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J. R. Ubieto: "Os adolescentes dão mais autoridade aos influencers que a seus pais"

Entrevistamos ao psicoanalista e autor do livro 'Adictos ou amantes' para falar da conflictiva relação dos jovens com os móveis e os ecrãs

NIÑOS MOVILES
NIÑOS MOVILES

A vida é isso que passa enquanto olhas um ecrã. Temos passado da alienación na corrente de montagem à alienación em frente a um ecrã azulada, e o scroll é infinito. Somos vítimas da tiranía dos telefones móveis, não somos conscientes disso e precisamos, urgentemente, uma alfabetización digital.

Entrevistamos ao psicoanalista José Ramón Ubieto, autor do livro Adictos ou amantes? Chaves para a saúde mental digital em infâncias e adolescências (Editorial Octaedro, 2023), para conhecer nossos pecados digitais e tentar pôr-lhes remédio.

--Quando os telefones tinham correias, os homens eram mais livres?

--Sim. Dentro de um tempo, e espero que seja pouco, todos perguntar-nos-emos como pudemos não fazer nada quando todos éramos conscientes do que estava a passar. É algo que já tem passado na história da humanidade. Tem sucedido recentemente em Estados Unidos com a oxicodona, esse medicamento, esse analgésico potente que tem tido que matar a meio milhão de pessoas para descobrir que era uma droga pura e dura, ainda que todo mundo o soubesse e em seu momento. O virtual tem irrompido em nossa vidas sem que tivesse um processo social e colectivo de apropriação, tem sido uma onda tecnológica que tem produzido uma situação de perplexidade, um monopólio em media dúzia de pessoas (Bezos, Zuckerberg, etc.) no mundo que controlam tudo isto e que têm lançado uma tecnologia da que não conhecem as consequências. Lançam-no e usamo-lo sem tê-lo declarado o suficiente. Estamos a vê-lo na inteligência artificial com ameaças, hackeos e chantajes de todo o tipo. É como um medicamento pouco declarado que sai ao mercado. A alguns ir-lhes-á bem e a outros produzir-lhes-á efeitos secundários letais. Agora começamos a ser conscientes de que há que pôr um limite a isto. O problema é que parece que o limite o tem que pôr a pessoa. E isto é uma falacia. Um truque da própria indústria. A regulação do virtual tem que ser colectiva. A cada um somos responsáveis, mas não é uma tecnologia neutra, é invasiva, colonizadora, e por tanto requer de uma regulação que implica à administração, à própria indústria, aos pais…

--Adictos ou amantes?

--Encontramos-nos com que a maioria de pais e famílias se referem aos adolescentes como adictos aos ecrãs. Há um erro em isso, porque o uso não há que o medir por comparativa com o analógico, o uso há que medir pela importância que tem para eles a realidade digital. O digital não são objetos, não é um brinquedo, é uma realidade, é um mundo que já não é paralelo. Todos vivemos num mundo híbrido. Entramos e saímos. Não são adictos porque não fazem um uso autístico, isto é, um adicto se define porque seu padrão de relação é que ele com o objeto tem suficiente. Um alcohólico com a garrafa tem suficiente. Não requer de ninguém mais.

--Então, que fazem os adolescentes?

--Ainda que há uma parte de satisfação compulsiva, o fundamental é a relação com o outro. Eles se ligam para postear, compartilhar e se comunicar com o outro. Portanto, não é só um objeto, é um meio para o vínculo com o outro.

--São amantes da comunicação?

--A maneira em que utilizam os móveis e os ecrãs responde mais ao termo amantes, à exigência do amor. O amor tem muitas vertentes, e às vezes é muito narcisista. Há adolescentes que fazem um uso muito narcisista do digital. Põem-se suas fotos e estão todo o momento pendentes deles mesmos. Há outros que utilizam os móveis em procura de amores anaclíticos, isto é, de apoio. Procuram casais e amigos que não encontram no físico para que lhes cuidem. Também encontramos outra vertente, no uso dos móveis, que é a mais posesiva. O amor mais zeloso, mais patológico. Então, dizer que são amantes nos ajuda a não estigmatizarlos primeiramente, não os estamos patologizando. Se dizemos que são adictos, quer dizer que o 95% de toda uma geração de jovens e adolescentes automaticamente converter-se-iam em doentes.

