Luzes e sombras da Estratégia Nacional de Alimentação

A Estratégia Nacional de Alimentação (ENA) pretende consolidar a Espanha como uma potência alimentar que garanta a produção sustentável, revigore as zonas rurais e melhore a saúde de sua população através da alimentação

O dietista e nutricionista Juan Revenga dá conselhos dietéticos / CG PHOTO SHOTING
O dietista e nutricionista Juan Revenga dá conselhos dietéticos / CG PHOTO SHOTING

Apresentada pelo Governo de Espanha em fevereiro de 2025, a Estratégia Nacional de Alimentação (ENA) é um ambicioso passo para diante ao que, não obstante, se lhe critica por sua falta de concreción e participação dos supostos actores implicados.

Com uma proposta integrador, isto é, desde a produção até o consumo, a ENA pretende abordar importantes problemas relacionados com o meio alimentar como a mudança climática, a despoblación rural e os problemas nutricionais da população relacionados com a obesidad e as doenças não transmisibles.

Os aciertos da ENA: uma visão integral e necessária

Um dos pontos fortes da ENA é seu enfoque integral. A estratégia não se limita a um aspecto concreto do sistema alimentar, sina que o abarca de forma transversal, desde a produção primária até o consumo nos lares.

Outro aspecto positivo é o de reconhecer que é imprescindível apoiar às zonas rurais e costeras, essenciais para o fornecimento alimentar. Neste sentido, a ENA inclui medidas para fomentar o relevo generacional no campo e pesca-a, dois sectores que se enfrentam a um alarmante envejecimiento de sua população. Também se destaca o impulso à produção local e de proximidade.

Ademais, a ENA põe uma ênfase notável na luta contra o desperdicio alimentar e a promoção de uma alimentação saudável. A adopção de medidas para reduzir a obesidad infantil e melhorar a educação nutricional a partir da dieta mediterránea, responde a uma necessidade urgente como as crescentes desigualdades no acesso a alimentos saudáveis.

As sombras: falta de participação e concreción

Apesar de seus aspectos positivos, a ENA tem, em minha opinião, aspectos mejorables. Um dos principais pode ser a falta de participação da sociedade civil e de actores finque em seu desenho. Ainda que para a redacção realizaram-se reuniões com alguns sectores, diversas organizações têm denunciado a ausência de um processo verdadeiramente inclusivo, o que tem gerado dúvidas sobre se a estratégia responde realmente às necessidades do conjunto da sociedade ou se ao final sozinho são "palavras bonitas".

Outro problema importante é a vaguedad na implementação de algumas medidas. Conquanto a ENA lista objectivos ambiciosos, em muitos casos carece de prazos claros, indicadores de rastreamento ou orçamentos específicos. Sem uma folha de rota detalhada e mecanismos de avaliação, a estratégia corre o risco de ficar num documento de boas intenções com escasso impacto real.

De igual forma, ainda que menciona-se a necessidade de apoiar ao sector agrícola e pesqueiro, a estratégia não aborda de maneira clara a questão da rentabilidade para os produtores. A pressão dos grandes revendedores e a concorrência de mercados internacionais continuam estrangulando a muitos agricultores e ganadeiros, e a ENA não propõe medidas suficientemente sólidas para corrigir esta classe de desequilíbrios estruturais.

Uma estratégia sem medidas concretas no consumo

O ênfase da ENA na alimentação saudável é um ponto a favor, mas suas medidas neste âmbito são insuficientes se não se acompanham de regulações mais estritas. Ainda que menciona-se a importância da educação nutricional, o documento não estabelece medidas concretas para frear o márketing agressivo de produtos ultraprocesados dirigidos aos menores.

Também não abordam-se de forma clara políticas fiscais que poderiam incentivar uma alimentação mais saudável, como a redução do IVA em produtos frescos ou o aumento de impostos a bebidas azucaradas e ultraprocesados. Já seja no conjunto de Europa ou em países como França e Reino Unido se avançou neste tipo de políticas com resultados positivos, e a falta de propostas nesta linha na ENA representa uma oportunidade perdida.

Propostas para uma ENA mais efetiva e participativa

A ENA poderia ser um ponto de partida valioso se melhorasse-se, dando-lhe um enfoque mais participativo e concreto. O acima assinante propõe:

  1. Maior transparência e participação cidadã: é fundamental que o Governo implemente mecanismos reais de consulta e colaboração com organizações de consumidores, pequenos produtores, experientes em nutrição e a sociedade civil. A política alimentar deve ser construída colectivamente e não só desde os despachos.
  2. Compromissos claros e vinculantes: a estratégia deve incluir metas com prazos específicos, indicadores de impacto e recursos financeiros concretos. Sem estes elementos, as boas intenções ficarão em nada.
  3. Apoio real ao sector primário: para garantir uma alimentação sustentável, é necessário um maior respaldo aos agricultores, ganadeiros e pescadores, incluindo preços justos, protecção em frente à concorrência desleal e medidas contra a especulação na corrente de distribuição.
  4. Regulação mais estrita do mercado alimentar: é imprescindível um marco regulador que limite o marketing de produtos pouco saudáveis, ao mesmo tempo em que também dever-se-ia propor a possibilidade de impulsionar incentivos fiscais para seguir uma alimentação saudável (não todo tem de ser pôr impostos aos produtos com pior perfil nutricional).
  5. Educação nutricional integral: para além de campanhas pontuas, é necessário incorporar a educação alimentar no currículo escoar, formando a meninos e adolescentes em hábitos saudáveis desde uma idade temporã e, já postos, com a presença da figura do dietista-nutricionista nestes labores. Não estaria a mais desempolvar certas propostas, que tiveram uma boa acolhida em seu dia, como a criação de matérias específicas de "alimentação saudável" ou oficinas de cozinha.