David Poirson, cofundador de DashBook: "Amazon oferece livros que não tem"

Entrevistamos ao fundador e diretor desta editorial francesa que publica em papel fazes digitais de criadores de conteúdo que destacam nas redes sociais

David Botvinik, izquierda, y David Poirson, cofundadores de la editorial DashBook DB
David Botvinik, izquierda, y David Poirson, cofundadores de la editorial DashBook DB

David Poirson publicou sua primeira novela, Lhe retour da lumière (Editions Bénévent), faz 15 anos. Pouco depois, lançou-se à piscina com outro manuscrito, Lhe monde est um village (Lhes Editions de l'Ar), mas nem as vendas nem o trato que recebeu por parte da editorial foram satisfatórios.

"Assim começou a aventura de DashBook, da mão de David Botvinik, com o desejo de oferecer uma experiência editorial diferente aos criadores de conteúdo", relata Poirson, que mergulha no mar das redes sociais e transforma as melhores obras digitais em livros de papel.

--A cada ano publicam-se em Espanha ao redor de 100.000 livros. Está saturado o mercado editorial?

--Há demasiados livros? Não, nunca tê-los-á. Acho que há demasiados livros para que as livrarias façam bem seu trabalho, porque são os canais de distribuição os que estão saturados.

--Em que aspectos poderia melhorar o mercado editorial?

--O último Pérez Reverte saca das estanterías a Zafón, que saca ao último… As livrarias sempre têm novidades que mostrar, mas, ou construímos mais livrarias para que tenha lugar para todos os escritores, ou vendemos em outros lugares. Nós optamos por vender mais em redes.

Un cliente hojea un libro en la librería Sant Jordi / GALA ESPÍN
Um cliente hojea um livro na livraria Sant Jordi / GALA ESPÍN

--Muita cultura digital perde-se nas redes dantes de chegar à imprenta?

--Tentando ser otimista, talvez não se perca, sina que se consome ao instante fazendo scrolling. Mas o verdadeiro é que não perdura. A vantagem de um formato como o livro é que permite ancorar este conteúdo e consumir de uma maneira diferente. Está demonstrado que se vais scrolleando todo o dia não ficas com muito, enquanto se lês, sim. Com DashBook todo mundo sai ganhando. O influencer cria um vínculo mais forte com sua audiência e até os pais estão contentes, porque fazemos ler a gente que já não lê.

--Ao que ainda não vos conheça, como definirias DashBook numa frase?

--Como a editorial dos criadores de conteúdo. É um enfoque que não se tinha dado até data de hoje. Lançamos DashBook porque publiquei dois livros e a experiência de autor foi um pouco bluf. Perdes o controle, não sabes o que fazem com tua obra, se se promove ou não, não te dão feedback... As editoriais, ao receber tantos manuscritos, muitas vezes não se esfuerzan no fazer bem.

--...

--Dei-me conta de que tinha muito que fazer. Se faz uns anos o manuscrito era o primeiro em ver a luz dantes de poder adaptar a outros formatos, agora sucede o contrário. Muitos conteúdos saem em redes sociais, em YouTube, em novos meios, e, às vezes, podes sacar um bom livro daí. Às vezes, as elites confiscam a cultura. Explico-me. Se não és Sartre ou Baudelaire, parece que não tens direito a publicar um livro. E a cultura popular é bem mais ampla e também está nas redes.

--As grandes editoriais também publicam livros de influencers…

--Sim, Planeta e Penguin vão a pelos grandes criadores de conteúdo, mas só vão a pelos muito grandes, pensando em seu potencial comercial, e há muitos mais.

Eloy Moreno durante una firma de libros en Callao / PABLO MEDIAVILLA - PENGUIN RANDOM HOUSE
Eloy Moreno durante uma assinatura de livros em Callao / PABLO MEDIAVILLA - PENGUIN RANDOM HOUSE

--Que vantagens oferece vosso 'modus operandi' ao público leitor?

--Ao publicar a criadores de conteúdo, podemos publicar temas de nicho: cozinha japonesa, pádel, etcétera. É difícil vender um livro assim numa livraria, que está limitada ao público do bairro. Mas isto não significa que não tenha um público interessado em temas de nicho. Só faz falta encontrar a este público, e é mais fácil o fazer em Instagram e TikTok.

--Assim revoluciona DashBook a indústria editorial?

--Obviamente, não o mudamos completamente, mas o livro em DashBook tem duas vidas. A primeira, dantes de plotar-se. Fazemos uma análise muito detalhada do seguidor tipo do criador de conteúdo em questão, e depois vamos a por esse leitor que ainda não lhe segue e lhe lançamos anúncios. É uma forma de alargar sua audiência e vender livros. Em função disto, depois se explode em livrarias. Não o mandamos tudo a livrarias, só o que tem potencial para valer.

