Esta manhã, enquanto a electricidade desaparecia de lares, ruas e escritórios ao longo de toda Espanha, uma cena insólita começou a se repetir em muitos bairros de norte a sul. Cidadãos de todas as idades saíram à rua em procura de um artefacto quase esquecido, uma reliquia de outros tempos; a rádio de pilhas.
Hoje, o país tem revivido seu próprio "dia dos transistores", como um eco involuntario de épocas nas que as notícias só viajavam através das ondas de rádio.
A necessidade de saber que ocorre
O blecaute, que começou a meia manhã, afectou a vastas áreas do país devido a uma falha em massa na infra-estrutura elétrica, segundo comunicaram fontes oficiais.
Com internet fora de serviço, os móveis cedo inservibles e a televisão silenciada, a necessidade de saber que estava a ocorrer se converteu numa urgência. E assim, o modesto transistor, esse pequeno receptor portátil alimentado por pilhas, voltou a converter num bem cobiçado.
Fica alguma rádio de pilhas?
Neste contexto, decidi sair a procurar um, acompanhada de minha sobrinha, com uma mistura de curiosidade jornalística e espírito de sobrevivência. O bairro de Sarrià, em Barcelona, foi nosso palco.
Primeira parada: uma loja de eletrónica das de toda a vida. O dono, acostumado a vender routers e auriculares bluetooth, recebeu-nos com um sorriso apressado:
–Sento-o, esgotaram-se esta mesma manhã. Nunca tinha visto algo igual.
Segunda loja: aqui também se tinha produzido o pequeno éxodo de transistores.
–Fica alguma rádio a pilhas?
–Nada, voaram dantes da hora de comer. Também não ficam-nos velas—contestou o dependente, encolhendo-se de ombros.
O último disponível
Nossa última esperança levou-nos a uma loja no canto da rua Maior. Chegamos justo a tempo para ver como um homem se levava o último aparelho disponível. Dentro, o dono e seu empregado –rebuscando entre estantería–tratavam de encontrar as pilhas adequadas, enquanto os clientes, numa bicha improvisada, compartilhavam episódios e frustraciones.
O que sucedeu hoje é um lembrete de nossa fragilidade tecnológica. Bastaram umas horas sem electricidade para que uma geração inteira, acostumada à conectividade instantânea, descobrisse a importância de um aparelho analógico como o transistor. Não conseguimos uma rádio, mas sim a certeza de que em tempos de incerteza, a necessidade de informação segue batendo com a mesma força que sempre. E, talvez, com mais encanto que nunca.