Na da abundância e do acesso ilimitado e a só um clique de adquirir qualquer tipo de bem ou serviços, o vício das compras tem surgido como um problema de grande relevância na sociedade atual. Uma sociedade canibal e consumista que só pensa em gerar benefícios. A facilidade com a que podemos aceder a plataformas de comércio eletrónico, combinada com ofertas tentadoras e a pressão cultural de manter um nível de consumo elevado, tem convertido este fenómeno num tema crucial. É importante aprender a reconhecer os sinais do transtorno do comprador compulsivo e entender como influenciam na nossa vida diária.
Segundo dados da União Europeia, aproximadamente 8% dos jovens apresenta comportamentos que podem catalogar-se como patológicos em relação ao consumo. Isto ocorre num momento das suas vidas no qual começam a administrar os seus primeiros rendimentos, seja através do apoio económico familiar ou mediante os seus primeiros trabalhos.
O que é a oniomania ou transtorno do comprador compulsivo?
O transtorno do comprador compulsivo, também denominado oniomanía, define-se como uma necessidade persistente e incontrolável de adquirir bens, inclusive quando estes não são indispensáveis ou quando a sua aquisição implica consequências negativas. Este tipo de vício não se limita ao simples prazer de comprar, mas pode afectar profundamente os âmbitos pessoais, financeiros e emocionais de quem o padece.
Indicadores de que tens um vício em compras
Reconhecer os sinais deste transtorno é fundamental para abordá-lo a tempo. A seguir, detalhamos os principais sintomas:
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Impulso incontrolável de adquirir bens: Uma sensação urgente e incessante de comprar algo, ainda que não se disponha dos meios económicos para isso ou quando o produto não é realmente necessário.
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Compras como escape emocional: Utilizar o acto de comprar para ultrapassar emoções negativas como o stress, a tristeza ou a ansiedade, obtendo um alívio temporário que não resolve o problema de fundo.
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Despesas desmesurados: Investir mais dinheiro do que se pode permitir, acumulando dívidas ou enfrentando dificuldades para cumprir com as responsabilidades económicas básicas.
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Culpa depois da compra: Experimentar remorsos, vergonha ou arrependimento depois de adquirir algo de forma impulsiva ou desnecessária.
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Secretismo com respeito às aquisições: Ocultar as compras realizadas a familiares ou amigos, devido ao medo ao julgamento ou a vergonha pela despesa desnecessária.
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Incapacidade para resistir à tentação: Encontrar muito difícil evitar as compras, inclusive quando se é consciente de que não são necessárias ou sustentáveis financeiramente.
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Fixação por compras: Dedicar uma parte significativa do tempo a planificar aquisições futuras, procurar promoções ou simplesmente fantasiar com novos produtos.
O impacto do comércio online no aumento da oniomanía
O auge do comércio eletrónico tem impulsionado um incremento de 16% nos casos de compras compulsivas, segundo vários estudos recentes. Este fenómeno é especialmente preocupante entre os jovens, que converteram-se num grupo vulnerável ante as mensagens publicitárias e as estratégias de consumo.
As compras online oferecem a possibilidade de consumir rapidamente e sem interação social, o que elimina barreiras como o embaraço ou o julgamento externo. Além disso, o acesso a descontos e a possibilidade de comprar produtos a qualquer hora do dia aumentam a gratificação instantânea que alimenta este vício.
Fatores associados ao transtorno do comprador compulsivo
Diversos estudos têm assinalado que este vício está estreitamente vinculado com o stress e certos transtornos de personalidade, como rasgos obsessivo-compulsivos e tendências maníacas. Também se associa com uma baixa autoestima, o que reforça o círculo vicioso do consumo como mecanismo de compensação emocional.
Como identificar a alguém com este transtorno
A deteção de sinais precoces pode fazer toda a diferença na resolução do problema. Alguns comportamentos de apresentação comuns incluem:
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Compras como válvula de escape emocional: As aquisições realizam-se como resposta a situações de mal-estar, como rupturas amorosas, conflitos laborais ou estados anímicos negativos.
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Esconder as compras: As pessoas com esta perturbação tendem a esconder as suas compras, especialmente se tiverem consciência de que estão a criar um desequilíbrio económico no seu ambiente.
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Uso de métodos de pagamento digitais: A preferência por cartões de crédito ou plataformas como PayPal e Bizum facilita as compras compulsivas ao reduzir a percepção da despesa real.
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Insatisfação constante: Com frequência, as pessoas com este problema não encontram satisfação no que compram, o que as leva a continuar adquirindo novos produtos em procura de uma gratificação que nunca chega.
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Acumulação sem uso: Um padrão comum é a compra de objetos que jamais serão utilizados, o que gera acumulação e perpetua um ciclo de ansiedade e consumo.
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Reação defensiva ao interrogatório: Quando é feita uma tentativa de falar sobre o assunto, a pessoa em causa pode reagir com raiva, negação ou justificação insistente.
A importância de procurar ajuda profissional
Se achas que tu ou alguém próximo poderia estar a enfrentar este problema, é fundamental consultar um especialista. Os psicólogos e terapeutas especializados em vícios podem usar ferramentas como a terapia cognitivo-conductual (TCC) para identificar as causas subjacentes e desenvolver estratégias de controle. Ademais, os grupos de apoio oferecem um espaço onde partilhar experiências, receber suporte emocional e aprender de outros que estão a superar situações similares.
O consumo desmedido e o vício em compras não são apenas problemas individuais, mas também fenómenos que refletem as dinâmicas de uma sociedade focada no consumo constante. Identificar os sinais, abordar o problema com empatía e procurar ajuda são passos chave para frear este desafio.