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Da Transição ao luxo: descobre a mansão de Adolfo Suárez convertida em hotel boutique

O diretor do estabelecimento explica que se trata de uma mansão histórica com todas as comodidades próprias de um cinco estrelas

Juan Manuel Del Olmo

Una habitación de La Casa del Presidente (1)

Todo mundo o escutou alguma vez. Com uma magnética mistura de solemnidad e cercania, e depois de quase um ano de esforços no Governo, Adolfo Suárez fez uma pausa em seu discurso, olhou a câmara e pronunciou o célebre "posso prometer e prometo". Repetiu a fórmula várias vezes, enfatizando o que considerava que sim seria possível fazer frente ao que não estava garantido, que, naquela Espanha convulsa, era bastante.

Segundos dantes, o candidato de União de Centro Democrático (UCD) tinha deixado claro que nada ia ser fácil, e que também não podia assegurar "soluções imediatas e milagrosas nem que da noite para o dia se satisfaçam todas as reivindicações, inclusive as de estrita justiça". Mas sim podia prometer "que nossos actos de governo constituirão um conjunto escalonado de medidas racionais e objectivas para a progressiva solução de nossos problemas".

A Casa do Presidente

Com sua promessa e a petição do voto aos eleitores, Suárez convocava aos espanhóis "a um novo horizonte". Nesse impasse, nessa Espanha que queria construir um país novo sem ter do todo claro o plano, o presidente mandou construir para si uma casa no coração de seu Ávila natal onde passar o verão.

Piscina do hotel / A CASA DO PRESIDENTE

É um espaço realmente singular em contacto com a muralha da cidade, concebido como um retiro que hoje segue sendo íntimo, mas acessível: é o hotel de cinco estrelas A Casa do Presidente, que alberga estadias nas que, sem dúvida, Suárez projectou discursos, medidas e estratégias. Hoje, aqui, outros sonham, descansam e desfrutam.

Um hotel histórico numa cidade histórica

Ainda que equilibrar a preservação de um espaço assim com a gestão de um espaço hoteleiro moderno e de luxo possa parecer difícil, o diretor dA Casa do Presidente, Juan Vidal, acha que é muito singelo. "Estamos num meio que já nos dá esse ambiente e esse sabor a História. O hotel é um dos monumentos da cidade, e está situado no próprio capacete histórico de Ávila".

"Uma vez que tens umas instalações como estas, com umas zonas ajardinadas preciosas e um restaurante tão maravilhoso, o que marca a diferença é o serviço, que é um serviço cinco estrelas", explica a Consumidor Global.

Uma das habitações / A CASA DO PRESIDENTE

Clientes madrilenos

Está situado a pouco mais de uma hora de Madri, de maneira que entre o 85 e o 90% de seus clientes são da capital, estima Vidal. "Isso faz que muitos nos elejam para passar o fim de semana", conta. No 10 ou 15% restante tem grande peso o cliente internacional, especialmente o norte-americano e o lationoamericano.

Perguntado pelo rincão mais especial, Vidal responde que é a recepção, porque foi nada mais e nada menos que o despacho de Suárez. "Ademais, temos conservado a livraria original que, como curiosidade, tem uma porta secreta que comunicava com a zona de serviço ou de segurança. Deste modo, este espaço que agora é o primeiro que acolhe ao cliente no momento de sua chegada alberga uma importância histórica enorme, já que por esse despacho têm passado grandes personalidades políticas dos anos da Transição", desvela.

O antigo despacho de Adolfo Suárez / A CASA DO PRESIDENTE

Um mundo de revolução política e senhorio

Ao cliente, ademais, oferece-se-lhe um tour pela mansão, de maneira que rapidamente submerge-se "neste mundo dos anos 70 e 80, revolução política e também senhorio, porque não deixa de ser uma casa señorial", valoriza o diretor do hotel.

Em meados dos 90, explica Vidal, Suárez "perde" a casa. O inmueble passou a mãos de um banco e depois esteve uns sete anos abandonado. Mas não perdeu seu esencia nem suas curiosidades, como um cruzeiro que Manuel Fraga presenteou a Adolfo Suárez e que permanece no pátio.

A livraria / A CASA DO PRESIDENTE

Produtos locais e cozinha tradicional

Em sua época, com admiração ou malícia, teve quem chamou a Suárez, esse "Kennedy espanhol", "Chuletón de Ávila". E, para além da broma, este emblema cárnico da província está presente a Caleña, o restaurante dA Casa do Presidente.

Uma vista do hotel / A CASA DO PRESIDENTE

A proposta gastronómica, explica Vidal, está baseada em produtos locais e cozinha tradicional, mas com a visão de uma equipa jovem "formado nas melhores escolas de gastronomia do país".O menu degustación custa 90 euros por pessoa sem maridaje.

Luxo e comodidades

A Casa do Presidente apresenta-se como um hotel de luxo, mas sem que isso evoque praias longínquas nem atardeceres exóticos. "Para mim o luxo é o poder viver desde uma perspectiva o mais próxima possível o lugar ao que estás a viajar, mas ao mesmo tempo com todas as comodidades a tua disposição. Essa é minha percepção. Neste caso, falamos de um hotel adaptado à filosofia do território, Castilla e León, e a uma cidade medieval como é Ávila, que simultaneamente tem todo o confort e proporciona essa sensação acolhedora que procura o cliente", descreve Vidal.

Outra das ambições dos responsáveis pelo estabelecimento é "pôr em valor a história recente de nosso país". Perguntado ao respeito, Vidal reflexiona: "Suárez, de algum modo, é nosso anfitrião. Ele é a pessoa que move todo e quem atrai a clientes que são seguidores seus. Notamos algo curioso, que é que a gente jovem também lhe tem aprecio, ainda que não lhe tenha conhecido".

Vista de um dos banhos / A CASA DO PRESIDENTE

Habitações com valores

NA Casa do Presidente há 10 habitações, e a cada uma delas leva o nome "de um dos valores que contribuía Suárez: Esperança, Liberdade, Amor, Concordia… Através disso tentamos transmitir esses valores daqueles anos nos que se pôs de acordo muita gente que tinha ideias diferentes. Oxalá ocorresse isso hoje em dia", explica Vidal.

Quanto às tarifas, o preço de uma noite de habitação o último fim de semana de novembro oscila entre 200 e 300 euros.