Repelentes de ultra-som contra insetos: uma tecnologia pouco eficaz para o lar

Os equipamentos que usam vibrações de baixa frequência para afugentar pragas apresentam-se como uma alternativa saudável e ecológica aos produtos químicos, ainda que não sejam a melhor opção para todos os seres que se passeiam pelas casas

Dispositivo de ultrasonidos contra mosquitos y plagas   AMAZON
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O verão não traz apenas o calor, as férias e os gelados. Também é o momento no qual pragas e insetos começam a aparecer em jardins e casas em metade do país. O mercado oferece contra eles centenas de produtos: sprays, loções corporais, velas perfumadas e inseticidas de todos os formatos e cores. Mas talvez pela sua comodidade ou pela promessa de ser menos perigoso para as pessoas, as opções baseadas em ultra-sons cada vez ganham mais terreno.

Estas soluções têm o marketing do seu lado. Por um lado, aparentam ser uma opção tecnológica, isto é, mais moderna e sofisticada que os venenos convencionais. Além disso, a facilidade de utilização -- só tem que ligar o dispositivo à eletrecidade e deixá-lo ligado-- e o seu efeito pouco invasivo face a alternativas como as armadilhas ou insetiidas químicos são argumentos convincentes para muitos consumidores. O problema chega quando se promete que os ultra-sons serão a panaceia para todos os males das pragas.

Inócuo para os mosquitos

Uma das maiores reivindicações destes aparelhos é que servem de escudo contra os inimigos de passeios na montanha e jardins, os mosquitos. A teoria diz que alguns sons de predadores ou sinais de alerta podem afugentar os dípteros, mas nada mais longe da realidade. "Nenhum argumento a favor dos ultra-sons têm demonstrado ser eficaz contra os mosquitos", afirma Mikel Bengoa, especialista nacional de mosquitos e técnico especialista em Anticimex.

Alguns tipos de mosquitos são susceptíveis a certos sons de baixo espectro, mas, por desgraça, são os machos. Pelo contrário, as fêmeas, que têm este sentido menos desenvolvido, não se vêem afetadas por nada parecido. Com o azar de serem essas as que picam os mamíferos para extrair sangue da sua pele. "A melhor opção para acabar com os mosquitos passa pela precaução de não deixar água acumulada em jardins ou parques. E se não há mais opção, usar remédios cutâneos com base de icaridina ou DEEC", destaca Bengoa.

Má defesa contra as baratas

Ok, os mosquitos não reagem contra estes aparelhos. Mas não são os únicos visitantes incómodos do verão. As baratas, um dos terrores mais comuns nas cidades, aproveitam a humidade e a proteção das casas para criar grandes camadas. E, claro, os equipamentos de ultra-sons também se apontam à proteção contra estes insetos. Mas repete-se a brincadeira do mosquito. "Poderia dizer-se que o seu efeito é praticamente nulo. Os estudos sobre o tema têm demonstrado que não é eficaz; em todo o caso, só conseguem pôr nervosas as baratas, mas não impedir o seu avanço", afirma Mikel González, doutor em Biologia e entomologista.

O especialista em insectos não entende como é possível que estes aparelhos possam ser vendidos com promessas tão longínquas do seu efeito real. Em muitos casos utilizam-se artigos ou pequenos estudos como provas conclusivas, ainda que depois na literatura científica não se reflitam. Face às baratas a melhor opção e menos invasiva, segundo afirma González, são os géis inseticidas. Longe de fumigar toda uma sala, basta colocá-los num espaço onde esses insetos são frequentes; desaparecem em apenas 24 horas.

Pode-se falar de fraude?

Várias associações de consumidores, tanto espanholas como europeias, têm protestado contra estes produtos por vender, quase de forma literal, fumo. Não só contra as pragas mencionadas, também contra outros animais: desde pombos a carrapatos, passando por pulgas, formigas e ratos. Até a data, não se pôde comprovar que nenhum destes seres seja afetado por estes sons de baixa frequência. E, apesar disto, são dezenas as empresas que os vendem e as grandes superfícies onde se podem encontrar.

Ainda que não sejam os únicos equipamentos que não cumprem com o estipulado face a insetos e espécies invasoras de residências. "As famosas pulseiras contra os mosquitos também não servem de nada, as provas são fortes nesse sentido. Para além do placebo que o utilizador sente, os mosquitos não se detêm por um pedaço de plástico com cheiro", destaca Mikel Bengoa. Mas assim continuam, fazendo grandes números todos os verões à custa do desconhecimento e das promessas vazias.

 

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