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Os descontos 'fake' de Leroy Merlin para o Black Friday: "Passa com milhares de produtos"

Consumidor Global rastrea o historial de "rebajas" de vários produtos da corrente de bricolaje e demonstra que custavam o mesmo dantes da campanha

Ana Carrasco González

Análisis de los descuentos de Leroy Merlin durante el Black Friday CG

"Estou a fazer uma reforma em casa e levo semanas comparando preços em Leroy Merlin. Chega o Black Friday e os preços seguem exactamente igual. Há algo que fazer com os descontos e ofertas falsas? Anunciam um 30% de desconto e tem o mesmo preço anterior".

Esta é a voz de alerta de Daniel Mullor; uma voz que tem dado estopim a Consumidor Global para analisar os produtos da corrente de bricolaje francesa.

Leroy Merlin mantém o mesmo preço no Black Friday

"Estava a procurar uma lareira para meu lar", explica Mullor a este meio. "Fixei-me na de Leroy Merlin, uma lareira com forno. Custava 479 euros faz mal 15 dias", acrescenta.

O produto de Daniel Mullor dantes do Black Friday (479 euros) e durante o Black Friday / CG

Então, chegou a fanfarria. O Black Friday inundou o site da multinacional francesa. Os banners anunciavam descontos de até o 30% desde o 21 de outubro ao 17 de novembro. E ante a oportunidade, o cliente voltou a procurar o artigo almejado. Encontrou a mesma marca, o mesmo modelo e, efectivamente, o mesmo preço. "Punha desconto por Black Friday, preço total 479 euros, o mesmo preço que faz 15 dias", menciona com rejeição.

Uma análise inquietante

"Isso é neste artigo porque me fixei", adverte Mullor, "mas passa com milhares de produtos, praticamente com todos", sublinha.

Ante esta alerta, Consumidor Global tem examinado a política de preços de Leroy Merlin e seu marketplace. O que emerge desta análise não é o estrondo da fraude evidente, sina algo mais silencioso e, por isso, mais inquietante. Os preços não caem nem sobem; simplesmente, permanecem. A empresa tem a arte de fingir movimento onde não o há.

Mais produtos com descontos falsos no site de Leroy Merlin

Este meio tem rastreado o historial de preços de vários produtos do site de Leroy Merlin. Em todos os casos analisados, o "preço Black Friday" é idêntico ao que tinham semanas, e inclusive meses, dantes. Um sino extractora Ciarra, supostamente com um 53,85% de desconto (de 194,99 euros a 89,99 euros), encontrava-se a 89,99 euros o 8 de outubro, semanas dantes de que começasse a campanha de Black Friday de Leroy Merlin (do 21 de outubro ao 17 de novembro).

Imagem (superior) do site atual e imagem (inferior) do site o 8 de outubro / Wayback Machine

Assim mesmo, um foco Downlight Inspire LED, hoje anunciado com um 13% de rebaja (de 13,93 euros a 11,99 euros), já custava o mesmo o 13 de agosto. Entre outros exemplos analisados, uma tumbona Tectake, assinalada como "oferta incrível até –35 %", mantém exactamente o mesmo preço (114 euros) desde o 30 de agosto. Estes são dados verificables a partir de capturas e registros de preços prévios à promoção. Em todos os casos, a "oferta" coincide com o preço anterior.

Imagem (superior) do site atual e imagem (inferior) do site o 13 de agosto / Wayback Machine

Consumo já sancionou a sete empresas por este artificio

Este tipo de manobras são difíceis de demonstrar sem um rastreamento sistémico dos preços. As empresas podem alegar que os descontos se aplicam sobre preços recomendados por fabricantes ou sobre períodos concretos. No entanto, o consumidor não tem acesso fácil a esse historial. Na prática, a assimetria de informação favorece ao comércio. A etiqueta "dantes" e "agora" basta para gerar a sensação de oportunidade, ainda que o desconto seja uma ilusão óptica.

Este tipo de práticas, efectivamente, são objeto de atenção por parte de Consumidor Global. Cabe recordar que o Ministério de Direitos Sociais, Consumo e Agenda 2030 tem fazer# questão de que as promoções devem mostrar como preço de referência o mais baixo dos 30 dias anteriores. Qualquer outro artificio constitui uma prática comercial desleal. Em 2025, o ministério sancionou a sete empresas por alterar preços dantes das campanhas de descontos para simular rebajas espetaculares que não existiam realmente.

O que diz a lei

A Lei de Classificação do Comércio Varejista, em seu artigo 20, é taxativa. Depois de uma modificação para trasponer uma diretora européia (a Diretiva UE 2019/2161), a norma procura atalhar precisamente esta picaresca. A lei estabelece que, "sempre que se ofereçam artigos com redução de preço, deverá figurar com clareza, na cada um deles, o preço anterior junto ao preço reduzido".

Este meio não tem podido verificar internamente todos os dados do historial de preços públicos para a cada referência, mas o padrão coincidente –preço estável ou elevado, anúncio de rebaja sem diminuição real– é coerente com a prática sancionada recentemente em outros negócios.

Perdeu-se o sentido original da rebaja

O que começou como uma jornada de descontos se converteu num mês inteiro de campanhas escalonadas, "pré-Black Friday", "semana Black Friday", "Cyber Week", etcétera. Uma inflação semántica que desdibuja o sentido original da rebaja.

Os consumidores já não procuram só a oferta mais barata, sina saber se é honesta. E quando descobrem que não há rebaja real, o que se devalúa não é o produto, sina a marca.

Leroy Merlin, consultada por Consumidor Global, não tem oferecido por agora uma resposta oficial sobre estas denúncias. Em seu site, a companhia detalha que suas ofertas têm uma validade temporária e dependem de disponibilidade, mas não especifica como se determina o preço anterior que serve de referência para o desconto.