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Que é a moda psicomágica e por que nunca se foi de Espanha: isto é o que deves saber

Descobre a moda psicomágica de Sybilla, a desenhadora que rompeu moldes e revolucionou a indústria com sua nova forma de entender o corpo feminino, a cavalo entre o onírico e o real

Rocío Antón

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O conceito de psicomagia encontra seu fundamento na obra do escritor e cineasta Alejandro Jodorowsky. Seus estudos combinam a teoria psicoanalítica freudiana, que distingue entre o consciente e o inconsciente, com a esencia do tiro quase teatral. Esta fusão dá lugar à criação de um acto simbólico capaz de romper com a estrutura previsível de nossa realidade e gerar uma mudança profunda em nossa mente.

E é que bem poder-se-ia dizer que esta opera em dois ritmos diferentes: o inconsciente, que predomina em nossa forma de ser e actuar, ainda que é o menos explorado, e o consciente, que funda seus alicerces no quotidiana. No entanto, o inconsciente expressa-se de maneira não linear, recorrendo a símbolos, metáforas e elementos oníricos, inerentes a um estado de ensoñación e fantasioso que se oculta na matriz da mente. A psicomagia fala de interatuar com esta parte mais resguardada da mente onde os actos simbólicos permitem desbloquear traumas, superar medos e libertar emoções reprimidas.

Que é a moda psicomágica e por que nunca se foi de Espanha?

Um dos princípios fundamentais da psicomagia é que o conhecimento real prove/provem da experiência direta. Isto é, não basta com compreender algo no plano intelectual, sina que é necessário levar à acção para que se assimile por completo, quiçá por isso a desenhadora María Sybilla Soronda nunca tem deixado de desenhar até quando parecia que se baixava da carroça das passarelas.

Faz médio ano, Sybilla regressava ao universo da moda com uma proposta inovadora: um espaço de criação onde pudesse interatuar directamente com as pessoas, sua maior inspiração. Agora, seis meses depois, seu particular "experimento estilístico" encontra caminho com a abertura, em fevereiro, da segunda fase desta Revolta de Sybilla. Chega uma colecção de Pré-primavera, com desenhos que reinterpretan o inverno com prendas vibrantes, cheias de energia, cor e ligereza.

Sybilla e a moda como acto de psicomagia

Mais que desenhar prendas, Sybilla cria rituales de transformação. Seus vestidos são conjuros de teia, seus padrões, feitiços que envolvem o corpo numa dança simbólica. Sua moda não é sozinho indumentaria, sina uma experiência sensorial, um acto de psicomagia que interactúa com o mais profundo do ser. Como na teoria de Alejandro Jodorowsky, onde os actos simbólicos desatam processos de sanación e mudança, Sybilla compõe peças que acordam emoções dormidas, que ressoam no inconsciente e nos convidam a reinventarnos.

Ela não volta; re-volta. Como num sonho recorrente, seu universo criativo regressa com novas formas, mas com a mesma esencia. E nessa volta, não só reaparece seu nome, sina também sua visão da moda: uma moda que, como um talismã, não segue tendências efémeras, sina que atravessa o tempo, se adapta, se transforma e acompanha a quem a viste em seu próprio viaje interior.

A moda dialoga com o inconsciente da desenhadora

Num mundo onde a moda costuma ser um produto de consumo fugaz, Sybilla propõe uma linguagem diferente, um que dialoga com o inconsciente. Seus prendas, com estruturas envolventes e formas moldeables, não procuram impor sobre o corpo, sina se adaptar a ele, lhe permitir se mover com liberdade. Não há cremalheiras nem botões, porque o ajuste não se força, sina que flui de maneira orgânica, como num sonho no que tudo muda sem perder sua harmonia.

O vestir, na visão de Sybilla, é um acto ritual, uma maneira de ligar com nossa esencia. Bem como a psicomagia recorre a gestos simbólicos para libertar traumas e acordar novas realidades, sua moda convida-nos a explorar identidades ocultas, a jogar com nossa imagem como quem reescribe seu próprio destino.

O regresso de uma criadora onírica

Para a indústria da moda, Sybilla esteve ausente. Para ela, em mudança, nunca deixou de criar. Desde Mallorca, cultivou utopias com Poc a Poc, transformando sonhos em projectos tangíveis. Em Latinoamérica, explorou a relação entre a terra e a vida, entre a natureza e a regeneração. A cada passo foi um acto de aprendizagem, uma etapa em seu processo de metamorfosis.

Agora, regressa com a serenidad de quem tem encontrado seu próprio ritmo. Mais que uma volta, sua volta é uma evolução. Suas criações, que alguma vez deslumbraron em Paris e se venderam em lugares míticos como 10 Corso Como ou Barneys, resurgen com a mesma magia, mas com uma consciência ainda mais profunda.

AnárquiKa: a moda como libertação

Sua nova colecção, AnárquiKa, é uma declaração de princípios. Como na psicomagia, onde o conhecimento não se assimila só através do intelecto, sina da acção, estas prendas são um convite a experimentar com o vestir de maneira intuitiva. Não há imposições nem regras fixas: a cada peça adapta-se a quem leva-a, como um traje ritual que se transforma com o movimento.

Num mundo que impõe etiquetas, Sybilla propõe o mistério. Numa indústria que acelera a produção, ela elege a pausa. Enquanto as tendências ditam o efémero, ela faz questão da permanência do essencial.

Uma loja efémera para uma moda eterna

Como um palco de teatro onde a cada função é única, seu regresso toma forma numa loja efémera na madrilena rua Noviciado. Ali, suas peças não estão dispostas como meros objetos de compra, sina como elementos de um rito. Não há estoque em massa nem colecções fechadas: tudo é uma obra em construção, uma experiência onde o inesperado é parte do encanto.

Em verão, quando as demais assinaturas liquidam sua temporada, Sybilla lança sua colecção. Em inverno, quando o mundo se cobre de lanas, ela viste o frio com sedas. Nada em seu universo segue a lógica do mercado; tudo responde a uma coreografa própria, a uma linguagem no que a moda não é só um objeto, sina um veículo de transformação.

Sybilla re-volta para recordar-nos que o vestir não é só uma questão de aparência, sina um acto de significado profundo. Que a moda, como a psicomagia, pode ser uma ponte entre o sonho e a realidade, entre o visível e o invisível. Um amuleto que nos envolve, nos protege e nos transforma.