Durante umas semanas, a sensação para os fãs do ex triunfito era clara: o ciclo tinha chegado a seu fim. Em outubro, Manuel Carrasco fechava seu aclamado Tour Selvagem após meses percorrendo o país com uma posta em cena rotunda e uma narrativa muito cuidada.
O último concerto, celebrado o 10 de outubro no Palau Sant Jordi, converteu-se numa despedida simbólica, com o cartaz de "entradas esgotadas" pendurado semanas dantes da data marcada no calendário. Tudo apontava a fechamento de etapa, a ponto final… ao menos de portas afora.
O adeus que nunca foi definitivo: Manuel Carrasco anuncia concerto em Sevilla para 2026
No entanto, o cantor tinha outro movimento preparado. Longe de baixar o ritmo, anunciou que 2026 começará com um dos projectos mais significativos de sua carreira. Baixo o nome Selvagem desde a raiz, Carrasco celebrará dez anos desde seu primeiro grande estádio com uma gira muito concreta e carregada de simbolismo.
A cidade eleita não é casual: Sevilla acolherá quatro concertos consecutivos no Estádio A Cartuja de Sevilla, um espaço que funciona como ponto de encontro entre memória, ambição e presente. As entradas, à venda desde esta quinta-feira 18 de dezembro, prometem converter-se num dos objetos mais cobiçados do próximo ano musical.
Quando a moda entra no relato musical
Já o vimos em outros artistas, os looks icónicos de David Bowie ou artistas como Lady Gaga têm marcado sua própria narrativa musical e audiovisual. O caso de Manuel Carrasco não podia ser de outra forma. Para além de cifras e recintos, Selvagem tem sido uma etapa especialmente relevante pelo jeito que música e imagem têm dialogado.
O vestuário tem deixado de ser um complemento em seus concertos para converter numa parte essencial do discurso escénico. Por trás desta evolução encontra-se Antonia Payeras, estilista do artista desde faz várias temporadas e responsável por dar coerência estética a um projecto tão ambicioso como pessoal.
A insider de moda falou alto e claro do ecossistema de moda que rodeia a Manuel carrasco à revista Olá!, pondo ênfase a como tinham renovado a imagem do cantor a golpe de apostar por desenhadores nacionais que têm elaborado prendas únicas e feitas a mão para a cada concerto.
A valentia como código estético: uma mirada experiente desde a indústria
Payeras não é uma recém chegada ao sector. Sua trajectória inclui o desenho de universos estilísticos para figuras muito reconhecidas da interpretação, como Amaia Salamanca, Clara Galle ou Álvaro Rico. No caso de Carrasco, seu repto tem sido traduzir um conceito musical —orgânico, instintivo, quase tribal— em prendas que funcionassem baixo o foco do palco e ante milhares de pessoas.
Não todas as decisões têm sido cómodas nem previsíveis. Ao longo de gira-a, os estilismos do cantor têm gerado debate e, em ocasiões, críticas muito diretas. Chapéus e tocados de plumas, jerséis de ponto com lentejuelas, flecos em movimento constante ou camisas vaporosas com chorreras têm definido uma proposta que se afasta do clasicismo masculino habitual nos grandes diretos. Longe de procurar consenso, a estética tem apostado pela moda conceptual e a valentia acunada por expresividad, reservada só para quem se atrevem a assumir riscos.
Artesanato, mistura e peças únicas
A cada look tem sido concebido como parte de um tudo. A ideia não era acumular prendas llamativas, sina construir uma linguagem visual coerente. Para isso, se misturaram peças de base mais comercial com criações únicas realizadas a mão e sob medida, incluídas as botas.
Neste trabalho coral têm participado nomes finque como It Spain, responsável pelas peças mais artísticas; Tete by Odette, que contribuiu ante com flecos e blusas etéreas; Rafa Peinador, autor dos tocados de plumas; e Sendra Boots, encarregada do calçado adaptado à exigência física dos concertos.
Um artista em constante evolução: comodidade sem renunciar ao impacto
Um dos grandes reptos foi equilibrar desenho e funcionalidade. As longas horas sobre o palco exigiam prendas cómodas, resistentes e pensadas para o movimento. O resultado demonstra que o artesanato e a espectaculosidade não estão reñidas com a comodidade quando o processo criativo se cuida desde o primeiro esquema até a última prova.
Nada disto é fruto de uma moda passageira. Carrasco leva anos apostando pela evolução contínua, entendendo a cada gira como uma oportunidade para se redefinir. Em Selvagem, essa filosofia manifestou-se com especial clareza: música, estética e posta em cena avançam da mão, refletindo a um artista que não teme se afastar do estabelecido nem se repetir.
Com Selvagem desde a raiz, a mensagem reforça-se. Voltar à origem não significa olhar atrás com nostalgia, sina reinterpretar o passado desde uma identidade mais sólida, mais livre e, sobretudo, mais consciente de sua própria linguagem criativa.