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O erro de 'humanizar' a ração dos animais de estimação: do veganismo às receitas caseiras

A boa nutrição para os cães e gatos é fundamental e este tipo de práticas pode causar-lhes doenças graves se não for supervisionada de forma adequada

Dos gatos comen pienso comercial para felinos
Dos gatos comen pienso comercial para felinos

A idade, a raça, o tamanho, o nível de atividade ou se estão esterilizados ou não são só alguns dos fatores a ter em conta na hora de escolher a ração mais adequada para um cão ou um gato. Se ter uma alimentação saudável já é complicado para os humanos --a OMS calcula que 1.900 milhões de pessoas têm excesso de peso--, um dos erros mais comuns é transferir alguns maus hábitos nutricionais para os animais de estimação. Na verdade, estas práticas expõem-os ao risco de desenvolver doenças graves e irreversíveis, segundo advertem os especialistas consultados pela Consumidor Global.

Os cães abanam o rabo com energia e os gatos ronronam de prazer ao receber a sua raçãodiária ou quando são recompensados com algum alimento especial. A felicidade dos donos face a isso faz com que, às vezes, percam a perspectiva das necessidades nutricionais reais dos seus animais. O descontrolo nas quantidades e o desprezo pelos conselhos dos veterinários são alguns dos problemas mais habituais. No entanto, há questões que vão para além disso, como submeter os cães e os gatos às eleições alimentares que os proprietários adoptam por motivos éticos ou de sua própria consciência, como o vegetarianismo ou o veganismo. A elaboração de comida caseira ou dar aos animais de companhia produtos sem gluten também são tendências que envolvem riscos. "Humanizar a nutrição dos animais de estimação é um grave erro", afirma a este meio Luis Alberto Calvo, presidente da Organização Colegial Veterinária Espanhola (OCV).

Os gatos não podem ser veganos

Na internet pode encontrar-se de todo e alguns fabricantes atribuem aos seus produtos qualidades que carecem de sentido. Uma dessas mensagens comerciais é o suposto benefício de a ração ser sem glúten. "A doença celíaca nos animais de companhia, nos dias de hoje, não está descrita como tal. Só existe algo parecido na raça de cães Setter irlandês e nalgumas variedades de Terrier, mas não é celiaquía em si", afirma Roberto Elices-Mínguez, doutor em nutrição animal e professor na Faculdade de Veterinária da Universidade Complutense de Madrid (UCM). No entanto, tanto cães como gatos podem ter intolerâncias alimentares a outro tipo de proteínas que se encontram no ovo, no cabrito, no frango ou nos lacticínios, mas não no gluten, recalça o especialista.

"Alimento para gato adulto completo e equilibrado, elaborado com ingredientes 100% vegetais (veganos) em formato de 2 quilos e 12,5 quilos", diz a descrição de um produto que explora a mensagem de ser um alimento vegano para felinos domésticos. O custo desta ração é de 15 euros no seu formato mais pequeno e de 48 euros no grande. Ou seja, o seu preço está muito acima do preço normal que se pode encontrar em qualquer supermercado e que carece dessa suposta vantagem. O problema principal é que "os gatos são carnívoros, por definição, e não podem nutrir-se com dietas vegetarianas nem veganas. Não se deve jogar com isso", adverte de forma firme Calvo, da OCV. Em contraste, os cães são omnívoros e sim que podem receber todos os nutrientes que precisam através de uma dieta vegetariana ou vegana. No entanto, estas devem estar equilibradas e isso é algo difícil de conseguir, sublinha este veterinário. "Há que as administrar com muito cuidado e responsabilidade. A falta de vitaminas ou de determinados aminoácidos que se encontram com mais facilidade na carne pode levar a que desenvolvam doenças como diabetes ou lipidosis hepática --hígado graso--", argumenta.

