Ana López-Santacruz (AESAN): "Temos a sorte de ter os alimentos mais seguros do mundo"
Falamos com a diretora executiva da Agência Espanhola de Segurança Alimentar e Nutrição sobre alertas, recomendações e procedimentos

Na cena final do Caballero Escuro (2008), Gordon reflexiona sobre a verdadeira natureza de Batman e diz que é "um guardião silencioso", "um protetor vigilante". Algo disso tem, ainda que exista um abismo entre a épica do superhéroe e a rigurosidad oficinesca com a que operam os organismos do Estado, a Agência Espanhola de Segurança Alimentar e Nutrição (AESAN). Não há, desde depois, batarangs, ganzúas nem batmóviles, mas a ciência, a inspecção e a comunicação, bem conjugadas, são armas que melhoram e salvam vidas.
Sua diretora executiva é Ana María López-Santacruz, que anteriormente esteve à frente do Centro Nacional de Alimentação (CNA). É doutora em Farmácia pela Universidade Complutense de Madri e está especializada em Segurança Alimentar. Consumidor Global tem falado com ela.
–Que desafios considera a Aesan que são mais relevantes no panorama atual da alimentação em Espanha?
–Temos a sorte, em toda a União Européia, de ter os alimentos mais seguros do mundo, e isso é graças a uma regulação e a um sistema de trabalho de segurança alimentar muito estritos. Levamos quase 25 anos trabalhando sobre uma base, com uma autoridade independente e a Comissão Europa, com a que regulamos e tomamos as necessárias medidas de gestão de risco. Medidas legislativas, principalmente, mas há muitas outras. Esse sistema já funciona bem, mas um dos grandes reptos que temos é o reforçar, porque todo é mejorable. Uma das coisas que preocupam agora é o tema dos alérgenos e o do etiquetado. E em isso estamos. Ademais, esse é só o pilar de segurança alimentar dentro da Agência.

–Qual é o outro?
–O outro é a nutrição. Consiste em fomentar uma dieta saudável e sustentável, sobretudo entre coletivos vulneráveis. Nesse sentido, temos agora em marcha muitas iniciativas legislativas que verão a luz em poucos anos. Alguma fá-lo-á neste ano.
–Quantas pessoas fazem parte da Agência?
–Somos uma agência pequeñita. Na Aesan tentamos fazer magia, porque somos poucos, para perto de 170 pessoas, distribuídas em três sedes. A principal é a da rua Alcalá 56, onde estão os escritórios centrais; à que se somam dois laboratórios de referência, um em Majadahonda (o Centro Nacional de Alimentação) e o outro em Vigo, que é o laboratório europeu de referência num âmbito alimentar concreto, o das biotoxinas marinhas. Temos uns 20 milhões de euros anuais dos Orçamentos Gerais do Estado, que, em termos da administração pública, é pouco dinheiro para a quantidade de objectivos que temos.

–Quanto tempo passa desde que uma empresa comunica uma alerta até que se publica?
–Não há um tempo estimado, é asap, as soon as possível [o quanto antes]. O papel que tem a Aesan não é o fazer tudo, sina coordenar às comunidades autónomas que são competentes quanto a controle (o que inclui a gestão de alertas a nível de empresas, mercados e restaurantes) e segurança alimentar. Os inspectores de previdência das comunidades autónomas estão coordenados com as Consejerías de Previdência e verificam que as empresas alimentares cumprem com seu trabalho, que é pôr alimentos seguros no mercado. Ademais, vão aos restaurantes, aos supermercados, etc. comprovando que todos os critérios se cumprem. Também tomam mostras, que se enviam depois aos laboratórios de controle oficial de suas comunidades autónomas, que estão supervisionados pelos nossos. Todos trabalhamos em rede.
–Poderia detalhar-me o processo?
–Quando surge uma incidência, o que ocorre é que uma empresa alimentar detecta um determinado risco num de seus controles rotineiros e obrigatórios. Detecta-o e comunica-lho às autoridades competentes da comunidade, normalmente de forma imediata. A seguir, a empresa e as autoridades trabalham conjuntamente analisando que medidas tomar. Mas não sempre chega esse alimento ao consumidor: pesquisa-se onde está, que lotes são, onde se distribuíram… E se resulta que não tem saído da empresa, não há nenhuma alerta. O alimento retira-se e destrói-se, não aparece em nenhuma rede de alertas e ninguém se inteira. Isso passa praticamente a diário.

