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The Cotton Brand, a marca 'slow fashion' de Carla Cotterli criticada por vender roupa chinesa

A assinatura diz apostar por prendas minimalistas que não passam de moda mas demora o envio de cupones (não realizam reembolsos) e 'toma' artigos de plataformas como AliExpress

Juan Manuel Del Olmo

compra onlineard

O auge do comércio eletrónico tem trazido consigo um molestísimo aumento de páginas site enganosas, especialmente no sector da moda. Estes sites costumam utilizar tácticas para atrair aos compradores e depois oferecer-lhes produtos que não cumprem com as expectativas geradas ou, inclusive, não enviam os artigos adquiridos. The Cotton Brand é uma dessas páginas.

"TheCottonBrand impulsiona prenda-las essenciais atemporales como base de todas suas colecções, fazendo homenagem aos bairros mais emblemáticos de Londres com a cada uma de suas peças. Cores neutras e prendas oversize com um toque vintage que cedem todo o protagonismo a um minimalismo que vem para ficar, apostando por um slow fashion e conseguindo um perfeito fundo de armário composto por prendas que não passam de moda", se diz sobre a marca em Cotterli.com.

Carla Cotterli

Não é uma descrição baladí. Cotterli, companhia fundada pela influencer e empresária Carla Cotterli (casal do expolítico Albert Rivera), abarca diferentes áreas de negócio: influencer marketing, organização de eventos e criação de conteúdo para sites e redes sociais de marcas. Têm colaborado, por exemplo, em campanhas de L'Occitane ou Álvaro Moreno.

Uma prenda à venda em The Cotton Brand / CG

A pata têxtil do negócio é The Cotton Brand, uma loja on-line que propõe vários interrogantes. Em primeiro lugar, a menção à slow fashion resulta equívoca: tal e como se pode comprovar com a ferramenta Google Lens, muitas das prendas que comercializa The Cotton Brand estão sacadas de Amazon ou de AliExpress (summum do fast fashion), plataformas onde são bem mais baratas.

Prendas de Amazon ou AliExpress

Por exemplo, uma das primeiras prendas que aparece no site é uma caçadora, supostamente de couro vegano, que leva o nome de Bayswater Vintage Jacket. Custa 89,99 euros… e a mesma, exactamente igual, vende-se em Amazon por 59,99 dólares (onde especificam, por verdadeiro, que está feita de poliéster).

Jaqueta de The Cotton Brand / CG

A segunda prenda que aparece no site é uma camisa frouxa, Belgravia Shirt que custa 39,99 euros… e cuja imagem está extraída de AliExpress, onde a prenda custa 20,79 euros. Algo mais abaixo há uma gabardina longa a listras que custa 39,99 euros em AliExpress e 120 em The Cotton Brand.

Mesma jaqueta em Amazon / CG

Uma marca "cuidada" com um site simples

"Conheci a marca através de uma influencer que mostrou um vestido em redes sociais e disse que era de The Cotton Brand", conta a Consumidor Global M. Renart. "Joguei um vistazo e pareceu-me uma marca cuidada e a priori interessante, ainda que é verdadeiro que o site era bastante simples, mas não tinha má pinta", recorda.

Tentada, decidiu-se a comprar um vestido. "Quando me chegou, vi que era diferente ao anunciado no site e não gostava como ficava. Quis devolvê-lo, e aí começou o lío", narra. "Não te devolviam o dinheiro, sina que te davam um cupón com o custo. Não é o ideal, mas bom, assim o faziam", descreve esta compradora.

Código para trocar

Essa é a política da marca: "Uma vez recebido o pedido, enviar-te-emos um CÓDIGO pelo valor do custo de teu pedido menos o custo do envio para que o troques em nosso site por aquilo que mais gostes de de nossa colecção", indicam em sua página site.

Uma pessoa abre um pacote / PEXELS

Renart enviou o pacote à direcção solicitada (um andar da central rua Génova de Madri), mas passavam nos dias e não obtinha seu cheque. "Eles, proactivamente, não enviam o cupón. Mandei dois ou três correios e inclusive tentei escrever um comentário em Instagram, e foi então quando vi que tinham todos os comentários desactivados. Comecei a suspeitar", narra.

Uma muito má experiência

Decorreram três meses até que a companhia decidiu actuar. Fazer depois da publicação de uma crítica por parte da compradora num foro de valorações. "Enviaram-me um mail no que pediam desculpas e me anexavam o código a trocar. Não sê por que demoraram tanto e decidiram actuar nesse momento, suponho que tinha muita gente se queixando, como eu, e tiveram que tomar medidas. Em qualquer caso, foi uma muito má experiência e desde depois terminei descontenta", expressa Renart.

Trocou seu código por uma jaqueta de cabelo que chegou com um "packaging cutre: uma carteira branca sem mais". "Nada cuidado, nem uma tarjetita nem nada. Não era o que esperava. A jaqueta não está mau, ma ponho e mais ou menos gosto, mas se vê que da qualidade não se corresponde com o preço. Não acho que o que pagas tenha o valor da prenda", recalca.

Prendas chinesas

Renart tem compartilhado com este meio uma fotografia da etiqueta de dita jaqueta. A informação aparece em chinês, e aclara-se que a pele é "importada" e o forro de poliéster.

Assim mesmo, em Trustpilot há quase 100 opiniões sobre The Cotton Brand, a maioria muito más. "Empresa estafadora. Roubaram-me 230 euros: não me enviaram nenhum artigo, não me respondem, me bloquearam", clamava uma afectada. "SHEIN tem 1000 vezes mais qualidade, serviço e parecido. Preço desorbitado para o que te acaba chegando ao cabo de um mês, e que não se parece em nada à foto. Nem sequer molestam-se em etiquetar com sua marca… sem responder mails nem rastreamento de envio. Roubo", alertava outro em janeiro.

Um homem faz uma compra on-line / PEXELS

"Péssima qualidade"

"O que tenho recebido é de péssima qualidade. Vamos, que é a mesma marca chinesa que podes encontrar em Shein ao meio de preço. Qualquer parecido com a foto é puro filtro. Não voltarei a comprar", denunciava outro comprador molesto.

Tal e como se publicou no Boletim Oficial do Registro Mercantil em maio de 2022, THE COTTON BRAND SL. constituiu-se em março de 2022 com um capital de 3.000 euros, e os administradores solidários são Cristina Vedia Fernández e Carla Bustos Cotterli. Vedia também é a corresponsable de The Nape Brand, uma assinatura que já tem recebido acusações de fraude das que se fez eco este meio. Faz só umas semanas, dois consumidores escreviam no Instagram de Nape assegurando que a assinatura era "uma fraude" e que o pedido jamais tinha chegado. Simultaneamente, The Cotton Brand respondia com uns emoticonos de corações.

Página de Nape The Brand / CG

Consumidor Global tem perguntado a Carla Cotterli onde se elaboram as prendas que comercializam, se consideram que o título de marca é enganoso (a menção ao algodão, cotton, pode inclinar ao consumidor a pensar que os têxteis são de qualidade) e por que dificultam as devoluções, mas, ao termo desta reportagem, a influencer não tem contestado.