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Cobrar pelas duchas, uma prática "lamentável" e "vergonzosa" que se estende pelos festivais

Desde Reclamador assinalam que os promotores recorrem a formas "polémicas" de gerar rendimentos e recordam que o espectáculo deve desenvolver na forma ou condições nas que se tinha anunciado

Juan Manuel Del Olmo

playa festival arenaal sound

O Trasmocha Fest é um festival sobre vida rural, cultura e música riojana que se celebrou o 1 de junho na localidade de Villarta-Quintana, um município que não chega a 200 habitantes. Uns dias dantes de que tivesse lugar, os organizadores do evento sacavam peito em redes sociais: "Ter ducha quente num festival é luxo que, se não tens ido a muitos festivais, não valorizarás igual. Estarão disponíveis nos banhos do frontón".

Parece uma necessidade elementar, mas por desgraça a ducha gratuita nos festivais de verão é uma anomalía. Por exemplo, os assistentes ao Festival Internacional de Benicàssim (FIB) que quisessem ter acesso a este serviço básico de higiene se viram obrigados a pagar 11 euros mais. O facto de que as duchas não estejam incluídas num festival com tanto predicamento como o FIB, que se celebra em pleno julho na costa valenciana, gerou multidão de reproches em redes sociais.

"Uma coisa demencial"

"Que o FIB decida cobrar pelas duchas se arriscando a que a peña morra de insolación no final de julho em Benicàssim me parece uma coisa tão demencial que nem O Mundo Today poder-se-ia ter inventado", assinalou uma tuitera em X.

Uma pessoa se ducha num festival / FREEPIK

Em Instagram também choveram as críticas: "Cobrais pelas duchas, por voltar a entrar, pelos copos… dentro de nada cobrais por ir ao banho", criticou um internauta. "Que sois, do grupo Ryanair agora? Além de cobrar por tudo, o cartaz tem baixado de qualidade uma burrada. Preocupem-vos de trazer bons músicos e já subireis o preço do abono. Mas isto das duchas e o reacceso é lamentável", assinalou outro. "Pára quando o BONO OXIGÉNIO?", caçoou um terceiro.

O problema do água

Também teve quem fizeram uma leitura em chave ecologista: "Faz favor, isto é vergonzoso, ficaríeis melhor se incluísseis esse custo no preço total do abono, que tenha que pagar um extra por ducharse é ridículo e só fomenta que a gente se vá ir às duchas da praia, isto é jabón e água suja vertida directamente ao mar", raciocinava uma jovem.

Neste sentido, pode que, até verdadeiro ponto, cobrar pelas duchas tivesse sido justificable se a empresa tivesse apelado à seca. "A seca tem passado a ser o principal problema para numerosos municípios de Espanha. Trata-se de um verão no que há que restringir o consumo. E não só se implementaram medidas como cobrar pelas duchas em festivais, também se limitaram em gimnasios, piscinas e praias, onde algumas prefeituras têm dado o passo de deixar as duchas sem serviço ou inclusive se limitou o consumo de água em fontes", explica a este meio Leticia Grande, advogada e porta-voz de reclamador.es.

Efeitos da seca na terra / FREEPIK - jcomp

Gerar rendimentos extra

A julgamento desta experiente, o facto de que tenha a cada vez mais festivais que cobrem por este tipo de serviços se deve, simplesmente, ao desejo de gerar rendimentos extras. "Sucede o mesmo com os restaurantes que cobram por ir ao banho, o mantel ou servir gelo", compara Grande.

"Os espectáculos ao vivo, principalmente em verão, estão em aumento e por trás disso há uma produção cara, à que se unem a montagem e a complexidade das giras, o que faz que os custos sejam maiores e que os caches dos artistas e bandas subam. Portanto, procuram-se outras maneiras, polémicas em muitas ocasiões, de gerar rendimentos, como é a pulsera cashless, que previamente há que adquirir e carregar com dinheiro", refere a experiente de Reclamador, mencionado um tema do que se fez eco Alberto Rosa neste meio.

Várias pessoas montam lojas de campanha na zona de acampada no festival Oson de Camiño, no Monte do Gozo / CESSAR ARXINA - EUROPA PRESS

Uma prática estendida

Já em 2021, o Vinha Rock decepcionou a seus fãs ao anunciar que na edição de 2022 teria um novo serviço extra, o "bono ducha", pelo que teria que pagar 4 euros mais despesas de gestão. Dantes, em 2018, sucedeu o mesmo com o Bilbao BBK: "Parece mentira que um festival com tanta solera cometa erros tão graves como a coordenação de autocarros lanzadera (com longos trechos a pé) ou indecencias como cobrar 4 € por uma ducha quente, e 13 € por carregar o móvel", protestou então um internauta.

Em Reclamador acham que os direitos dos consumidores nos festivais tendem a não se respeitar, e que a cada vez são mais os que expressam seu mal-estar em redes sociais, mas não vão para além na protecção de seus direitos. "O caminho necessário para conseguir que nossos direitos como consumidores se cumpram e se respeitem é executar as reclamações e chegar até o final da mão de profissionais", acrescenta Grande.

Assistentes ao Arenal Sound / EUROPA PRESS - PACO POYATO

Lei de Espectáculos Públicos e Actividades Recreativas

Em qualquer caso, se o festival tem deixado claro de antemão que um serviço não será grátis, há pouco que fazer. Assim, desde Reclamador mencionam a Lei de Espectáculos Públicos e Actividades Recreativas, que estabelece para os utentes o direito a que o espectáculo se desenvolva inteiro, em sua total integridade e na forma ou condições nas que se tinha anunciado por seus promotores.

De não ser assim, os assistentes terão direito a realizar uma reclamação por escrito e a receber o dinheiro de sua entrada, recordam. Ademais, poderão reclamar também outras despesas derivadas da cancelamento do evento, como transportes, noites de hotel e comidas.