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Lonvital, a clínica hipertecnológica que trata o sobrepeso como uma ferida emocional

Falamos com Christian Gabriel, criador do método que está a mudar a forma de abordar a obesidad em Espanha, combinando atenção médica, apoio psicológico e um enfoque personalizado

Ana Carrasco González

Una báscula que mide el peso de una persona PEXELS

Durante meses, só se vestia com o mesmo pantalón prestado. Um que não lhe comprou ela, sina que lhe deixou sua irmã, que também tinha algo de sobrepeso. Não saía de casa. Não se olhava ao espelho. De facto, pediu-lhe a seu marido que retirasse todos da casa. Aos 35 anos, com quatro filhos e um cargo de direcção num hotel a suas costas, seu mundo tinha-se reduzido às paredes de seu lar. Um acidente de tráfico desencadeou em agorafobia, ansiedade e uma tentativa de suicídio.

Esta mulher tinha deixado de viver e o número que indicava a báscula se desorbitó. Até que uma tarde, numa videollamada, estoirou. Abriu-se, chorou, rompeu-se. Ao outro lado, Christian Gabriel, CEO e fundador de Lonvital, também chorou.

Um dos primeiros casos

"Foi um dos primeiros casos que tratamos", recorda o fundador da startup que está a revolucionar o tratamento do sobrepeso em Espanha. Durante semanas, a equipa multidiciplinar de Lonvital trabalhou lado a lado para reconstruir algo mais que um metabolismo.

Uma balança para controlar o peso e lutar contra a obesidad / UNSPLASH

Às três semanas já não parava em casa. Aos dois meses abandonou a medicación psiquiátrica. Aos quatro foi cadastrada do serviço psicológico. Tinha voltado. Tinha conseguido outro emprego depois de ser despedida durante sua baixa. Renovou seu tratamento por mais seis meses. "Diz-nos que somos sua família", conta Gabriel a Consumidor Global.

A avó que não queria ver a seus netos

Em Espanha, tinha uma avó de 66 anos que vivia entre o sofá e a cama, sem mal se mover, para além do imprescindível para cozinhar a seus netos. Quando chegavam, se metia na habitação. A vergonha de que a vissem com esse peso era mais poderosa.

Tinha sofrido um ictus. Tinha antecedentes cardiovasculares severos, duas tentativas de suicídio, e um isolamento quase absoluto. Seu dia a dia decorria vendo programas de televisão e repetindo, sem dizê-lo, que a vida já não era para ela. A primeira vez que falou com uma psicóloga da clínica especializada em tratamentos integrais contra o sobrepeso, respondeu com monosílabos. À pergunta "Que hobbies tens?", contestou: "Ler". Mas já fazia dois anos que não tocava um livro. Nem uma página.

Voltar a ler

E então, desde Lonvital tentaram-no de outro modo. A profissional procurou em Google uma livraria próxima a sua casa e enviou-lhe por WhatsApp a localização. "Vê amanhã", propôs-lhe. "Caminha. Olha sinopsis. Aponta títulos. Depois, pela tarde, pesquisas quais te interessam. E ao dia seguinte voltas a por dois". Foi um gesto mínimo, mas abriu uma porta. Essa mulher, que tinha perdido o desejo de viver, começou a caminhar de novo. A ler.

Não obstante, pouco depois, começou a cancelar sessões do tratamento. Quem atendiam-na pensaram que abandonava. Mas não. Mandou um audio explicativo a Gabriel. "Perdoem-me, mas é que essas horas são quando minhas amigas saem a andar ou a tomar café. Estou feliz. Graças. Devolvestes-me a vida", comentava a avó que agora cuida mais a seus netos. Que já não tem um peso arriscado. Que tem deixado atrás a cama, o sofá, e o silêncio.

Uma conversa com Christian Gabriel

Estas histórias não falam só de emagrecer. Falam de reconstrução. De voltar a sair à rua. De olhar aos olhos. De reconhecer-se. Porque nestes relatos o peso é o sintoma visível de algo bem mais profundo, como a dor, o abandono, a tristeza crónica, o trauma enquistado.

O projecto de Lonvital, nascido em Espanha, dedica-se a atender casos como estes com um enfoque diferente. Sem dietas milagre. Sem reptos de "perde 10 quilos num mês". Em sozinho seis meses, têm atendido a mais de 4.000 pacientes com um método clínico, personalizado e baseado em tecnologia, mas também, e sobretudo, em empatía. Seu criador, Christian Gabriel, com passado de sobrepeso, tem desenhado um sistema multidiciplinar centrado na causa real do problema. Montou-o, diz, "não para se fazer rico, sina para doblegar a curva de crescimento da obesidad em Espanha".

