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Quantas probabilidades há de que ocorra um novo blecaute: falam os experientes

Os especialistas acham que Rede Elétrica tem tomado medidas depois do sucedido o 28 de abril, conquanto recordam a importância de adaptar a rede ao progressivo aumento das renováveis

Instalaciones eléctricas durante un apagón   UNSPLASH
Instalaciones eléctricas durante un apagón UNSPLASH

Se o refrán 'quando o rio soa, água leva' conmina a não infravalorar os rumores, indícios ou comentários persistentes sobre algo, já que é provável que impliquem que tenha algo de verdadeiro neles; a sentença 'do dito ao facto há um trecho' recorda que resulta bem mais fácil falar, prometer ou imaginar algo que o fazer realidade. São os factos, sem dúvida, os que marcam a realidade, mas também vivemos de ilusões e medos.

Por isso, o aviso que Rede Elétrica lançou faz uns dias gerou reacções diversas. A filial do grupo Redeia notificou ao Ministério de Transição Ecológica e à Comissão Nacional dos Mercados e a Concorrência (CNMC) que tinha detectado variações bruscas da tensão no sistema elétrico peninsular espanhol, um achado preocupante que, depois do blecaute do 28 de abril, gerou certo alarme.

Novas medidas e forma de operar

"Minha opinião é que a probabilidade de que em curto prazo se repita um blecaute é bajísima, quase nula", explica a perguntas deste meio Marcos Rupérez, professor de OBS Business School. "Dantes pensávamos que um blecaute geral era algo que nunca sucederia em Espanha. Tem passado, e Rede Elétrica tem implementado medidas e está a operar de maneira muito diferente. Acho que a probabilidade de que ocorra de novo é mínima", assinala.

Un camarero sirve sidra en un bar durante el apagón EUROPA PRESS JUAN VEGA
Um camarero serve sidra num bar durante o blecaute / EUROPA PRESS - JUAN VEGA

Agora há, considera este experiente dedicado à consultoria e execução de projectos de engenharia relacionados com o hidrogênio como vetor energético, "um controle bem mais férreo" e umas "garantias de fornecimento muito maiores". Isto é, que a entidade presidida por Beatriz Corredor tem tomado nota.

"Atitude preventiva e responsável"

Em Roams, plataforma que ajuda ao consumidor a poupar em luz e gás, são da mesma opinião, ainda que algo menos categóricos. "A probabilidade de que se produza um novo blecaute generalizado na Península em curto prazo é baixa. A recente alerta emitida por Rede Elétrica responde a uma atitude preventiva e responsável, motivada pela detecção de certas oscilações de tensão no sistema que, ainda que se mantiveram dentro das margens de segurança, requeriam reforçar a vigilância e os mecanismos de controle", consideram.

Baixo o ponto de vista de Roams, o que está claro é que o sistema se deve pulir: deve-se seguir melhorando a coordenação e a resposta operativa.

La presidenta de Redeia, Beatriz Corredor EUROPA PRESS ANTONIO SEMPERE
A presidenta de Redeia, Beatriz Corredor / EUROPA PRESS - ANTONIO SEMPERE

Variações bruscas de tensão

O timing também importa. Ao respeito, Rupérez valoriza que o facto de que Rede Elétrica decidisse proclamar a existência de variações bruscas de tensão aos quatro ventos não implica que a situação fora radicalmente diferente à vivida em ocasiões anteriores. Desde Roams coincidem: "Nesta ocasião, Rede Elétrica tem decidido dar maior relevância e visibilidade a seus relatórios precisamente para antecipar-se a possíveis riscos e evitar as consequências que acarretaria um novo acontecimento deste tipo".

"Está a ter variações bruscas de tensão? Sim, como as teve outras muitíssimas vezes e nunca as comunicaram. Agora aproveitam que há foco mediático para pedir que se melhore a rede, os protocolos e os sistemas em aras de que tenha mais estabilidade. Isso é necessário agora? É necessário agora porque temos muitas renováveis", aponta o professor de OBS.

O papel das renováveis

Neste sentido, Rupérez assinala que a rede elétrica se desenhou faz "muitos anos" para um tipo de geração puramente síncrona, isto é, obtida "com geradores que giram: central de gás, central hidroelétrica, central nuclear…". Agora, as fontes renováveis, com umas características muito diferentes, obrigam a repensar os esquemas. "A cada vez estamos a meter mais renováveis, de modo que faz sentido que se pense em adaptar isto", concede.

