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O desterro do leite de vaca: os bebidas vegetais acabam com o setor dos laticínios

O consumo de leite desce há faz anos face à ascensão de alternativas vegans, que têm ganhado a batalha da história da alimentação saudável

Un grupo de vacas de la industria láctea   PIXABAY
Un grupo de vacas de la industria láctea PIXABAY

Soja, aveia, amêndoa, avelã, arroz, coco e muito mais. Todos estes frutos já têm o seu próprio leite comercializado em qualquer supermercado. E não é de estranhar, os espanhóis adoram bebidas vegetais. Em 2020, venderam-se 246 milhões de litros por um valor próximo aos 318 milhões de euros, segundo um estudo do projeto europeu Smart Protein. Enquanto o consumo destes produtos continua em constante crescimento, o leite de vaca de toda a vida não se encontra no seu melhor momento. Em apenas duas décadas, as famílias espanholas deixaram de beber 830 milhões de litros anuais (de 4.025 a 3.195): uma queda de mais de 20% entre o início de século e 2020.

Estas são as condições nas quais se encontra a indústria láctea espanhola, um setor que em 2019 contava com 1.726 empresas que geravam 60.000 postos de trabalho. A nova concorrência só agrava uma situação já de si complicada, como é a dos preços do litro de leite, que também têm caído a pique na última década. Duas frentes abertas que põem à prova a resistência de um setor ferido de gravidade por duas crises consecutivas em apenas duas décadas.

Fazendeiros contra a soja

Em junho de 2017, o Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) ratificou uma das reivindicações que os fazendeiros e trabalhadores do setor lácteo defendiam desde há anos: os bebidas vegetais não podem se definir como leite, já que este é exclusiva dos produtos animais. "Custou muito conseguir que deixassem de lhes chamar leite e de que nos separassem nos supermercados. Era uma concorrência desleal que confundia os consumidores", afirma Román Santalla, secretário da Ganadería de la Unión de Productores Agrarios (UPA).

Os fazendeiros admitem uma mudança no hábito dos consumidores. Apesar de que Espanha continua a ser um dos maiores consumidores de leite na Europa, cada espanhol bebe 10 litros anuais menos que há dez anos. Santalla atribui o crescimento dos bebidas vegetais a um marketing poderoso e interessado com o que as grandes marcas se esquecem da rede de valor de um produto como o leite e as suas propriedades como alimento. "Não se preocupam nem com os trabalhadores nem com a saúde, só com o negócio", confessa. Mostra confiança no futuro da indústria ainda que também o defina como incerto.

Guerra nutricional

Uma das batalhas que mais fez com que o leite perdesse para a opinião pública tem sido a da saúde. Não são poucos os estudos que realçam que um excesso de produtos lácteos podem ser pouco saudável, e se têm desmitificado alguns aspectos que acompanhavam a estes alimentos, como ser um elemento indispensável para obter cálcio na dieta. "O consumo de laticínios associa-se a um menor risco de aparecimento de doenças como a hipertensão e as cardiovasculares no general. Além disso, os laticínios são a principal fonte de ingestão de cálcio dos europeus", afirma Luis Calabozo, diretor da Federación Nacional de Industrias Lácteas (Fenil).

Esta associação de laticínios considera que os bebidas vegetais não precisam de ser um rival a enfrentar, mas sim um complemento. Em todo o caso, Calabozo não acha que possam chegar a ser substitutos. "Quando compramos guiados por uma rótulo como leite, iogurte ou queijo, há toda uma escolha dietética detrás insubstituível, na forma de um contributo de proteínas de alto valor biológico e ácidos gordos essenciais", sublinha. E destaca que esta indústria é um setor chave e estratégico para muitas regiões de Espanha que não se deve abandonar por nenhuma moda nem tendência.

Esperança no futuro

2020 foi um ano de inflexão para o leite em Espanha. Tal como ocorreu com o consumo de carne, o confinamento provocado pelo Covid-19 produziu uma mudança na tendência negativa que o setor sofria desde há mais de uma década. Isto devolveu a esperança à indústria, ainda que não se pode descartar que fosse uma mudança circunstancial dadas as condições únicas desse ano. Nuria María Arribas, diretora gerente da Organización Interprofesional Láctea, mostra-se confiante no incremento de 6,7% no volume de compra de leite, ainda que admite que devem ser precavidos.

Com respeito à guerra com os bebidas vegetais, Arribas é mais contundente. "Alguns lobbies encarregam-se de espalhar boatos nas redes sociais e internet para desprestigiar os produtos lácteos. Muitas destas bebidas provêm de plantações intensivas que não beneficiam o planeta, pelo que não são alimentos ecofriendly como costumam mostrar nas suas comunicações publicitárias", reflete a especialista. Em todo o caso, espera que a evidência científica ajude a informar melhor os consumidores para que recuperem a confiança no leite.

Os bebidas vegetais apelam à saúde e ao meio ambiente

Por sua vez, as produtoras e revendedoras de bebidas vegetais fazem questão de realçar os benefícios nutritivos e meio ambientais dos seus produtos, um âmbito no que têm ganhado a batalha do meio mediático. "50% dos lares em Espanha já incorporaram de forma regular alternativas aos laticínios. A sustentabilidade é uma razão que ganha cada vez mais peso nas razões para utilizar estas bebidas", afirma da Nestlé, multinacional proprietária de marcas como A Lechera.

O gigante francês afirma que a diversidade dietética, a procura de nutrientes e as alergias alimentares abrem a porta a este tipo de preparados. A Nestlé admite a tendência a consumir mais alternativas vegetais, e justificam-na como um ato em defesa do planeta. A batalha entre o leite e os bebidas vegetais apenas começou.

 

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