--Lonvital tem acompanhado a mais de 4.000 pacientes em mal seis meses. Que dizer-lhe-ia a alguém que chega a vocês depois do ter tentado tudo sem resultados duradouros?

--O primeiro que dizer-lhe-ia é: "Não estás rompido. Não é tua culpa". Há gente que tem provado 15 métodos diferentes, e acaba pensando que o problema é ele ou ela. Mas não. O que falha muitas vezes é o enfoque. Nós temos criado um método que aborda o problema desde todas suas arestas: médica, nutricional, psicológica e de movimento, sem impor dietas nem obrigar a ir ao gimnasio.

Uma pessoa observa seu peso numa báscula / PEXELS

--Mencionam que seu enfoque vai bem mais lá do "comer menos e se mover mais". Por que acha que essa fórmula simplista costuma falhar em longo prazo?

--Porque a obesidad não é só um problema de vontade. É uma doença multifactorial. Claro que há que ajustar a alimentação e aumentar a actividade física, mas se não trabalhas o meio emocional, mental, hormonal ou inclusive o sonho e o estrés, é pan para hoje e fome para manhã. Nós usamos tecnologia para medir todo isso e acompanhar ao paciente de maneira integral.

--Desde sua perspectiva, quais são os três erros mais comuns que cometem as pessoas ao tentar perder peso?

--Um: pensar que precisam força de vontade para mudar. Dois: começar uma mudança radical que não podem sustentar. E três: abordar o problema sozinho desde a dieta, sem trabalhar hábitos nem a parte mental. Por isso usamos o método Tiny Habits do professor BJ Fogg, onde os hábitos se criam sem esforço, sem necessidade de atirar de vontade.

--Lonvital define-se como "hipertecnológico" e com monitorização 24/7. Como se traduz isso no dia a dia de um paciente?

--Significa que recolhemos e analisamos constantemente variáveis como o sonho, a actividade, a composição corporal, a frequência cardíaca, níveis de estrés, e mais. E que nossa equipa (médico, nutricionista, psicoterapeuta e coach de movimento) se comunica entre si para tomar decisões clínicas. Tudo se faz por videollamada e chat. Por exemplo, se detectamos um déficit vitamínico, o médico pode suplementar, mas também fala com o nutricionista para o reforçar com alimentos específicos. Queremos que o paciente não esteja toda a vida com pastillas.

--Que resultados concretos estão a observar nestes primeiros meses?

--Muitos. A nível físico, perde-se gordura visceral –que é a perigosa– e se ganha massa muscular. Há pacientes que baixam pouco peso na báscula, mas reduzem duas talhas porque mudam sua composição corporal. Mas para além do peso, vemos melhoras em saúde mental, social, metabólica. Temos cadastrado a muitos pacientes de 6 meses e o interessante é que, a diferença da maioria de dietas, onde o 80% quica entre 3 e 5 quilos depois do deixar, nossos pacientes não só não têm quicado, sina que alguns seguem baixando de importância depois do alta.

--E como medem isso?

--Com dispositivos médicos que enviamos a casa, com rastreamento 24/7 e provas periódicas. Mas também com entrevistas, questionários validados, escalas de bem-estar. Medimos a mudança em todos os sentidos, não só em quilos.

–Quanto custa?

--O preço arranca desde 80 euros ao mês. Não é uma assinatura nem um pacote fechado: os tratamentos duram entre 3 e 18 meses, e podes fazer todos os pagamentos fraccionados. O importante é que não há limite de consultas: se precisas ver ao psicólogo todos os dias durante dois meses, o fazes. Tratamos de que seja acessível sem deixar de ser clinicamente rigoroso.

O aplicativo de Lonvital / LONVITAL

--Acha que a obesidad deveria ser tratada como uma questão de saúde pública e não só individual?

--Sem dúvida. É uma questão de saúde pública. O problema é que muitas vezes se reduz a dizer à gente "come melhor e faz exercício", sem um enfoque estruturado. Encantar-me-ia que nosso método pudesse se incorporar algum dia ao sistema público. Não o montei para me fazer rico. Montei-o para doblegar a curva da obesidad em Espanha. E depois, se podemos, em mais países.

--E daí passa com a obesidad infantil?

–A obesidad infantil é ainda mais preocupante. Temos que incluir pediatras, para poder a abordar.

--Se tivesse que resumir a missão de Lonvital numa sozinha frase, qual seria?

--Mudar vidas, não sozinho corpos.