Carlos Baixeras, vizinho de Vic (Barcelona), carregava junto com dois amigos caixas com alimentos e material de limpeza na bagageira da Citroën Jumper, alugada à sucursal da Sixt em L'Hospitalet.
Eram as oito da manhã de 8 de novembro quando começaram a percorrer os mais de 700 quilómetros até Algemesí, um dos municípios valencianos mais afectados pela queda de frio mais mortífera do país, ocorrida a 29 de outubro. No entanto, o gesto altruísta de Baixeras acabou num litígio com a empresa de aluguer de automóveis.
Um mail da Sixt
“Só utilizamos a carrinha para logística e entregas em grandes centros de distribuição, como centros desportivos ou zonas industriais, tendo um cuidado extremo com o veículo”, sublinha o voluntário, que contratou um seguro completo com franquia mínima - por 150 euros - e aumentou a quilometragem para 800 quilómetros para fazer face à viagem. O pagamento inicial foi de 240,46 euros.
Primeiras fissuras
“Foi detectado um risco de 10 centímetros no rebordo da porta da frente do lado do condutor”, informou a empresa. Baixeras, surpreendido, verificou as fotografias anexadas à mensagem. O alegado dano era quase impercetível e, além disso, num local pouco visível, o que sugeria uma inspeção extremamente minuciosa.
Na sua resposta ao relatório, a parte lesada foi direta. “Não vimos os danos quando levantámos ou entregámos o veículo, nem acreditamos que os tenhamos causado. Somos três particulares que alugaram a carrinha para uma ação de solidariedade, utilizando o veículo com extremo cuidado. Por isso, agradecíamos que fossem compreensivos e não fizessem cobranças extraordinárias”, respondeu Baixeras à equipa da Sixt numa outra mensagem.
Um excesso de quilometragem
Apesar da sua comunicação, em 12 de novembro, Baixeras recebeu uma fatura suplementar de 116,50 euros. A maior parte do montante correspondia a um suplemento por excesso de quilometragem. O conta-quilómetros indicava que tinham percorrido 1041 quilómetros, ou seja, 241 quilómetros a mais do que o permitido, o que gerou um encargo de 67,48 euros.
“Informámo-lo de que a rubrica da sua fatura se refere a um suplemento por excesso de quilometragem”, esclarece a empresa ao cliente. “O veículo foi devolvido com 7.067 quilómetros, mas aceitei este encargo com resignação”, conta Baixeras, que alguns dias mais tarde recebeu uma resposta ao seu pedido de não assumir a responsabilidade pelos alegados danos no veículo.
A incongruência da Sixt
Em 17 de novembro, chegou um e-mail à caixa de correio eletrónico do Baixeras confirmando a ausência de danos e a inexistência de encargos adicionais. “Depois de analisar cuidadosamente os seus comentários e os detalhes do caso, temos o prazer de o informar que não haverá encargos adicionais relacionados com este caso”, escreveu a empresa num e-mail.
Mas apenas um mês depois, a 27 de dezembro, a empresa mudou drasticamente a sua posição. Numa nova carta, reclamam 179 euros por alegados pontos negros junto à roda traseira esquerda e danos na asa traseira esquerda, detectados de acordo com uma peritagem efectuada a 24 de dezembro, 45 dias após a devolução.
Sixt não cede
Baixeras disse à Consumidor Global que respondeu imediatamente à empresa, negando a responsabilidade. “Estão a cometer um duplo erro e peço-lhes que rectifiquem a sua reclamação. Em primeiro lugar, fiz um seguro contra todos os riscos e, em segundo lugar, informaram-me por e-mail que não iriam reclamar nada pelos alegados danos na lateral da porta, que eu também não admiti ter feito”, escreveu.
Mas Sixt não cedeu. A 10 de janeiro, a companhia planea carregar os 179 euros no cartão do cliente.
Um capítulo à parte: a caução retida
Um capítulo aparte foi a libertação da caução de 220,33 euros. Segundo a Sixt, a libertação foi gerada a 11 de novembro, 24 horas após a devolução. No entanto, o banco de Baixeras indicou que não tinha registro algum de dita transacção.
Ante a insistencia, a companhia voltou a responder para explicar-lhe que qualquer retenção desaparece automaticamente depois de 28 dias. Este argumento continua sem convencer Baixeras, que ainda não consegue recuperar o seu dinheiro.
É uma prática "abusiva"
Para Iván Rodríguez, advogado do escritório Abogado em Cádiz e especialista em direitos do consumidor, o caso evidência uma prática "abusiva" para o consumidor. "Se já tinha por escrito que não tinha danos no carro, o mais lógico seria ir ao escritório de consumo", sugere. Ademais, alerta de que, neste tipo de disputas, é chave evitar que a dívida seja registada em listas de incumprimento como ASNEF, algo que poderia prejudicar Baixeras no futuro.
O advogado acrescenta que, se o montante já tiver sido cobrado, a única via de ação que resta é recorrer à justiça através de uma ordem de pagamento, um instrumento para créditos inferiores a 2.000 euros. “Por todas estas razões, para além de fazer as críticas online que considero adequadas, vou denunciar os factos aos organismos de defesa do consumidor e, se me forem cobrados os montantes, vou pedir a sua restituição em tribunal”, conclui Baixeras.
A resposta da Sixt
A Consumidor Global pôs-se em contacto com a Sixt para conhecer a sua versão dos factos ocorridos. No entanto, a empresa negou-se a realizar declarações a respeito.
"Em linha com a nossa política de confidencialidade, lamentamos informar que não estamos em posição de divulgar detalhes específicos relacionados com os nossos clientes ou os seus expedientes a terceiros", explicam da empresa. "Este compromisso assegura o respeito e a protecção da privacidade de todas as partes envolvidas. Neste caso em particular, podemos confirmar que se trata de um expediente fechado", finaliza.