--Os dados não são esperanzadores…

--Com os dados que temos a dia de hoje sobre o que é uma patologia, podemos discernir entre três tipos de relações problemáticas: a sobreutilización, passar mais tempo do razoável; depois temos passar mais tempo do que toca, que afectaria a um 30% dos jovens; e finalmente estão os usos problemáticos, que não dependem do tempo, sina do uso que faças do móvel, como trocar imagens íntimas ou pornográficas de terceiros, ou o que fizeram estes garotos em Almendralejo. E depois está a patologia adictiva, que afecta àquelas pessoas cuja vida gira ao redor do objeto e lhes impede ter uma vida saudável em muitos aspectos. Esta patologia afecta a entre um 3 e um 12% dos jovens.

--Quando passa a hiperconexión a ser um vício?

--Quando a vida se encontra totalmente bloqueada por esse vício. Quando um não pode manter questões básicas como o dormir. Desde que as redes sociais estão generalizadas, os adolescentes têm perdido entre uma hora e uma hora e quarto de sonho ao dia, mas isso é um sobreuso. Um vício seria perder os ritmos circadianos: deitar-se às seis da madrugada porque estão conectados toda a noite. Quando o sonho biológico não o decide o ritmo biológico sina o objeto. Outro signo podem ser os problemas de alimentação: os horários e o tipo de comida estão em função do objeto. Não podes desligar e não comes. Outra pista tem que ver com os vínculos pessoais: não têm relação com a família, se encerram no quarto, mau humor, etcétera. Quando agrupas estes sintomas ou transtornos, quando a vida se encontra bloqueada e suspendida, quando não há nada que vá para além do objeto, estamos ante um vício.

--Os ecrãs estão colonizando vidas ou já o fizeram faz tempo?

--Os ecrãs já levam um tempo colonizando vidas. Uma das ideias do livro Adictos ou amantes é como lhes ajudamos e nos ajudamos, porque o uso dos ecrãs não é exclusivo de meninos e adolescentes. Colonizan a vida por duas funções. O virtual, a cada vez mais, converteu-se no que se denomina 'o sujeito suposto saber, que quer dizer que, a cada vez, nós delegamos o saber no virtual. Delegamos consultas médicas a Google. Supomos-lhe um saber sobre questões vitais. Os adolescentes, inclusive, perguntam coisas como se é boa ideia se suicidar. E as respostas dos foros influem-lhes. Por que? Em momentos de crises, que são frequentes, se dirigem lá para perguntar e o solucionar. Não só perguntas o tempo que fará amanhã, perguntas coisas vitais. Agora os adolescentes passam a vida, especialmente as garotas, perguntando se são lesbianas ou não, porque existe o fenómeno de que a identidade sexual é algo fluído que não está definido pelo sexo biológico, pois consultam sobre sua orientação sexual. Os ecrãs colonizan porque outorgámos-lhes a função de catálogo de saber.

--Que necessidade há do compartilhar todo e receber 'gosto'?

--Olhar, ser olhado, escutar, ser escutados, o exhibicionismo, dá-nos uma satisfação corporal imediata. Internet é uma superfície pulsional. É um lugar onde se satisfazem nossos desejos. Tinder, por exemplo, tem incorporada a inteligência artificial (IA) para que faça o trabalho sujo que requer o iniciar uma conversa. O programa de IA fá-lo por ti. E se no outro lado também há um programa de IA? Delegamos a cada vez mais a criatividade no virtual. Delegamos questões básicas do ser humano, e não é o mais conveniente.

--Parafraseando, em parte, a Marcel Proust, como na cita de seu livro: 'já é hora de parar, parece que as virtudes dos telefones móveis vão aminorándose em detrimento de seus prejuízos…'

--Precisamos regular de uma maneira imediata. Eu falo dos arrependidos digitais, que são executivos, como Tristan Harris (Google), que têm visto que o que faziam era incompatível com seus valores e têm criado coisas como o Centro para a humanización da tecnologia e aplicativos para limitar o uso do móvel. Deram-se conta de que se lhes tem ido a mão. Esse hype, essa sobreexpectativa, vai caindo. Estamos no início da queda. É o momento de tomar consciência. Não devemos esperar a que todo seja um desastre. Temos que nos antecipar e regular. Já temos visto suficientes sintomas e disfunciones. Já há um montão de empresas trabalhando para manipular as eleições de EE.UU. em 2024. Está a passar e temos que ser conscientes disso.

--Tal e como escreve em Adictos ou amantes?, em 2023, o 64% dos humanos (5.160 milhões) usam as redes sociais uma média de 2,5 horas. Isso é muito ou pouco?

–Com que o comparamos? Comparado com o mundo analógico de nossa infância, é uma barbaridad. O critério mais importante não é só o tempo que dedicas a isso, sina o que deixar de fazer. Deixar de ver a gente e deixar de assistir a actos, deixar de fazer desporto ou excursiones, ao que renúncias é o que marca tua alienación ao objeto e nos dá a pauta. A que renunciamos? A ler? A sair a passear? Isso é o que nos marca.

