pela sustentabilidade. "Um facto que contradiz a crença comum de que os jovens têm maior consciência meio ambiental que os maiores e que evidência uma brecha generacional num tema no que intervêm muitos factores", indicam.
Percepção errónea
Baixo o ponto de vista de Carmen Pacheco Bernal, professora dos Estudos de Economia e Empresa da Universitat Oberta de Cataluña (UOC) e diretora do grau de Marketing e Investigação de Mercados, "pode que exista uma percepção errónea de que as pessoas maiores não estão interessadas na sustentabilidade ou que são menos propensas a modificar seus hábitos de consumo em favor do medioambiente".
No entanto, recorda que "muitas delas viveram em épocas nas que a reutilização, a poupança e o consumo consciente eram práticas habituais", pelo que, ainda que conceitos como zero waste ou eco-friendly lhes resultem alheios, conhecem perfeitamente em que consiste a circularidad.
Limitações económicas
Neus Costumar, professora colaboradora dos Estudos de Economia e Empresa da UOC e pesquisadora do grupo i2TIC, aponta um dado finque: "Ainda que os jovens defendem os ideais ecológicos, suas limitações económicas e a conveniência das opções não sustentáveis muitas vezes obstaculizan seu compromisso".
Isto é, que seria a falta de dinheiro a que, em muitas ocasiões, lhes leva a comprar roupa em Shein ou Temu em vez de em empresas mais responsáveis; ou a adquirir um carro contaminante de segunda mão porque não podem se permitir um melhor. Ademais, Costumar acha que "o activismo que mantêm nas redes sociais não sempre se reflete em seu comportamento".