A história do streaming na última década tem sido um carrossel de mudanças, fusões, guerras pela atenção e decisões empresariais que às vezes rozan o incomprensible.
Uma das mais desconcertantes foi, sem dúvida, a ocorrida em 2023, quando Warner Bros Discovery decidiu apagar de um plumazo uma das marcas mais poderosas e reconhecidas da televisão: HBO. O rebranding que converteu HBO Max no anodino Max gerou mais confusão que entusiasmo. Dois anos depois, a companhia tem decidido recuar.
HBO Max volta
Sim, o nome da plataforma que fez possível um trono de ferro tem voltado a ressuscitar. HBO Max volta.
Durante uma apresentação em Nova York, Warner Bros Discovery anunciou que seu canal de streaming principal voltará a se chamar HBO Max a partir do próximo verão (2026), num movimento que, ainda que não o digam com todas as letras, admite entre linhas que aquilo de deixar à margem HBO foi um erro.
Quarta marca numa década
Se isto soa a déjà vu, é porque o é. A plataforma de streaming leva mais reencarnaciones que uma personagem de novela de Haruki Murakami: HBO Go (2008), HBO Now (2015), HBO Max (2020), Max (2023)… e agora, outra vez, HBO Max. Tudo isto em mal dez anos.
A decisão de eliminar "HBO" do nome justificou-se em seu momento como uma forma de englobar uma oferta mais ampla de conteúdos, provenientes tanto de HBO como de Discovery. Mas o novo nome, Max, era genérico, impersonal e, o pior, olvidable. Max que? Quem é Max?
O prestígio não se toca
A volta às raízes vem acompanhada de um discurso triunfalista. Warner Bros Discovery afirma que sua plataforma vive um "momento excepcional", com quase 3.000 milhões de dólares em benefícios em dois anos, 22 milhões de novos subscritores no último ano e uma projeção de atingir os 150 milhões de utentes em 2026. Cifras que, ainda que impressionantes, não têm impedido reconhecer que o poder da marca HBO segue sendo um ativo incuestionable.
"Hoje recuperamos a esencia de HBO, uma marca sinônimo de qualidade no mundo do entretenimento". deixa claro David Zaslav, presidente e CEO da companhia. E é que se algo distingue a HBO é essa mistura de produções arriscadas, séries de autor, sucessos internacionais e um catálogo que tem influído na televisão contemporânea.
Entre o pragmatismo e a nostalgia
Por trás desta marcha atrás há, por suposto, estratégia. Warner não pode se permitir perder o terreno ganhado numa indústria onde Netflix segue sendo o líder indiscutido, representando um 8% do tempo total dedicado a ver televisão, segundo os dados de Nielsen citados pelo New York Times. A concorrência é feroz e a cada decisão conta. Por isso, recuperar o empacotamento de HBO não é só uma questão de identidade, sina de sobrevivência comercial.
Com seu regresso, Warner Bros. Discovery não só trata de reconectar com sua audiência, sina também de reconectarse consigo mesma. Porque sim, às vezes voltar atrás é a melhor maneira de avançar.