--Essa busca e promoção é vossa principal vantagem em frente às editoriais convencionais?

--É uma plusvalía importante. Ademais, agrandamos o mercado editorial. Introduzimos a um público que quiçá não ia escrever nem publicar. A um criador de conteúdo não lhe podes dizer: 'Vais cobrar o 5%'. Não lhe podes dizer: 'Uma vez ao ano dizer-te-ei quantos livros vendes'. Desenvolvemos um tipo de ferramentas digitais que amanhã converter-se-ão no regular do mercado.

--Interessante…

--Acho que estamos no amanhecer da onda que viveu a indústria musical faz 15 anos. Estamos ante uma mudança brutal como o que supôs Spotify para a música.

--Qual é a média de instâncias vendidas de vossos autores?

--No França temos publicado 120 livros e em Espanha estamos a começar, mas temos publicado uns 20 e temos 50 previstos. O 14 de fevereiro sacamos um de Marina Ruiz que tem um muito bom público. Depende muito da audiência inicial da cada criador e da colecção, mas, no mínimo, vários milhares: 2.000, 3.000... E isso é bem mais do que poder-se-ia fazer sem uma estratégia digital. Os escritores noveles costumam vender 100, 200 instâncias. As livrarias promovem outras obras. Se plotas 200, colocas dois na cada livraria, a livraria esconde-os num rincão e finalmente tem que os devolver à editorial e os destruir, não tem nenhum sentido. Isso é trabalhar como se fazia no século XIX.

--Quais são vossos géneros mais populares?

--Temos uma colecção de cozinha que arrasa, outra de autoayuda, novelas de temas familiares, livros de formato grande, tipo Taschen, de fotografia e arte, uma colecção de guias de viagem. Estes são os universos que mais trabalhamos e melhor funcionam.

El libro 'Bien por la cocinera' / DASH BOOK
O livro 'Bem pela cocinera' / DB

--Que autores destacarias?

--Em Espanha poderíamos destacar duas garotas. Inés Jimm, que é uma artista reconhecida por sua pintura em redes sociais. Com ela apanhámos um enfoque diferente que funcionou muito bem. Sacamos Bem pela cocinera, uma homenagem às receitas de cozinha de sua avó com todos os desenhos feitos a mão. Ficou precioso. E outra que é Celia Galego, que também é artista, mas sacou um livro mais íntimo sobre sua trajectória pessoal: Síndrome da impostora.

El libro 'Síndrome de la impostora' / DB
O livro 'Síndrome da impostora' / DB

--Onde se podem comprar vossos livros e quanto custam?

--Eu sempre recomendo o fazer através da página site da editorial, neste caso dashbook.es. Quando não se compram em Amazon, o autor recebe mais dinheiro. Para apoiar a criação é melhor comprar na base. Ainda somos um actor pequeno comparado com Amazon, Fnac ou A Casa do Livro.

--Como funciona Amazon?

--Têm umas práticas que dizes: 'Uau!'. Nós publicamos a um autor que nos pediu que o promovêssemos em qualquer lado menos em Amazon, por um tema de princípios. E resulta que amazon rastrea todo o site e Boom!: aparece em seu banco de dados sem pedir permissão a ninguém. Resulta que por lei não têm que perguntar porque ainda está conceituada como livraria on-line e têm direito a aceder aos banco# de dados nacionais das livrarias.

Libros, el logo de Amazon y billetes volando / MONTAJE de CG
Livros, o logo de Amazon e bilhetes voando / MONTAGEM de CG

--Amazon oferece livros que não tem?

--Oferece livros que não tem e o pior é que aceitam pedidos. Entram-lhes pedidos e dizem que entregar-se-ão tarde. E, como não têm o livro, baixa minha nota como vendedor, o qual é um problema se quero vender outros livros em Amazon mais adiante. Fazem coisas turbias, mas é difícil prescindir deles. Ademais, não todo mundo vive em cidades grandes. Para muitos, a forma de aceder ao livro é que to entreguem. Amazon é um actor importante com seus pros e seus contras.

--Que opina de 'Asas de ónix', o último livro de Rebecca Yarros?

--Está a ser um fenómeno editorial. Não o li ainda, mas não me estranha seu sucesso: combina uma série de elementos que costumam fazer que algo triunfe. É como uma guia inicial com protagonistas jovens bem definidos num mundo fantástico. Se consegue dar com a tecla, pode converter no herdeiro de Jogo de Tronos.

--Quais são seus escritores de referência?

--Quando quero desligar, gosto de muito Ken Follet. Tenho lido todos seus livros. E também gosto muito de uma saga sobre os caballeros de Normandía quando conquistaram Sicília. Aí nasceu o estilo arquitectónico árabe-normando.