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A farsa dos copos recicláveis em festivais: um negócio à custa do meio ambiente?

Um novo regulamento obriga os promotores imobiliários a facilitar a devolução do depósito destes contentores quando estes são devolvidos.

Público de um festival com copos recicláveis / GRANADA SOUND
Público de um festival com copos recicláveis / GRANADA SOUND

O verão está cheio de festivais de música e macroeventos cujo impacto ambiental daria para uma tese de doutoramento. Uma das grandes farsas destes eventos com o seu suposto compromisso com a sustentabilidade tem a ver com a venda de copos reutilizáveis para, na teoria, reduzir o impacto dos plásticos. A realidade: nem são reutilizados nem acabam com o problema.

Os promotores souberam ver nestas embalagens uma mina de ouro. Pagar um, duas e até três euros por um recipiente que ao empresário lhe custa uns 20 céntimos é um negócio redondo à custa do meio ambiente. Claro que, o ideal seria poder retornar estes copos, recuperar o custo e voltar a utilizar na edição do ano seguinte. Uma acção que a poucos promotores interessa.

O embuste dos copos reutilizáveis

Conquanto esta prática é habitual em grandes recintos como o Estádio Olímpico de Montjuïc e o Palau Sant Jordi de Barcelona, onde alguns aproveitaram para pagar a entrada dos concertos de Elton John ou Coldplay recolhendo copos recicláveis, a possibilidade de devolver estas embalagens e recuperar o dinheiro é facilitada em muito poucos recintos.

Varios jóvenes disfrutan de un festival / EP
Vários jovens desfrutam de um festival / EP

É que os macrofestivais não vêem isso com clareza. Vêem melhor vender cem mil copos e ganhar 100.000 euros, aumentando o desperdício do plástico. Segundo o estudo Reusable vs Single-Use Packaging publicado em 2020 pela Zero Waste Europe, para que um copo reciclável seja eficiente deve ser usado pelo menos dez vezes. O motivo é óbvio: um copo deste tipo requer mais dez vezes plástico, energia e recursos para o seu fabrico.

Mais um negócio para o festival

Nando Cruz é jornalista musical e autor do livro Macrofestivales: o buraco negro da música (Península, 2023), no qual dedica um capítulo a este "ecotimo" do copo. "As embalagens recicláveis são mais um elemento para ingressar. Utiliza-se a afirmação real de produzir menos plástico, mas a verdade é que não se voltam a utilizar, só lhes dá um uso e meio em todo seu percurso", explica Cruz à Consumidor Global.

Na opinião do jornalista, o dos copos é "um assalto à mão armada" tolerado pelas administrações e no qual a única solução a este abuso é que os consumidores e utilizadores denunciem e se queixem.

Uma nova lei obriga a facilitar a devolução dos copos

A 1 de julho entrou em vigor uma nova lei que obriga os festivais a ter mecanismos para retornar o dinheiro pago pelos copos reutilizáveis. Está incluído no Real Decreto 1055/2022 de embalagens e resíduos de embalagens, que também obriga a garantir pontos de água potável para o público, um serviço básico que pouco a pouco começa a ser mais habitual, embora com muitos aspectos a melhorar, como a disponibilização de uma única fonte para um recinto com capacidade para quase 20 000 pessoas.

No fim de semana em que este regulamento entrou em vigor celebrou-se em Madrid o festival Rio Babel com Juan Luis Guerra, Morat ou Julieta Venegas como cabeças de cartaz. Vários assistentes confirmaram a este meio que tentaram retornar os copos reutilizáveis de 2 euros que vendia o festival e que não se lhes deu a possibilidade. O próprio departamento de imprensa deste evento confirmou à Consumidor Global que não se deu esta opção, apesar de ser obrigatório com o novo regulamento.

O copo 'souvenir'

O mesmo ocorreu no Weekend Beach de Torre del Mar em Málaga. O festival que se realizou na cidade andaluza de 5 ao 8 de julho também confirmou que não permitiu a devolução dos copos, que custaram 2 euros. "99 % dos festivais não se devolve o custo desses copos, entre outras coisas porque estão serigrafiados com os cartazes dos artistas que atuam no festival, logotipo do festival, frases e demais, pelo que o utilizador leva-o para casa tipo souvenir e o utiliza-o em casa", afirmam fontes da organização a esta redacção.

Un vaso reutilizable del festival Río Babel / RÍO BABEL
Um copo reutilizável do festival Rio Babel / RIO BABEL

"Um copo não se pode considerar souvenir para fazer gastar os utilizadores um dinheiro que não vale", critica Nando Cruz a estas afirmações. Tal como Rio Babel ou Weekend Beach, a imensa maioria dos festivais é relutante a tomar conta dos copos e devolver o depósito ao público. Alegam que dezenas de milhares de pessoas fariam fila na única cabine de reembolso que existiria, em comparação com o grande número de bares que existem para fazer pedidos. "Também não é habitual servir em copos não comprados no festival, e os que o fazem não o publicitam suficientemente para que o hábito não se espalhe", diz Cruz no seu livro.

Denunciar as práticas abusivas

Este verão toca vigiar aqueles eventos que podem ter práticas abusivas para os consumidores, como é a farsa do copo reciclável. Na opinião de Nando Cruz, o espectador de festivais em Espanha é pouco crítico e luta pouco pelos seus direitos.

"Assumimos como normais práticas que não o são. O mesmo público que vai a um festival é mais exigente num restaurante. Devemos exigir como espectadores ser tratados pelo dinheiro que pagamos e temos que pedir às administrações que nos defendam e dêem explicações quando se dão situações assim", conclui o jornalista.

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