--Como pode saber uma pessoa que precisa uma desintoxicación digital?

--Os primeiros signos detectá-los-á quando lhe apareça um verdadeiro sentimento de hartazgo e culpa. O paciente que se dá atracones de YouTube, bem como há pessoas que se dão atracones de bombones ou gelados. Quando se inventou o scroll infinito, quando a página não acaba nunca, quando te põem um video por trás de outro como em Netflix com o seguinte episódio, é o que inventou a indústria para evitar as pausas. Quando aparece essa sensação de hartazgo, de atracón, de vontades de vomitar, quando és consciente de que renúncias a coisas, tens que te propor que há algo com o que deverias cortar ou limitar.

--Diga-me três chaves para a saúde mental digital de meninos e adolescentes…

--Proibir a tecnologia é um erro e um falhanço. Há que fazer ver que há destinos mais interessantes para nossa satisfação. é um falhanço. É melhor inventar novos destinos e propor aos garotos actividades alternativas, que proibir. É melhor o sim que o não. Seguro. O que não quer dizer que não tenha que limitar. A segunda estratégia pode ser criar reservas naturais ou espaços protegidos sem móveis nas vidas dos adolescentes: sonho, comida, espaços de aprendizagem, estudo, em alguns vínculos sociais… São espaços sagrados. E uma última: atrasar o acesso às novas tecnologias todo o possível. Que tenha meninos de três anos que tenham uma tablet não faz sentido nem interesse. Prejudica seu desenvolvimento. Aprendê-lo-ão imediatamente. a essa idade há que aprender a socializar. Quanto mais possamos atrasá-lo, melhor. E para acabar, precisamos uma alfabetización digital. Precisamos aprender sobre segurança e privacidade para não tolerar o assédio e ter em conta a impressão digital.

--Os adolescentes de hoje são vítimas da tiranía dos telefones móveis?

--Sim. Sem dúvida.

--Os influencers são os novos pais?

--Os influences são os novos ídolos e referentes dos adolescentes, como dantes tínhamos posters de activistas como Gandhi ou de músicos como Lennon. Os influencers são esses novos ídolos, mas com uma capacidade de interacção infinitamente maior que a minha com Gandhi. Os estudos cifran que o 50% dos adolescentes consideram que os influencers são seus amigos, quando nunca têm falado com eles, e lhes dão uma autoridade que desde depois não outorgam aos pais. É mais, os influencers podem chegar a ser uma opa hostil para os pais.

--As grandes empresas tecnológicas, além de ser o olho que todo o vê, são o novo amo com umas servidões voluntárias?

--Complementante. A indústria tecnológica compra vontades e tem uma influência que não se corresponde com a soberania que deveria existir num estado. Toma decisões que afectam a toda a população. Há um investimento da soberania.

--Em Espanha, um terço dos adolescentes dentre 12 e 17 anos já passam mais de seis horas diárias ante o ecrã do móvel…

--Assim é.

--É uma sobreutilización ou é um vício?

--Mais de seis horas ao dia é uma sobreutilización, não é um vício. Ainda que se passa essas seis horas em horário escolar, já temos um uso mais problemático. O que define a relação com o móvel é aquilo ao que renúncias.

--Como afecta a sua saúde mental o digital? Afecta à aprendizagem social? À empatía com o outro? À capacidade de concentração?

--Eu utilizo o termo sequestro da atenção. Um dos riscos mais importantes é este. A tecnologia sequestra a atenção porque focaliza e rentabiliza seu negócio com isso. Isso nos afecta. Lês e o movil acende-se… Interrompes. Já te tens despistado. É um dos problemas dos móveis nas escolas. Começamos procurando 'metabolizar' e acabamos vendo TikTok. O sequestro da atenção baseia-se no hiperlink. Ao final já não sabes o que procuravas. E deriva num problema de entendimento leitora. Quando tens um livro na mão, pesa, por isso sustentar o livro facilita a concentração. Quando olhas um ecrã, podes olhar e fazer quatro coisas diferentes. É o eclipse da atenção.

--Comprar-se um móvel tonto é o mais inteligente que podem fazer os consumidores?

--Mais que dar uma pauta igual para todos, a cada um tem que ser consciente da que renúncia, de que se está a privar, e a partir de aqui, da alienación tecnológica. A cada um procura fórmulas. Os avisadores de tempo, por exemplo, são uma fórmula. Utilizar um móvel sem conexão os fins de semana é outra. O divulgador Johann Hari retirou-se três meses a uma casa na praia da costa este de EE.UU. e fez uma desintoxicación, mas não todo mundo pode lho permitir.

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