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Água embalada em cartão: insustentável para a carteira… e para o meio ambiente

Os excessos do plástico na indústria alimentar têm levado a start-ups e fornecedores a procurar alternativas com menor impacto ambiental

Un envase de cartón de la marca Agua en caja   AMAZON
Un envase de cartón de la marca Agua en caja AMAZON

O plástico é o inimigo público número um. Combater os grandes problemas que provoca no meio ambiente e sua presença em mares, oceanos e inclusive seres vivos converteu-se num dos reptos do século XXI. Isto promoveu toda uma onda de investigações e legislações em torno deste material, tanto para reduzir o seu uso como para encontrar substitutos. De facto, no início de julho, a União Europeia proibiu a venda de palhinhas, cotonetes e pratos descartáveis como uma medida contra o uso indiscriminado.

No meio desta cruzada, em 2017, nasceu Agua en caja, uma pequena empresa madrilena que introduziu um novo conceito: água da nascente da serra de Pela, entre Castilla-La Mancha e Castilla e León, embalada em tetrabriks de cartão. A empresa aforma que o seu recipiente é um dos mais ecológicos do mercado, dado que conta com 94% de recursos renováveis na sua composição. Também destaca que a fibra usada provem de bosques sustentáveis, onde uma árvore é plantada a cada corte de outra, como um aliciente de um negócio ecológico. No entanto, há mais por detrás destas boas intenções, que acabam incidindo nas carteiras das pessoas… e até na natureza.

Onde acabam as boas intenções, começa o márketing

Embora algumas afirmações sejam verdadeiras, como a de que o transporte de cartões dobrados permite um maior cargamento de embalagens em cada viagem e, consequentemente, se reduzem as emissões de CO₂, nem tudo o que brilha é ouro. Estes tetrabricks, além de fibra de cartão, contêm uma percentagem de plástico e alumínio, responsáveis por evitar que este material entre em contacto com o líquido e confere resistência ao recipiente.

A Consumidor Global tentou pôr-se em contacto com a empresa sem receber resposta alguma sobre os detalhes da composição, já que também não se indicam no seu site. No entanto, José Ygnacio Pastor, catedrático de engenharia dos materiais na Universidade Complutense de Madrid, facilita algumas chaves: "Reciclar estas embalagens é muito complicado. Separar as folhas da cada componente requer muita energia e é um processo caro. Em Espanha, só há uma fábrica que o possa fazer e não trabalha com todos os bricks que já há no mercado", afirma.

A reivindicação perfeita

O professor insiste que a fase prévia lhe parece perfeita, ainda que poder-se-ia utilizar cartão já reciclado em vez de ir a estes bosques sustentáveis. O problema, afirma, vem no tratamento posterior, e é o que menos se conhece.

O preço ambiental do transporte de madeira, do multilaminado de plástico e alumínio e o custo de reciclá-lo são incógnitas que não interessa responder por parte das empresas que utilizam a rejeição ao plástico como reivindicação. "Mais que nada, porque quase 100% dos plásticos PET de uso habitual são recicláveis, requerem muito pouca energia para os reconverter em plástico útil e, além disso, são mais económicos", enfatiza Pastor.

O factor preço

Outro dos motivos que fazem suspeitar esta alternativa às garrafas convencionais é o preço. A maioria das águas embaladas rondam os 45 céntimos por litro quando embaladas em recipientes deste volume. EPelo contrário, os tetrabriks de água só se oferecem nas medidas de 33 centilitros ou meio litro, um tamanho que costuma encarecer o preço das garrafas, ainda que nunca até o nível das embalagens de água em caixa: o custo do litro sai por 1,80 euros na Amazon. Um aumento considerável por uma água que não oferece nenhuma diferença com os seus concorrentes para além do material do recipiente. "A armadilha disto é que estão a pôr a solução de um problema que criam eles, não nós", indica o catedrático madrileno.

Como se pode verificar nesta tabela, as diferenças entre marcas brancas ou mais convencionais não chegam nem perto da variação de preço entre a água empacotada em tetrabrik. E, de facto, é difícil de justificar, dado que noutros negócios --como no leite ou os sumos-- a introdução de cartão, ainda que este seja de qualidade ou reciclado, não reflete um aumento semelhante.

A água mais sustentável do mundo

É verdadei que, no caso de um produto manufacturado ou difícil de encontrar, o debate poderia ser diferente. Mas tratando-se de água adequada para o consumo, existem alternativas melhores tanto aos pacotes de cartão como às garrafas de plástico. "Para o cidadão médio, a água da rede é uma água saudável, barata e não requer gastar nenhuma embalagem para além de um copo ou uma garrafa de silicone", comenta Raúl Herrero, engenheiro dcivil especializado em recursos hídricos.

Este especialista destaca como, desde há anos, as empresas relacionadas com a venda de água embalada têm utilizado argumentos sobre a sua qualidade ou benefícios para convencer as pessoas de que esta bebida é melhor que a que encontram na rede, mas nada mais longe da realidade. Herrero destaca os exaustivos controlos que esta água passa até chegar aos lares e que para além do sabor em certas zonas do país, não existe nenhuma evidência de que beber água da rede seja perjudicial ou pior que a sua alternativa engarrafada, seja em plástico ou em cartão.

 

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