Há uns meses, Espanha ativou o Sistema de Alerta Rápida para Alimentos e Pensos (RASFF, nas suas siglas em inglês) depois de detectar um lote de melões importados de Marrocos com níveis preocupantes de clorpirifos, um pesticida cujo uso está proibido na União Europeia desde 2020. O achado, que duplicava o limite máximo permitido deste composto químico, voltou a pôr sobre a mesa o debate sobre a segurança alimentar em produtos agrícolas importados.
Ainda que a remessa tenha sido rapidamente retirada do mercado, o incidente gerou inquietude entre os consumidores, especialmente porque não se ofereceram detalhes sobre a procedência exata dos produtos, nem sobre a empresa responsável pelo seu cultivo e exportação. Organizações como FACUA-Consumidores em Acção têm criticado a falta de transparência por parte da Comissão Europeia, alertando sobre o risco de generalizar a suspeita a todos os melões marroquinos sem ter informação concreta.
Riscos associados ao consumo de pesticidas
Segundo o Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental dos Estados Unidos (NIEHS), a exposição a pesticidas como o clorpirifos pode estar relacionada com um aumento no risco de padecer doenças como o Parkinson, problemas da tiroide, diabetes, insuficiência renal, artrite reumatoide e inclusive herpes zóster. Estes riscos, ainda que costumam associar-se a exposições prolongadas e em altas doses, fazem com que a vigilância e controle de resíduos químicos em alimentos seja uma prioridade para a saúde pública.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também alertou sobre os efeitos adversos dos pesticidas, descrevendo-os como "potencialmente tóxicos para os humanos", especialmente quando se consomem de forma regular através de frutas e verduras mal desinfectados.
A melhor forma de eliminar pesticidas das frutas e verduras facilmente
Ainda que o perigo para a saúde por um consumo ocasional seja baixo, os peritos recomendam adoptar hábitos de higiene adequados no manuseio de frutas e verduras frescas que se centrem em limpar de forma correta o produto que compramos no supermercado ou fruta de época. O cientista e divulgador Heinz Wuth, conhecido nas redes sociais como @soycienciaycocina, partilhou com os seus seguidores um método simplees e eficaz para reduzir a presença de pesticidas nos alimentos sem necessidade de utilizar produtos químicos adicionais.
Segundo Wuth, "a água é suficiente". Ao lavar bem os vegetais debaixo da torneira, esfregando-os e removendo com as mãos, pode-se eliminar mais de 90% dos resíduos de pesticidas. Isto deve-se a que muitos destes compostos são hidrosoluveis, ou seja, dissolvem-se ao contacto com a água.
Para uma limpeza mais completa, recomenda-se ademais filtrar a água utilizada, especialmente em zonas onde a qualidade do água da torneira possa estar comprometida. "Repousar, remover, filtrar e guardar" são os quatro passos chave que propõe Wuth para uma desinfecção segura e eficaz de frutas e verduras.
Mitos comuns sobre a limpeza de alimentos: desinfecção com vinagre
Existem muitos vídeos no TikTok sobre como limpar fruta com vinagre, mas o vinagre não é um desinfetante eficaz. Muitas destas pílulas audiovisuais centram-se na mistura de uma parte de vinagre com várias partes de água, mergulhando depois a fruta ou os legumes na mistura e deixando-os de molho durante alguns minutos. De acordo com este conselho, após 20 minutos, devem ser simplesmente enxaguados e deixados a secar.
Uma prática pouco higiênica se temos em conta as considerações sobre o vinagre e a desinfecção:
- O vinagre pode ter um efeito de limpeza, mas não elimina todos os microorganismos nocivos
- Para desinfetar frutas e legumes, o melhor é passá-los por água limpa. Se preferir reforçar este método, pode utilizar uma solução de água com um desinfetante alimentar especial vendido no supermercado.
Embora seja comum utilizar ingredientes como o vinagre ou o bicarbonato de sódio para desinfetar os alimentos, Wuth afirma que estes produtos não melhoram significativamente a remoção dos pesticidas. “As bolhas podem fazer pensar que estão a funcionar, mas, na realidade, não há qualquer diferença percetível em comparação com a utilização de apenas água”, explica.
O especialista salienta que, na maioria dos casos, estes ingredientes neutralizam-se mutuamente e não trazem quaisquer benefícios adicionais. Por isso, insiste que o mais eficaz e acessível continua a ser uma boa lavagem em água corrente.
Vigilancia, informação e prevenção
O recente alerta alimentar devido à presença de clorpirifos em melões importados sublinha a importância de manter controlos rigorosos dos produtos agrícolas provenientes de países terceiros que entram na Europa. A falta de informação clara por parte das autoridades gera desconfiança e torna ainda mais urgente a criação de mecanismos de rastreabilidade que nos permitam conhecer a origem exacta dos alimentos que consumimos.
Enquanto, os consumidores podem reduzir riscos mediante uma adequada limpeza de frutas e verduras frescas, um hábito que, além de prevenir a exposição a pesticidas, contribui para uma alimentação mais segura e saudável.
O que é o clorpirifos e porque é que a sua presença é preocupante?
O clorpirifos é um inseticida amplamente utilizado na agricultura para controlar as pragas, mas com efeitos negativos comprovados na saúde humana. A sua utilização foi proibida na UE depois de estudos terem revelado uma possível ligação a perturbações neurológicas e outras doenças crónicas. No entanto, em países como Marrocos e México, o pesticida continua a ser utilizado sem restrições.
Fernando Bejarano, diretor da Rede de Ação sobre Pesticidas e Alternativas no México (RAPAM), alerta para o facto de o clorpirifos ser uma substância “tóxica, persistente e bioacumulativa”, o que significa que pode permanecer no corpo humano e no ambiente durante longos períodos de tempo. Bejarano sublinha que “não existe uma dose segura de exposição”, pelo que é urgente a sua eliminação definitiva em todos os países onde ainda é autorizado.
O caso dos melões contaminados recorda-nos que a segurança alimentar é uma responsabilidade partilhada entre produtores, autoridades e consumidores. Escolher bem, estar informado e adotar hábitos responsáveis são fundamentais para proteger a nossa saúde num mundo onde, apesar da regulamentação, os pesticidas continuam a chegar às nossas mesas.