O peixe é um pilar fundamental numa dieta equilibrada e saudável, especialmente pelos seus benefícios cardiovasculares. No entanto, nem todas as espécies são igualmente seguras. Os peixes de grande tamanho, como o atum, podem conter níveis preocupantes de mercúrio, inclusive na sua versão enlatada.
Um recente estudo da organização BLOOM, realizado durante 18 meses, revelou uma realidade inquietante: todas as latas de atum analisadas no último exercício de vendas em Espanha continham mercúrio. A investigação abarcou 148 mostras da Alemanha, Reino Unido, Espanha, França e Itália, situando os consumidores espanhóis entre os que mais mercurio ingerem através deste produto.
Como escolher a lata de atum com menos mercúrio no Supermercado?
O atum é um dos peixe mais populares em Espanha pela sua riqueza em ácidos gordos, omega-3, selenio, fósforo e vitaminas. A sua versão enlatada é prática e versátil para saladas, salgados e massas. No entanto, a preocupação pelo seu conteúdo de mercúrio é crescente.
A nutricionista Leticia Zoé recomenda um truque simples para escolher opções com menor contido deste metal: rever a etiqueta da embalagem.
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Se só indica "atum", costuma pertencer à espécie Katsuwonus pelamis (atum listado), que acumula menos mercúrio.
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Se aparece "atum claro", geralmente é Thunnus albacares (yellowfin), uma espécie maior com maior concentração de mercúrio.
Para assegurar-se, convém rever a letra pequena da embalagem, lata ou inclusive consultar o site do fabricante no teu telemóvel enquanto passeias pelos corredores de supermercado antes de passar pela caixa.
Níveis preocupantes nas latas analisadas de 2024
As análises realizadas num laboratório independente confirmaram que 100% das latas continham mercúrio. Ainda mais alarmante, 57% superava o limite mais estrito para o peixe, fixado em 0,3 mg/kg.
Das 30 latas espanholas analisadas, uma da marca Carrefour, comprada em Valencia, registou 2,5 mg/kg de mercúrio, superando oito vezes o limite permitido em espécies mais reguladas.
1. Latas que mais níveis elevados tinham
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Atum claro em azeite (Carrefour): 1,94 - 2,07 mg/kg.
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Bonito do norte em azeite virgen extra (Carrefour): 1,01 mg/kg.
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Uma lata da marca Petit Navire (França): 3,85 mg/kg.
Por outro lado, 16 latas de Carrefour e Mercadona tinham níveis inferiores a 0,3 mg/kg.
2. As opções com menor mercúrio foram
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Atum claro sem azeite ao natural (Calvo), vendido no Carrefour Valencia.
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Atum em óleo de girassol (marca não especificada), no Carrefour Madrid.
Os perigos do mercúrio no organismo
O mercúrio é um metal pesado que se acumula na corrente alimentar, afectando mais a peixes grandes e longos. A sua forma mais tóxica, o metilmercúrio, pode ter graves consequências para a saúde.
Por isso, organismos de saúde recomendam limitar o consumo de certas espécies, especialmente em grávidas e crianças, que são mais vulneráveis aos seus efeitos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o mercúrio entre os dez poluentes mais perigosos para a saúde pública, junto com o chumbo, o arsénico e o amianto. No entanto, segundo a BLOOM, desde os anos 70 não se tomaram medidas contundentes para reduzir a sua presença nos alimentos.
Um problema impulsionado pela indústria alimentar
O sector pesqueiro tem conseguido estabelecer uma ombreira de mercúrio "aceitável" para o atum que é três vezes superior ao permitido em outras espécies, como o bacalhau. Segundo a ONG, esta ombreira responde mais a interesses económicos que à protecção dos consumidores.
O mercúrio, presente em grandes quantidades nos oceanos devido à poluição industrial, acumula-se nos predadores marinhos de grande tamanho. Como o atum se encontra na cume da cadeia alimentar, concentra os metais pesados dos peixes mais pequenos que consome, multiplicando o seu nível de contaminação.
Por este motivo, nalguns países europeus implementaram-se advertências para as grávidas sobre os riscos de consumir peixes grandes, inclusive colocando cartazes nos restaurantes.
Como reduzir o risco sem renunciar ao peixe?
O atum é uma fonte valiosa de nutrientes, mas é essencial consumí-lo com precaução. Algumas estratégias para reduzir a exposição ao mercúrio incluem:
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Escolher espécies com menor acumulação de mercúrio: Optar por atum listado (Katsuwonus pelamis) em lugar de atum claro (Thunnus albacares).
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Consultar o etiquetado: Rever a espécie específica e evitar produtos que não a indiquem.
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Diversificar o consumo de peixe: Incluir opções com menor contido de mercúrio, como sardinas, cavala, pescada ou salmão.
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Moderar a frequência de consumo: Especialmente em crianças e mulheres grávidas, evitando um consumo excessivo.
O achado de mercúrio em todas as latas de atum analisadas põe em evidência um problema de saúde pública que não se pode ignorar. Apesar dos seus benefícios nutricionais, o atum enlatado deve consumir-se com conhecimento e moderação.
Ler as etiquetas, escolher variedades com menor contido de mercúrio e limitar a sua ingestão são medidas chave para seguir desfrutando do peixe sem comprometer a saúde.