Nas residências de maiores, o que se serve no plato também é uma questão de dignidade. Durante anos, as denúncias de familiares e residentes têm soado como um eco insistente nos corredores dos centros.
Raciones escassas, menus repetitivos, produtos de baixa qualidade e um desfile de platos insípidos têm desenhado um panorama preocupante tanto em centros públicos como privados. Mas o hartazgo tem chegado, por fim, a ouvidos do Governo.
Um real decreto para regular o problema
O Ministério de Direitos Sociais, liderado por Pablo Bustinduy, tem anunciado que sacará adiante um real decreto para regular a alimentação em residências de maiores e hospitais. O objectivo é garantir que o que se serve nestes centros seja saudável, nutritivo, digno e, se é possível, um pouco mais sabroso.
Esta iniciativa não parte de zero. Segue a estela do recentemente aprovado Real Decreto de Comedores Escoares Saudáveis e Sustentáveis, que entrará em vigor o próximo curso escoar e que já estabelece regras claras para melhorar o que comem meninos e adolescentes em colégios e institutos: mais verduras, frutas e pescado fresco; menos fritangas, processados e doces. Agora, essa mesma filosofia aplicar-se-á a dois meios especialmente sensíveis como são os hospitais e as residências.
Comer bem é uma questão de saúde (e de justiça)
"O direito a uma alimentação saudável não termina ao cruzar as portas de uma residência ou de um hospital", tem afirmado Bustinduy. Não lhe falta razão. Nestes centros convivem pessoas dependentes, maiores, com doenças crónicas ou necessidades especiais. Seu dieta não só influi em sua qualidade de vida, também em sua recuperação e bem-estar emocional. No entanto, até agora, o menu tem estado muitas vezes regido mais por critérios económicos que nutricionais.
O futuro decreto estabelecerá critérios mínimos de qualidade nutricional e de sustentabilidade para todos os alimentos e bebidas que se ofereçam em hospitais e residências. Não se trata só de que tenha mais fruta e menos bollería. Também pôr-se-á o foco na forma em que se compram e cozinham os alimentos, promovendo práticas mais sustentáveis e responsáveis. Ademais, pretende-se utilizar este novo marco normativo para orientar a contratação pública nestes serviços, de forma que os editais de licitação incluam exigências claras.
Para além do plato
Este decreto representa uma promessa importante, mas também propõe reptos. Estão os centros preparados para esta mudança? Terão os recursos necessários para oferecer menus à altura do que estabelece a lei? E, sobretudo, aplicar-se-á com o mesmo rigor em todo o território, sem cair na armadilha das boas intenções que ficam no papel? A chave estará, como sempre, na implementação e na vigilância.
Num país onde cada vez vivemos mais anos, mas não sempre melhor, cuidar o que comem nossos maiores e nossos doentes não pode ser uma opção secundária. Este decreto é, ao fim, um passo para uma alimentação que respeite a saúde, a dignidade e o paladar. E isso, em qualquer mesa, sabe a vitória.