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Generali e Reale Seguros abandonam uma vítima depois de um acidente com um Uber

A vítima, ferida nove meses depois, está a lutar contra as duas seguradoras, que lhe negam a reabilitação e a indemnização, apesar de ter cobertura médica e um relatório que reconhece a culpa do condutor do VTC.

Ana Carrasco González

Fachada da sede da Generali Seguros / Eduardo Parra - EP

Elena esperava parada para estacionar em Pinto (Madrid), quando um veículo da Uber a atropelou por trás. O condutor, segundo relata, admitiu a sua culpa no acto: "É isto que recebo por olhar para o outro lado”.

A cena ocorreu a 3 de janeiro. Mas, nove meses depois, a história está longe de ter terminado com o acordo amigável entre a vítima e o veículo VTC. De facto, ainda não acabou. E no centro desta trama estão dois nomes: Genesis, a seguradora do Grupo Generali, e Reale Seguros, a empresa que cobria o carro do condutor da Uber.

“Tudo o que está a acontecer é muito grave”

Elena não se chama assim; Consumidor Global modificou o seu nome para preservar a sua identidade, porque –como ela mesma admite– "tudo o que está a acontecer é muito grave”.

Um carro da Uber / JESÚS HELLÍN - EP

A protagonista recorda a cena com exatidão. “Estava parado, à espera que uma mulher saísse do carro, quando o Uber não parou e me atropelou”. A polícia local de Pinto deslocou-se ao local. O relatório oficial afirma que o veículo do motorista da Uber “não manteve uma distância de segurança”. No entanto, no relatório oficial, alguém escreveu uma frase que, com o tempo, se tornaria crucial: ‘Feridos: 0’.

Génesis ignora a segurada durante meses

Nas horas seguintes, Elena foi para o hospital. Foi-lhe diagnosticada uma cervicalgia. Desde esse acidente, diz que o seu corpo nunca mais foi o mesmo. 

No entanto, na qualidade de titular de um seguro global junto da Genesis, a pessoa lesada confiava na cobertura da sua apólice, que inclui 6.000 euros de cuidados de saúde. A Genesis cobriu efetivamente as primeiras sessões de reabilitação. Mas, em breve, a clínica informou-a de que a seguradora deixaria de pagar. “Desde junho, enviei-lhes e-mails a perguntar porque se recusavam a continuar a pagar a minha reabilitação e não me responderam”, conta a vítima, que sublinha que os seus e-mails e telefonemas foram sistematicamente ignorados durante meses. 

A guerra das seguradoras contra o “latigazo cervical”

Quando finalmente conseguiu falar com um perito em setembro, a primeira desculpa foi que, em acidentes de “baixo impacto”, a companhia não cobria mais de 10 sessões de reabilitação. A situação chegou a tal ponto que, enquanto Elena era ignorada, a companhia enviou-lhe o aviso de renovação do contrato com um aumento anual de 200 euros.

Vale lembrar que, desde a reforma da tabela de sinistralidade, em 2016, as seguradoras tornaram mais rigorosos os requisitos para indenizar as latigas cervicais, a lesão mais comum em colisões traseiras de baixa intensidade. As empresas baseiam-se em laudos biomecânicos que questionam a “relação de causalidade” entre a batida e a lesão, caso o veículo sofra danos mínimos ou a velocidade seja baixa. 

A luta contra Reale Seguros

Se a batalha com a sua própria companhia era um muro de silêncio, a luta com Reale Seguros, a seguradora do Uber, converteu-se numa ofensiva para desacreditá-la. Reale Seguros nega-se a pagar indemnização alguma. A estratégia da companhia, segundo denúncia Elena, baseou-se na apresentação de relatórios periciais "falsos".

Elena descobriu em setembro que a seguradora já tinha comunicado a Génesis que recusava o sinistro em março. A negativa baseava-se em dois documentos chave. O primeiro, um relatório biomecánico que, segundo a afectada, fixava a velocidade do impacto por abaixo dos 16 quilómetros por hora, uma cifra que ela disputa (acha que foi "pelo menos a 30 km/h") e que é habitualmente utilizada pelas seguradoras para desvincular as lesões cervicais dos acidentes leves.

Uma queixa à Ordem dos Médicos

Depois de contactar com a Reale Seguros, a companhia ofereceu-lhe um "acordo amistoso", com a condição de que a visitasse o seu próprio médico perito.

Logo da Reale Seguros / EP

O resultado, denuncia, foi um segundo relatório “completamente falso”. “Este médico agiu com malícia e maldade”, afirma Elena. Segundo ela, o relatório indica que teve alta por estabilização em abril, “o que não é verdade, pois ainda hoje estou de baixa”. Elena disse a este jornal que denunciou o médico à comissão de deontologia da Ordem dos Médicos.

Reale Seguros e Génesis-Generali não dão respostas

Atualmente, Elena pede uma indemnização pelo acidente à Reale Seguros e à Génesis Seguros (Generali), a sua própria companhia, por “incumprimento do contrato”, por a terem “ignorado durante meses” e a terem obrigado a procurar tratamento por conta própria, quando tinha 6000 euros de cobertura de saúde na sua apólice.

“Vejamos”, conclui Elena, “uma pessoa não passa nove meses a ir de médico em médico porque lhe apetece”. "Acham que uma pessoa que não tem dores e que está a fingir fica em casa durante nove meses a receber 500 euros, com os quais nem sequer consigo pagar a hipoteca?", questiona. 

Esta reportagem preserva a identidade e os dados médicos da afectada. Consumidor Global contactou com ambas seguradoras para conhecer a sua versão. Generali recusou a fazer qualquer declaração: "Generali, pela lei de protecção de dados, não pode facilitar informação sobre apólices nem sinistros de seus segurados". Por outro lado, à data de publicação, Reale Seguros não ofereceu nenhuma resposta.