Em 2024 foram confiscados 6.189.015 produtos falsificados em Espanha, cujo valor no mercado atingia os 251,5 milhões de euros. Assim o refletem os dados do Escritório Espanhol de Patentes e Marcas (OEPM), que responde perante o Ministério de Indústria e Turismo. Um negócio paralelo que não só prejudica as marcas, mas que também afecta os consumidores que terminam a comprar artigos de duvidosa qualidade.
Do total apreendido, 15,9% eram produtos têxteis, os artigos de couro e acessórios representaram 12,3% e o calçado 4,8%. Um panorama em que se destaca Hacoo, um ecommerce que tem ganhado popularidade entre a geração Z, mas que não passa de uma montra de plágio e de cópias baratas de todo o tipo de marcas.
Da Saramart à Hacoo
Hacoo é na realidade a evolução do Saramart, ainda que com uma imagem mais sofisticada. O formato não difere demasiado de plataformas como Temu ou AliExpress, mas com uma particularidade: o catálogo é composto, em grande parte, por imitações e falsificações de marcas de prestígio.
O seu funcionamento é simples. Não requer registro e o seu desenho lembra mais um feed de redes sociais que a uma loja online. O utilizador visualiza vídeos e imagens de produtos que pode acrescentar ao carrinho de compras, do mesmo modo que faria no TikTok ou Instagram. Ademais, existe a opção de seguir perfis, partilhar fotos e deixar comentários.
Malas de luxo baratas, mas falsas
Há muitos exemplos de contrafação no Hacoo, mas as malas são talvez o caso mais óbvio. Modelos icónicos da Christian Dior, como a mala a tiracolo Saddler, avaliada em cerca de 3.900 euros, são reproduzidos na aplicação chinesa por entre 15 e 30 euros.
O mesmo acontece com a Book Tote da Dior, o monograma com a assinatura da Louis Vuitton (imitado por cerca de 15 euros) ou as versões baratas dos Los Chiquitos da Jacquemus, que se vendem por 12 euros. Há também reproduções de Prada ou Michael Kors, sem grande disfarce no seu design ou nos seus preços de saldo.
Réplicas de Nike e Adidas a um clique
O calçado desportivo é outro dos produtos mais afectados. Na Hacoo abundam cópias de marcas tão reconhecidas como Nike, Adidas e New Balance, que vêem os seus modelos mais populares reduzidos a cópias low cost.
Por exemplo, as Adidas Superstar, cujo preço original ultrapassa os 90 euros, aparecem por apenas 13 euros. Algo similar sucede com as Nike Air Force 1, que no mercado oficial superam os 100 euros, mas que nesta aplicação vendem-se falsificadas por menos de 20 euros.
Espanha, à cabeça do consumo de falsificações
Segundo dados do Escritório de Propriedade Intelectual da União Europeia (Euipo) correspondentes a 2023, Espanha é o segundo país europeu onde mais se consomem imitações, com cerca de 20% da população a reconhecer ter adquirido produtos falsos.
Só Bulgária, com quase 24%, supera Espanha neste ranking. Seguem-lhe Irlanda e Luxemburgo (ambos com 19%) e Romênia (18%). No extremo oposto situa-se a Finlândia, onde apenas 8% da população admite comprar falsificações.
Hacoo na App Store e Google Play
As cifras de descargas e avaliações refletem que Hacoo abriu um espaço no mercado. Na App Store (Apple) acumula mais de 24.000 avaliações com uma pontuação média de 4,6 estrelas.
No Google Play a aplicação supera os 10 milhões de descargas, com mais de 54.000 opiniões e uma média de 4,4 estrelas. No entanto, em plataformas de avaliação independentes a percepção é menos favorável.
"São uns burlões e ladrões"
No Trustpilot, 34% das 2.696 críticas situam a Hacoo na pior categoria. Alguns consumidores, como José R., asseguram que: "São uns burlões e ladrões".
Este afectado fez um pedido, "a empresa de transportadora marca-o como entregue quando nunca me chegou (…) Peço reembolso, anexo comprovativo e a Hacoo lava as mãos e diz que o documento não é válido e que não reembolsa o dinheiro. Não comprem nada na Hacoo se não querem perder o vosso dinheiro. A denúncia está preparada", diz.
Pedidos perdidos, tamanhos errados e atrasos
As más experiências não são isoladas. Outro consumidor denuncia: "Uns imprestáveis. Fiz um pedido de seis produtos diferentes, cobraram-o e aceitaram-o e recebo um correio de confirmação. No dia seguinte, sem dar-me nenhuma explicação, olho na minha conta e vejo que não há nenhum pedido realizado nem nada".
Para além de casos de supostas fraudes, também abundam queixas por desajustes nos tamanhos e longos tempos de espera para receber os produtos. A própria empresa costuma responder às críticas no Trustpilot, com o qual não é alheia a estes incidentes. A Consumidor Global tentou contactar com a Hacoo para conhecer que medidas está a tomar a plataforma para proteger tanto a marcas como os clientes. Até ao fecho desta reportagem, a companhia não respondeu.