Em Oviedo, a carta que Manuel esperava desde faz mais de quatro semanas segue sem aparecer. Em Madri, os vizinhos acumulam notificações judiciais sem entregar. Em Barcelona, montanhas de pacotes esperam nos armazéns, sem mãos suficientes para repartí-los. Os graus Celsius têm reduzido o ritmo e Correios não chega a tempo.
"Está a acumular-se o correio e a paquetería. Em algumas zonas, a mais de um mês", denúncia Bernat Escolà, carteiro em Sant Cugat do Vallés (Barcelona), em declarações a TV3. Dí-lo com cansaço, consciente de que seu depoimento contradiz a versão oficial do operador postal público maior de Espanha, que faz questão de que "o serviço funciona com normalidade".
Uma plantilla baixo mínimos
A plantilla de Correios em agosto reduz-se drasticamente, com só um 40% dos efetivos disponíveis para fazer frente ao volume habitual de trabalho. Ademais, como expôs Consumidor Global, o horário estival (de 8:30 a 14:30) tem provocado um colapso nos escritórios.
"A empresa já sabe as carências que terá durante todo o verão. Então, o que não pode fazer é chegar ao mês de agosto e dizer: 'Oh, preciso contratação' E não encontram trabalhadores", critica Yolanda García, trabalhadora de Correios em Sabadell (Barcelona), ao citado meio. Esta falta de previsão tem provocado que las escritórios e os carteiros estejam ao limite, saturados por um ónus de trabalho inasumible.
A indignação na rede: "Trazeis os pacotes em burra?"
Enquanto Correios afirma com descaro que "não existe nenhuma anomalía", em plataformas como X e Trustpilot, o termômetro do descontentamento não deixa de subir. Os utentes relatam experiências frustrantes que demonstram a brecha entre a versão oficial e a realidade.
"Paguei 1110 euros na quinta-feira 14 de agosto como pacote premium para que me chegasse rápido, origem Córdoba com destino Duas Irmãs (Sevilla), e ainda não me chegou nada", protesto Jorge Luque. Outro utente ironiza em X: "Uma pergunta, os pacotes trazei-los em burra? Espero pacotes EMS (Express Mail Service) desde faz 6 dias em Madri e não há maneira".
"Espero um pacote com medicación"
Há casos mais graves, como o de Diana Valbuena, quem leva esperando três semanas um pacote com medicación. "O atraso está a afectar a saúde de uma pessoa", denúncia publicamente.
As valorações em Trustpilot refletem uma sensação de abandono. "Enviei um pacote certificado com entrega em 72 horas e chegou quase um mês depois", escreve Diego Marín em seu reseña. Inés Macias, mais escueta, resume sua experiência numa frase: "Tenho tido que ir recolher meus pedidos porque nem chamam ao timbre sequer".
Não há entregas a domicílio
Em Lugo, María Teresa López descreve com crudeza o que vive em seu bairro. "Obrigam-nos a ir aos escritórios porque dizem que estamos ausentes, quando é mentira a metade das vezes. Em cima pagamos para que nos levem os pacotes a domicílio, não para ter que os recolher. Penoso e vergonzoso", assinala.
Algo parecido denúncia Esther P. desde Porto de Mazarrón (Múrcia). "Dizem que não têm podido entregar o envio quando em realidade não vão aos domicílios. Tenho pago entrega a domicílio e têm-mo feito a cada vez que, desgraçadamente, a empresa à que tenho comprado tem atribuído Correios. É uma fraude", explica.
A "mentira" do destinatário ausente
Ante este alud de queixas, Correios tem respondido com uma mensagem monocorde nas redes sociais: "Se neste mês de agosto não vais estar em casa e queres receber um pacote em teu lugar de férias, elege teu escritório de Correios ou um de nossos Citypaq como lugar de recolhida".
"Dá igual que estejamos ou não em casa, ides pôr 'Destinatário ausente' sem nem sequer passar pelo domicílio", responde uma utente à empresa.
O paradoxo do gigante postal
Correios é uma empresa pública com mais de 52.000 empregados e uma história que se remonta a mais de 300 anos. No entanto, os problemas que arrasta a cada verão a convertem em protagonista habitual de críticas. O paradoxo é evidente; enquanto anuncia novas soluções como as bilheteiras Citypaq para recolher pacotes 24/7, falha no mais básico: entregar cartas e pacotes no tempo prometido.
E é que, em verão, a Correios lhe faltam carteiros.
Consumidor Global pôs-se em contacto com Correios, mas, ao termo desta reportagem, não tem obtido resposta alguma.