Paneles solares / PEXELS
Painéis solares / PEXELS

Pode-se afirmar, por tanto, que existem uma série de demandas legítimas, mas quem tem a responsabilidade na cada área? "Fala-se da CNMV, faz pouco no Congresso não se aprovou uma nova lei anti blecautes que incluía certas medidas… ", cita Rupérez, um tanto pessimista. São, considera, "muitas coisas" as que há que modificar, de modo que acha que algumas sairão adiante de forma orgânica e outras ficarão em nada.

"É possível que tenha outro blecaute"

De forma muito diferente opina Jesús Torres, um experiente que divulga contidos sobre energia em seu canal de YouTube, TuSastreMatemático. Tem sido professor de matemáticas durante 30 anos e empresário no sector de Instalações de Climatización, Electricidade, Gás e Energias renováveis, além de auditor energético por Atecyr.

"É possível que tenha outro blecaute, por suposto que sim", afirma. Alude, em primeiro lugar, a que as causas do blackout ocorrido no final de abril não têm sido convenientemente explicadas, e que todas as melhoras necessárias não têm sido implementadas. "A rede elétrica tem que ter muitíssima estabilidade, porque a oferta e a demanda vão variando continuamente", raciocina.

La Plaza del Obradoiro durante el apagón en Santiago de Compostela AGOSTIME EUROPA PRESS
A Praça do Obradoiro durante o blecaute em Santiago de Compostela / AGOSTIME - EUROPA PRESS

Energias que contribuem estabilidade

A partir de aqui, Torres sim coincide com Rupérez em assinalar às renováveis, ainda que com matizes. As energias eólica e solar são, por natureza, variáveis e intermitentes. Isto é, sua produção depende de se faz vento ou sol. "Se há uma política continuada de ir deixando atrás as energias que mais estabilidade contribuem ao sistema sem incorporar suportes fortes para as renováveis, temos problemas", alega. Roams, neste ponto, fala de "uma fase de transformação profunda".

"A eólica e a solar têm que ir acompanhadas de sistemas que possam alojar essa energia que se produz quando há sol e vento. Está a avançar-se na parte mais singela, que é montar instalações de energia renovável, mas não em sua almacenaje. E pode-se fazer, se essa energia transforma-se em térmica", valoriza Torres. Determinar que parte desse investimento corresponderia ao Estado e qual às empresas é um tema diferente.

Interconexão elétrica

A União Européia, recorda Torres, estabeleceu um objectivo de interconexão elétrica de 10% para 2020 e de 15% para 2030. Isto significa que a cada Estado membro devia ter a capacidade de trocar (importar ou exportar) ao menos o 15% de sua capacidade de geração elétrica instalada com os países vizinhos através das interconexões trans-fronteiriças, para poder assim mandar ou receber excedentes quando tivesse incidências.

Vista general del interior de la estación de trenes de María Zambrano el día después del apagón
Vista geral do interior da estação de comboios de María Zambrano no dia após o blecaute / EUROPA PRESS - ALEX ZEA

"Mas Espanha é uma ilha energética. Estamos em 2025 e estamos em 6%, aproximadamente", indica. Sua conclusão, por tanto, é que "a incerteza é legítima".

"Não existe maior risco que faz uns anos"

Em mudança, em Roams acham que, desde o ponto de vista da infra-estrutura, "não existe hoje um maior risco de blecaute que faz uns anos. O único palco que poderia derivar num incidente similar seria uma gestão desequilibrada dos recursos energéticos, que não tenha em conta as necessidades técnicas da rede nem os limites operativos do sistema elétrico".

Crêem, ademais, que não pode se dizer que o sistema elétrico espanhol esteja "ao limite", ainda que sim "se estão exprimiendo seus recursos operativos em determinadas circunstâncias. Nas horas de máxima geração renovável e baixa demanda, a rede pode acercar-se a situações de estrés por excesso de energia, enquanto nos bicos de consumo invernal requerem-se maiores reservas de respaldo. Não obstante, o sistema conta com mecanismos automáticos de protecção".

Instalación eléctrica / PEXELS
Instalação elétrica / PEXELS

Palcos especulativos

A realidade, crê Rupérez, é que o consumo de energia elétrica leva caindo em Espanha durante os últimos 15 anos. "Prevê-se que vá subir, mas terá que o ver. Há muita gente demandando energia ou pontos de conexão que não está muito claro se finalmente vão executar ou não", diz.

"Digamos que faz anos que a rede elétrica vive palcos muito especulativos, tanto de oferta como de demanda, pelo que é muito difícil planificar", conclui.