Por trás da cada grande desenhadora há uma história que desarma, e a de Gabrielle Chanel —mais conhecida como Coco— é puro contraste: fragilidade nos começos, força na construção de seu império, e uma visão que rompeu com todos os moldes estabelecidos.
Nascida em 1883 em Saumur, França, Gabrielle cresceu entre silêncios e ausências. Órfã de mãe aos dez anos e abandonada por seu pai, foi criada por freiras num convento de Auvernia. Ali, longe do ruído da alta sociedade, aprendeu a costurar a mão. Mas o que parecia o início de uma história triste transformar-se-ia no ponto de partida de uma revolução estilística que mudaria a moda para sempre.
Coco Chanel: Dos focos do cabaret ao atelier
A começos do século XX, numa época onde os limites para as mulheres eram tão rígidos como os corsés que vestiam, Coco se reinventó como cantor de cabaret. Queria ganhar dinheiro, independência e visibilidade. Durante esses anos, nos cafés-concertos conheceu a membros da elite e a figuras influentes que mais tarde seriam chave em sua ascensão. Chanel não cantava só por amor à arte: tecia contactos, sonhava com agulhas, teias e liberdade criativa.
Foi nessa atmosfera bohemia e decadente onde nasceu sua ambição mais autêntica: construir uma nova silhueta feminina. Uma que não precisasse de varetas nem adornos excessivos para deslumbrar. Queria libertar às mulheres… e vá se conseguiu-o.
Estilo com carácter: a revolução Chanel
Coco Chanel não desenhava roupa, desenhava atitude. Enquanto outras mulheres desfilavam entre chapéus enormes, corsés impossíveis e capas de encaixe, ela apostou por linhas limpas, sobriedad e comodidade. O estilo garçonne (essa sorte de look masculinizado onde a feminidad segue desbordándose pelas comisuras da teia), os trajes de tweed, o pequeno vestido negro, os pantalones femininos: sua visão foi disruptiva, poderosa e absolutamente moderna.
Os trajes de teia tweed converteram-se num emblema dentro da assinatura onde a elegancia do simples funciona sempre/ Montagem CG
Em tempos em que a opulencia era sinônimo de status, Coco entendeu que a verdadeira elegancia estava na simplicidad. "Menos é mais" não era um eslogan de marketing, era sua filosofia de vida. Apostou por prendas funcionais, pelo luxo que não grita, por um armário no que a cada peça tivesse algo que dizer.
Hollywood, perfumes e polémicas
Em 1931, a indústria cinematográfica chamou a sua porta. O magnata Samuel Goldwyn contratou-a por uma cifra astronómica para vestir a suas actrizes mais icónicas: Grace Kelly, Katharine Hepburn, Glória Swanson, entre outras. Chanel não só se converteu num nome de referência nas passarelas européias, também conquistou a sétima arte com sua mirada refinada e atemporal.
Quem ia dizer que sua criação Chanel n.º 5 acabaria sendo o perfume da mulher mais desejada do momento? E é que não foi outra que Marilyn Monroe, a actriz que converteu sua esencia em ícone ao assegurar que ela dormia nua mas com umas gotas de dito perfume postas.
Mas não todo foi glamour. Durante a Segunda Guerra Mundial, suas decisões pessoais e políticas geraram controvérsia, especialmente no França. Ainda que sua figura foi questionada em seu país natal, sua influência seguia imparable em Estados Unidos e Reino Unido. Seu legado era demasiado potente para ser silenciado.
Que significa realmente "menos é mais" em moda?
No contexto da moda, esta expressão celebra a simplicidad, a sobriedad e a moderación como chaves do bom gosto. Em lugar de recarregar um look com muitos acessórios, cores estridentes ou detalhes desnecessários, aposta-se por prendas bem eleitas, linhas limpas e uma paleta equilibrada.
A famosa frase "menos é mais", atribuída originalmente ao arquitecto Ludwig Mies vão der Rohe, tem sido adoptada pelo mundo da moda para expressar uma ideia poderosa que também entronca com essa busca de padrões e linhas puras que procurava a desenhadora com aquela emblemática frase:
"A simplicidad é chave. a verdadeira elegancia e estilo não precisam excessos"
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Elegancia atemporal:
Os looks mais recordados costumam ser simples, bem estruturados e sofisticados. Pensa no little black dress de Chanel, a camisa branca, um blazer impecable... São peças que não passam de moda. -
Clareza visual:
Um outfit singelo permite que a cada prenda respire, se entenda e destaque. O resultado é uma imagem mais harmônica e polida. -
Menos distracção, mais presença:
Um look recarregado pode opacar à pessoa. A simplicidad permite que brilhes tu, não só tua roupa. -
Versatilidad:
Um guardarropa minimalista adapta-se a qualquer ocasião e estilo de vida. É prático, funcional e fácil de combinar. -
Empoderamento silencioso:
Não precisas gritar com tua roupa para ser vista. Muitas mulheres poderosas —desde Audrey Hepburn até Meghan Markle— têm feito do "menos é mais" seu selo.
"Menos é mais" significa aburrido? Para nada! Não se trata de se vestir sem graça, sina do fazer com intenção. É jogar com proporções, texturas e cortes, sem necessidade de saturar. É deixar que uma sozinha peça (como uns lábios vermelhos, uns sapatos de desenho ou um blazer estruturado) seja a protagonista.
Estilo simples sem data de caducidad
Coco não cria nas tendências efémeras. "A moda passa, o estilo permanece", dizia com firmeza. E é que sua proposta não era só estética: era uma declaração. Desprezou os sujetadores com recheado, as saias demasiado curtas, os adornos desnecessários. Seu feminismo não precisava etiquetas; vivia-o desde a teia, a forma e a liberdade de movimento. Abogó pela singeleza e todo seu mundo estilístico girou ante a ideia de não "disfarçar o corpo da mulher" senão o potenciar.
As revistas mais influentes do mundo não duvidaram em se render a seu magnetismo. Vogue a apodó "a grande revolucionária". Ela não precisava se adaptar. Era, e segue sendo, o parâmetro de estilo mais fiel, o atemporal que te vale para vestir elegante tanto se tens 30 como se tens 50 anos.
O legado de uma mulher irrepetible
Coco Chanel não só nos deixou um armário icónico; também um punhado de frases que condensan sua personalidade arrolladora e seu estilo indomable. Algumas de suas máximas seguem ressoando em editoriais de moda, passarelas e perfis de Instagram:
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"A liberdade sempre é elegante."
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"Uma mulher sem perfume é uma mulher sem futuro."
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"Veste-te como se te fosses encontrar com teu pior inimigo."
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"O luxo deve ser cómodo, caso contrário, não é luxo."
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"Não é a aparência, é a esencia. Não é o dinheiro, é a educação."
A cada palavra de Coco refletia uma convicção: a beleza não reside no exagero, sina na autenticidad. Sua arrogância era seu escudo. Seu elegancia, sua espada.
Hoje, décadas após sua morte em 1971, Chanel não é só uma casa de moda: é uma ideia. Uma forma de plantar-se ante o mundo com segurança, com classe e com rebeldia. Gabrielle foi uma outsider que conquistou a cume a sua maneira, sem pedir permissão. Seu perfume, seu tweed, seu vermelho de lábios e seu petite roube noire seguem sendo sinônimo de poder feminino. E assim, Coco Chanel não só reinventó a silhueta da mulher. Redesenhou seu papel na história.