Depois de toda crise se pode e se deve fazer um balanço, identificar as causas, as consequências e, chegado o caso, depurar responsabilidades. Durante o grande blecaute, cujas causas ainda se desconhecem, ficou claro que o dinheiro em numerário é extremamente útil em Espanha e que levar umas moedas em cima pode supor a diferença entre poder alumiar ou não o salão de casa com umas velas.
Um estudo do Banco de Espanha publicado no final de 2024 refletia que a frequência de uso do dinheiro em numerário tem ido diminuindo de forma paulatina nos últimos anos: a percentagem de população que o utiliza a diário passou de 65% em 2023 ao 57% em 2024. Isto é, que segue sendo o meio mais utilizado, mas a cada vez se realizam menos compras com cash.
Sistema nacional de efetivo
Agora, a Plataforma Denaria, uma associação que congrega os interesses conjuntos ao redor da defesa do efetivo e que procura alertar sobre os riscos do limitar, tem pedido ao Governo de Espanha a implantação "urgente" de um sistema nacional de efetivo que garanta sua disponibilidade e funcionalidade como infra-estrutura crítica.
"Durante a jornada, milhões de cidadãos viram-se imposibilitados para realizar pagamentos digitais, devido ao colapso das redes elétricas e de telecomunicações, que afectaram a terminais de ponto de venda, aplicativos móveis e caixas automáticos. Nesse contexto, o dinheiro em numerário converteu-se na única via real para adquirir produtos e serviços básicos", expõe Denaria.
"Fragilidade do ecossistema"
"O ocorrido na segunda-feira é uma mostra clara da fragilidade do ecossistema digital e da necessidade de contar com uma alternativa física, robusta e independente do fornecimento elétrico e de internet", tem declarado o presidente de Denaria, Javier Rupérez.
Por isso, a plataforma tem pedido ao Governo que considere ao dinheiro em numerário como infra-estrutura crítica nacional, em linha com o estabelecido nas directrizes de segurança e resiliência de serviços essenciais. "Não se trata de uma questão ideológica, sina de segurança nacional e garantia de direitos fundamentais. O efetivo deve estar protegido, acessível e operativo em qualquer circunstância", tem insistido a organização.
Abastecimento contínuo
Assim, pede o desenho e implantação de um sistema nacional de efetivo que assegure a logística e o abastecimento "contínuo" do dinheiro físico em todo o território; reforçar a rede de caixas automáticos, especialmente em zonas rurais ou com baixa densidade bancária; e que se realizem campanhas de concienciación pública para que os cidadãos mantenham uma pequena reserva de efetivo ante possíveis contingencias.
Neste sentido, a plataforma recalca que o dinheiro físico é um "direito cidadão" e faz questão de recomendar à população que disponha "sempre" de uma reserva de dinheiro em metálico como medida básica de prevenção.