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As cifras do negócio dos ventres de aluguer: mais de bilhão de dólares

A gestación subrogada é ilegal desde 2006 e conceituada violência contra as mulheres desde 2022, mas grietas legais e administrativas seguem permitindo seu reconhecimento

Ana Carrasco González

Manifestación contra el vientre de alquiler ANA CARRASCO (1)

Um mar de túnicas vermelhas e cofias brancas avançava em silêncio pelo centro de Madri, cruzando Callao, Grande Via, o Passeio do Prado, para deter em frente ao Congresso dos Deputados e culminar na Porta do Sol.

Centos de mulheres –algumas fontes falam de até 500 participantes– convocadas por mais de 30 organizações feministas como Federação Mulheres, Associação de Mulheres Juristas Themis, Federação de Mulheres Progressistas e Apramp, entre outras, percorreram as ruas ataviadas como 'as criadas' da novela de Margaret Atwood. Sua mensagem: a gestación subrogada não pode normalizarse, é uma forma de violência contra as mulheres.

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Uma prática ilegal mas com impressões persistentes

Em Espanha, a gestación subrogada –também chamada "ventres de aluguer" ou gestación por substituição– está proibida desde a Lei 14/2006 de técnicas de reprodução humana assistida, que em seu artigo 10 declara nulo de pleno direito qualquer contrato pelo que uma mulher renuncie à filiación materna em favor de outro.

 

Pese a esta proibição legal, várias grietas administrativas e legislativas têm permitido que cidadãos espanhóis recorram à gestación subrogada no estrangeiro e depois inscrevam aos menores no Registro Civil espanhol, ou solicitem seu filiación, o que gera tensões jurídicas, éticas e políticas.

Dados que crujen

Durante a marcha, o passado 6 de setembro, as organizadoras recordaram que de 2010 a 2023 "quase 4.000 bebés foram adquiridos por cidadãos espanhóis mediante um contrato pelo qual a mulher renuncia à filiación e direitos associados à gestación e o parto".

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Por outro lado, o Ministério de Igualdade, através do Instituto das Mulheres, recolheu entre novembro e dezembro de 2024 334 denúncias relativas a agências que promovem a gestación por substituição. Estas queixas têm desembocado num relatório jurídico enviado à Advocacia do Estado, que poderia dar lugar a acções legais.

Os dados recentes

Outro dado recente: com a reforma da lei do aborto do ano 2022, a gestación subrogada tem sido recolhida explicitamente como forma de violência contra as mulheres.

Manifestación contra o ventre de aluguer / ANA CARRASCO

Ademais, em abril de 2025 publicou-se uma instrução que impede a inscrição em consulados de menores nascidos mediante gestación subrogada no estrangeiro, com o objectivo de fechar alguns dos vazios administrativos.

Perspectiva internacional: a ONU entra ao debate

Não é um assunto exclusivo de Espanha. Em julho de 2025, a Relatora Especial da ONU sobre a violência contra as mulheres e as meninas, Reem Alsalem, apresentou um relatório titulado As diferentes manifestações de violência contra as mulheres e meninas no contexto da maternidade subrogada (A/80/158). O documento insta aos Estados a erradicar a maternidade subrogada "em todas suas formas", pelos riscos físicos, psicológicos e simbólicos que supõe para as mulheres gestantes e os menores.

Um dos pontos finque desse relatório é que a distinção entre "subrogación altruísta" e "subrogación comercial" não exime da análise de como, inclusive em contextos supostamente altruístas, pode existir coacção, desigualdade de poder, e consequências duradouras para a saúde e a autonomia das mulheres implicadas. Assim mesmo, destaca-se que terá um crescimento exponencial, a mais de 500%, na indústria reproductiva, que chegará a facturar mais de bilhão de dólares.