Os riscos da comida caseira

Para alguns donos de animais, proporcionar-lhes comidas preparadas em casa é uma ideia atraente. Ainda que pareça simples, a realidade é diferente e, a não ser que tenha desenvolvido um plano de alimentação com um veterinário especializado, "existe um grande risco de que não se lhes proporcione a nutrição necessária", assegura à Consumidor Global Pablo Hervás, director técnico da Associação Nacional de Fabricantes de Alimentos para Animais de Companhia (Anfaac). Na mesma linha manifestam-se Calvo e Elices-Mínguez, que lembram que muitos proprietários de animais de estimação negligenciam os conselhos dos especialistas. "Está na moda cozinhar em casa a comida para os animais de estimação e pediram-me muitas vezes que elabore menus deste tipo. Não há nenhum problema, mas digo-lhes que me assinem por escrito que vão cumprir todas as pautas. O motivo é porque quando não as seguem e aparece uma deficiência culpa-se o veterinário", sublinha o professor da UCM.

Un perro delante de un cuenco de comida / PIXABAY
Um cão adiante de um cuenco de comida

Na verdade, um estudo da Universidade de Califórnia analisou 200 receitas diferentes de alimentos para cães preparados em casa. Selecionaram-se de sites, livros de texto de veterinária e sobre o cuidado de animais de estimação. O resultado revelou que 95 % das mesmas eram deficientes ao menos num nutriente essencial e 84% careciam de vários nutrientes necessários. "Ainda que não seja impossível proporcionar uma dieta nutricionalmente equilibrada em casa, estes resultados mostram que é uma tarefa complicada com muito pouca margem de erro. O controle das calorías também pode ser difícil", argumenta Hervás. No entanto, quando esta prática se realiza de forma ocasional não tem por que ser um problema. Apesar disso, deve-se ter em conta que determinados alimentos podem ser tóxicos para os animais. Por exemplo: as cebolas, o alho, as passas, as uvas, o chocolate, o abacate, certas nozes e osalimentos adoçados com xilitol, entre outros.

A dieta BARF

Outra das dietas que está na moda nos últimos tempos é a conhecida como BARF, acrónimo em inglês de alimentação crua biologicamente adequada. Esta consiste em alimentar a cães e gatos com comida crua pois se presume que seu corpo assimila melhor esses alimentos.. "Muito cuidado com ela. Não está controlada e apresenta mais inconvenientes que vantagens", adverte Calvo, que considera que muitas tendências deste tipo se devem a um excesso de gurús na internet. Neste contexto, tanto o presidente da OCV como Elices-Mínguez sublinham que as rações comercializadas em lojas especializadas e supermercados cumprem com os regulamentos vigentes e são a aposta mais segura, além da mais cómoda.

Agora, como pode um utilizador diferenciar a qualidade destes produtos? A verdade é que não há diretrizes claras. "Quando vês algo no supermercado que tem uma marca estranha e é muito barato, desconfias. Com a alimentação é igual. Há alguns de faixas premium que são bons, mas também muito caros. Deve-se ir a marcas de confiança e investir em função das possibilidades da cada um", recomenda Calvo. Nesse sentido, desde Anfaac assinalam a importância de se atentar para o aporte proteínas, carbohidratos e outros nutrientes necessários para seu crescimento, reparo de tecidos ou para sua reprodução. Além disso, devem ter uma quantidade de gordura adequada para gerar energia e obter os ácidos grasos essenciais.

Quanto custa alimentar os animais de estimação?

No mercado há uma ampla variedade de preços, formatos e tipos de alimentos. Assim, por exemplo, o custo das rações vegetarianas para cães não está ao alcance de qualquer carteira. O preço dos sacos de 15 quilos oscila entre os 40 e os 75 euros, enquanto os habituais e das faixas mais premium não chegam, no geral, aos 50 euros. No entanto, existem opções mais baratas, como as marcas brancas de alguns supermercados, que rondam os 15 euros.

Assim, por exemplo, algumas marcas da Affinity Petcare --Última, Brekkies, Advance e Libra-- são das mais caras que se podem encontrar de forma habitual nas grandes redes. O preço do quilo da alimentação para cães de porte médio de alguma destas marcas ronda os 2,5 e os 4 euros. Em contraste, o quilo de outras marcas como Compy --da Mercadona-- para cães semelhantes não chega a um euro, um preço similar à das --do Dia--. Longe do que possa parecer, as marcas brancas de supermercados não são de má qualidade, como o demonstram vários rankings, que deixam fora dos primeiros postos a marcas com mais pedigree e preços mais elevados.

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