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150 variedades e 27 denominações de origem protegidas: a riqueza dos queijos espanhóis

Nuria María Arribas, diretora-geral da Organización Interprofesional Láctea (InLac), explica os benefícios deste produto nacional que está presente na nossa alimentação desde tempos imemoriais.

Juan Manuel Del Olmo

Queijos diferentes / FREEPIK - azerbaijan_stockers

No século X, antes de que Alfonso VI conquistasse Toledo aos muçulmanos ou de que nascesse o Cid Campeador, um monge de um mosteiros muito próximo a León escreveu um texto que passou à história pela sua valiosa linguagem: usa um latím nno qual já aparecem palavras românicas, provando assim a evolução para o dialeto asturiano. É conhecido como a Nodicia de Kesos, e é, na realidade, um registo diário: um simples inventário dos queijos que um frade tinha consumido.

Sabor e língua unidos. Às vezes a história tem essas jogadas. Assim, o queijo espanhol é um alimento com uma larguísima tradição, antigo e moderno, capaz de protagonizar um almoço na taberna de uma pequena aldeia ou num jantar chic de uma azotea de Madrid, versátil e perfeito para partilhar. No entanto, muitos espanhóis consomem muito poucas variedades. Desde a Organização Interprofesional Láctea (InLac) querem que o consumidor amplie os seus horizontes e, como o monge leonés do século X, expandam a sua lista.

Potenciar queijos 'cobertos'

Nuria María Arribas é a diretora gerente de Inlac, entidade que realizou um estudo com Ipsos que reflete que a maioria dos espanhóis preferem os queijos nacionais, mas concentrado em regiões particulares. Assim, a entidade considera que há margem de melhora na comunicação e potencialização de queijos de outras regiões. E há alguns cobertos.

Um queijo com vinho / QUESOSDEMURCIA.COM

“Pela peculiaridade da sua produção, poderia destacar a Denominação de Origem Protegida (DOP) Queijos de Múrcia em Vinho, que são especiais porque a casca é lavada com vinho tinto (das DOs de Jumilla, Yecla e Bullas)”, diz Arribas à Consumidor Global.

Queijos azuis

"Também destacaria os queijos da zona dos Picos de Europa, já que ali se produzem os queijos azuis mais famosos do mundo: o Gamonéu, o Valdeón ou o popular queijo Cabrales. O seu principal segredo é que se escondem nos pastos dessas altas montanhas que alimentam o gado e amadurecem em grutas”, acrescenta o especialista da Inlac.

Quanto à produção anual, Espanha já ultrapassa as 450.000 toneladas. As comunidades onde mais queijo se produzem são Castilla-La Mancha e Castilla e Leão seguidas de Galiza e Astúrias. "Por isso o estudo da Ipsos destaca a popularidade que têm entre os consumidores os queijos asturianos, manchegos e galegos, mas também destacaria a produção de queijos que têm Extremadura, Cantabria, País Basco, Cataluña e Navarra, que são comunidades autónomas com queijos como a DOP Torta do Casar, a DOP de queijos de nata de Cantabria, a DOP Idiazábal, o queijo do Alto Urgell, da Cerdaña; e o Roncal".

Torta del casar / TORTADELCASAR.EU

Sensibilização para a fraude

Arribas considera ainda que o consumidor médio está suficientemente sensibilizado para a proteção e promoção dos queijos espanhóis face a possíveis fraudes ou imitações, mas “não tanto como deveria”.

“Como resultado deste estudo da Ipsos, verificámos que 4 em cada 10 espanhóis ainda desconhecem estes selos de qualidade diferenciada, tanto DOP como IGP, e o seu significado: estes selos indicam que o produto foi produzido numa área específica, com caraterísticas particulares que influenciam a qualidade e as propriedades organolépticas. São também elementos fundamentais para garantir a autenticidade do queijo. O objetivo não é apenas aumentar o consumo interno, mas também sensibilizar os consumidores espanhóis”, resume.

Canárias, a comunidade onde mais se consome

Em termos de volume total, Cataluña é a comunidade autónoma que mais queijo consome, com mais de meio milhão de toneladas anuais. A esta comunidade, explica Arribas, seguem-lhe Andaluzia, Madrid e a Comunidade Valenciana. Mas, em termos de população, são as Ilhas Canárias que assumem a liderança.

Um profissional junto a vários queijos / PEXELS

"Ainda que custe crê-lo, é a que mais consome, com muita diferença. Depois das Canárias figuram Baleares e Astúrias. Segundo os dados do Ministério de Agricultura, Pesca e Alimentação, os canarios consomem uma média de 11 quilos per capita face aos 9 em média em Espanha, que ainda estão longe dos 21 que têm a Europa", assegura Arribas.

Menos consumo que na Europa

Em termos de consumo por habitante, Espanha ocupa a sexta posição no ranking europeu. "Estamos atrás de Alemanha, França, Holanda, Itália e Irlanda", descreve a gerente de Inlac. Cifras chocantes se tem-se em conta que Espanha é o segundo maior produtor de queijo de ovelha (por trás de Grécia) e também o segundo de cabra (por trás de França).

"Por isso, lançámos a campanha Quesea com queijos de Espanha", indica Arribas. Com ela, Inlac pretende destacar os benefícios do produto. "O queijo tem uns atributos nutricionais que podem ajudar a melhorar a saúde. Falamos de um produto bom, são e saudável que tem leite, dá calcio e vitaminas (A, B e D)", defende.

Uma pessoa parte queijo / FREEPIK

Novas variedades todos os dias do ano

"Ademais, o consumidor pode conhecer variedades novas todos os dias do ano, provando uns e outros. E já não é apenas pelos seus valores nutricionais, mas sim porque conhecer os queijos permite captar uma enorme variedade de sabores e de texturas. Podes combiná-las com bons vinhos e ampliar horizontes, sabendo que há muitos tipos de queijo para acompanhar a tua vida desde um pequeno almoço até o jantar, em qualquer momento", assegura Arribas.

Quesear, reconhece, é semelhante a tapear. “Quisemos copiar o verbo para que possa ser usado em qualquer dia e em qualquer altura. Temos 150 variedades e 30 figuras de qualidade, 27 DOP e 3 IGP (indicações geográficas protegidas)”, descreve o especialista.

Preferência pelo queijo Manchego

O estudo da Ipsos revela a predileção dos espanhóis pelo queijo Manchego, que, em certa medida, é determinada pelo seu preço. “O preço é um fator importante, é assim. De acordo com o estudo que fizemos com a Ipsos, para 80% dos consumidores espanhóis, o preço é um fator relevante na escolha de um queijo, mas não creio que a inclinação para este tipo de queijo seja determinada pelo seu custo”, considera Arribas.

Vários queijos / UNSPLASH

“Há também o seu sabor, que é bastante caraterístico e distintivo, a sua versatilidade na cozinha e o facto de ser um queijo com uma longa tradição. A DOP tem-se saído muito bem neste aspeto”, afirma.