–Isso prova, entendo, que o sistema funciona.
–O sistema está a funcionar. Que ocorre? Que de vez em quando, dado que os controles analíticos que fazem as empresas podem demorar uns dias, pode ter produtos que efectivamente sejam distribuídos dantes de que dita empresa identifique que têm, por exemplo, uns níveis de salmonela acima do legislado, o que pode supor um problema. Rapidamente identificam-se os lotes, analisa-se a traçabilidade, retiram-se… E ninguém se inteira porque não se tem que inteirar. Pensemos também que os controles não se fazem a tudo, se fazem baseando no risco. Seria impossível fazer controles a tudo, não teria meios.
–E se esse produto efectivamente distribuiu-se…
–Aí coordenamos-nos todas as comunidades autónomas, não só as afectadas, com a Agência, e baseando nuns critérios que temos publicados em nosso site, lembramos que é necessário publicar dita informação para que a população a conheça e não consuma o alimento em questão. E isso ocorre, aproximadamente, um 10 ou um 15% das vezes sobre o total das incidências que gerimos, segundo nossas estimativas. Está todo muito controlado.

–A Lei de Segurança Alimentar contempla sanções para as empresas que não informem devidamente aos consumidores quando detectem que se comercializaram alimentos em mau estado. Poderiam dizer-nos alguma empresa que tenha sofrido estas sanções?
–As infracções e sanções em matéria de segurança alimentar são concorrência das comunidades autónomas, de maneira que são elas as que averiguan, sancionam e tomam as medidas correspondentes.
–Que dois ou três conselhos básicos dar-lhe-ia aos consumidores para que possam levar uma alimentação saudável e segura em seu dia a dia?
–Eu diria que o importante é levar uma dieta equilibrada e saudável com produtos frescos e de cercania. Para isso temos umas recomendações dietéticas saudáveis e sustentáveis publicadas no site da Agência. Aí vem muito e muito básico, e isso seria um bom ponto de partida para qualquer que esteja interessado. Mais especificamente sobre segurança alimentar, o primeiro conselho seria que estejamos tranquilos, porque os alimentos estão controlados e o sistema funciona.

Ademais, o consumidor geral (que não tenha sensibilidade nem alergias) deve manter a corrente do frio, cozinhar os alimentos adequadamente, evitar a contaminação cruzada (por exemplo, nas superfícies da cozinha, não misturar alimentos crus com cozinhados) e ler bem as etiquetas, sobretudo quanto à conservação. Para além destas questões, se o consumidor tem dúvidas com respeito a uma alerta alimentar que tem visto nas redes ou nos meios, o recomendável é ir às fontes rigorosas de informação, que é onde vai aparecer a informação que te tranquiliza: o site da Aesan e nossas redes sociais.
–As importações de alimentos de países de fora, como Marrocos, têm subido muito. Faz aproximadamente um ano teve muito nervosismo pela detecção de uma partida de fresas com hepatitis, mas o que se arguyó é que se se tinham detectado era porque o sistema funcionava…
–Não só isso, sina que essas partidas de fresas não entraram ao mercado europeu. Essa informação sacaram-na erroneamente os meios do RASFF, que é um banco de dados de alertas européias que não está destinada aos meios de comunicação nem aos consumidores, ainda que seja pública. E está bem saber que existe, mas seu fim é que tenha uma comunicação rápida entre os responsáveis por segurança alimentar dos estados membros, as administrações e as empresas alimentares. Essas fresas detectaram-se num posto de controle fronteiriço. Automaticamente, recusaram-se em fronteira, o que significa que não entraram no mercado interior. Deste modo, todos os demais postos de controle fronteiriço da União Européia puderam o ver. Se o mesmo produtor de Marrocos, portanto, ia a outro posto de controle fronteiriço de outro país, podia ser também recusado desde esse outro ponto. Em resumo, esse banco de dados permite-nos impermeabilizar as fronteiras. Muitos produtos dos que há notícias nem sequer entram no mercado.

–A comida que chega às mesas dos espanhóis é mais segura que faz 15 ou 20 anos?
–Sem dúvida. Todo este sistema se criou e se afianzó a princípios dos 2000. Com isso nasceu a Autoridade Européia de Segurança Alimentar (EFSA) e também as agências nacionais. O sistema a cada vez é mais robusto e, sem dúvida, permite-nos ter os alimentos mais seguros do mundo. Acabamos de publicar o último relatório anual sobre o Plano Nacional de Controle da Corrente Alimentar (que abarca desde a produção primária até o restaurante), que analisa todos os dados de controles do ano anterior. Aí pode-se comprovar que a percentagem de cumprimento da legislação é de 75,5%: quase todo o que se controla, cumpre com o estabelecido. Somos para perto de 7.000 profissionais das administrações públicas trabalhando em isto da mão para garantir que os alimentos que consome a população espanhola são seguros.