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Emiliano Bermúdez (Donpiso): "Pedir quatro meses de renda adiantados é ilegal".

Entrevistámos o diretor-geral adjunto da empresa imobiliária para falar sobre as práticas abusivas e as dificuldades de acesso a um imóvel para arrendamento ou compra.

Emiliano Bermúdez, diretor-geral adjunto da empresa imobiliária Donpiso / CG
Emiliano Bermúdez, diretor-geral adjunto da empresa imobiliária Donpiso / CG

O lema "Não terás casa na merda da tua vida", utilizado por várias organizações a favor da habitação em 2007, é hoje mais atual do que nunca. O acesso a um imóvel, seja para arrendar ou comprar, figura entre os principais problemas dos espanhóis, segundo o CIS. Para cúmulo, o preço da habitação subiu 7,22% face ao ano passado, e o aluguer de quartos em casas partilhados aumentou<  5,59% só no segundo trimestre de 2023. Estes factores agravantes e a falta de soluções por parte da administração tornam a situação insustentável.

Por isso, a Consumidor Global entrevistou ao director-geral da Donpiso, Emiliano Bermúdez, com o objectivo de tentar esclarecer que falha, que soluções se deveriam aplicar para que o direito à habitação volte a ser um direito para todos, que práticas são legais e quais não, e outras problemáticas do setor imobiliário que padecem os de sempre.

-Um dos direitos que garante a Constituição é o direito à habitação, mas em Espanha cada vez é mais difícil conseguir uma... Que falha?

-Basicamente, a abordagem das administrações é incorrecta. Não fazem a leitura da necessidade de habitação num determinado período de tempo e não gerem essa situação com vista a resolver o que a Constituição estabelece, um problema que se agrava no sector da juventude. Em Espanha não houve políticas de habitação sérias e rigorosas. Não foram postas em cima da mesa soluções. E não se trata de um problema insolúvel, apenas requer vontade política.

-A situação é inustentável tanto no mercado do arrendamento como no da compra…

-Nestes momentos, há uma carência total de oferta. Estamos face a uma situação de escassez de oferta provocada por mais de dez anos sob mínimos na construção de habitação. Com a nova Lei de Moradia, o mercado não será capaz de ajustar o desequilíbrio entre oferta e procura. Há uma situação de precariedade muito estendida, e quem deve de a resolver é o Estado. Falta um parque de habitação de protecção oficial, falta um pacto entre comunidades autónomas e o Estado central, e sobra intervencionismo.

-O problema de base é a falta de oferta residencial nas áreas metropolitanas das grandes capitais espanholas?

-Sem lugar a dúvidas. A escassez de oferta no mercado é totalmente estrutural. A solução, por muitas voltas que lhe dêem, é incrementar a oferta.

-Como se incrementa a oferta?

-A primeira via é fomentar a construção de habitação de protecção oficial a um preço acessível. A segunda seria, em vez de criminalizar os pequenos e médios proprietários, incentivá-los, com bonificações fiscais e garantindo a segurança jurídica, para que todas essas habitações afluam ao mercado do arrendamento. A terceira via está relacionada com as administrações locais e que estas facilitem a mudança do uso de negócios e escritórios, que há em excesso, a habitações.

-Em Madrid o preço médio de uma habitação para um estudante está em mais de 500 euros, e o Salário Mínimo Interprofesional está em 1.080 euros em Espanha. O arranjo está a anos luz…

-Evidentemente. Há situações dramáticas. Há pessoas que trabalham e é impossível que possam emancipar-se e construir um lar. Isto é tremendo e fala do mau que o fizemos neste país a nível de política de habitação, que sempre foi uma ferramenta eleitoral. Criminaliza-se o sector da promoção e da construção, mas em 2022 não se construíram nem 90.000 habitações. É um setor infraexplotado. E urge que as organizações se ponham de acordo com os promotores de habitações.

-"Não terás casa na merda da tua vida" é um lema tristemente vigente…

-Desde sempre. A habitação converteu-se num bem de luxo e não faz sentido algum. Somos a quarta economia do euro e não podemos continuar assim. O problema está concentrado nas grandes cidades.

-Há cidadãos que vão ver um andar e têm que pagar para poder apresentar uma oferta… São legais este tipo de práticas?

-Não é uma prática habitual, mas não é ilegal nem legal, mas sim uma consequência da situação dramática do mercado do arrendamento. Pões um andar a arrendar e alguns não chegam nem a se publicar. Em dois dias tens quarenta pessoas que o querem. Algumas agências fazem uma má praxis. E o que me comentas é uma má praxis. É uma situação dramática.

-Há cidadãos que vão ver um andar sem licença de habitação, sem ar acondicionado nem isolamento, e pedem-lhe quatro meses de renda adiantado (um de aluguer, dois de fiança e um mês para a imobiliária). Por lei, quantos meses se podem pedir de fiança?

-Por Lei, isso é ilegal. À imobiliária tem que pagar o proprietário, segundo a nova Lei da Moradia. Os depósitos estão regulados na Lei e são de dois meses. Por outro lado, está o que cobre a agência, mas o que tem a obrigação de pagar as despesas é o proprietário.

-Quanto subiram os arrendamentos este ano?

-Neste ano ainda há uma verdadeira moderação, mas em grandes capitais subiram acima dos 10%. E há que ter em conta que são subidas sobre um preço extraordinariamente inflacionado, já que nos últimos dez anos não fizeram mais que subir.

-"Donpiso pronostica uma queda de até 20% na compra de habitação devido à incerteza política e monetária"…

-Sim, o que dizemos é que a compra de habitação, se a incerteza política continua, somado à política monetária e às subidas das taxas de juro, cairá até 20%. De facto, no último semestre já se produziu uma queda de 8%. Com este panorama, o número de operações cairá ao redor de 15% até ao final do ano.

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