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Cumprir as recomendações com ultraprocesados é possível, mas não recomendável

Um ensaio clínico (sim, um ensaio clínico) tem posto de relevo que, a igualdade de cumprimento de umas mesmas recomendações dietéticas, com e sem ultraprocesados, o plano dietético sem eles é melhor

O nutricionista e dietista Juan Revenga escreve sobre os pós-bióticos e o que prometem / Fotomontagem CONSUMIDOR GLOBAL

Preciso fazer uma longa introdução, de modo que, faz favor, permitam-me esta necessária contextualización.

Quase todo o que conhecemos em matéria de alimentação e suas recomendações o sabemos graças à informação que nos contribuem os estudos observacionales. Neles se faz um rastreamento durante anos a milhares de pessoas, se regista o que comem e se observa —daí o nome— que lhes acaba passando. São muito úteis para detectar sinais populacionais, mas arrastam três lastres clássicos:

  • Confusão e distorções relativas no ponto de partida mais ou menos saudável de quem faz parte desses estudos, da população. Isto é, se cozinha-se ou não em casa, se se faz faz mais ou menos exercício ou se tem uma renda ou outra tem maior renda, são questões difíceis de separar do que se termina comendo, mas que ao mesmo tempo influem de forma importante. Inclusive quando se fazem ajustes estatísticos costuma ficar confusão residual.
  • Medida imperfecta da dieta: os questionários e lembretes que se costumam usar nos estudos observacionales têm importantísimas limitações e supõem a presença de erros sistémicos e aleatórios.
  • Excesso de associações débis e resultados llamativos que depois se desinflan em relação à relevância clínica ou à relação entre causas e efeitos. Soa-te aquilo de que associação (ou correlação entre variáveis) não implica causalidad? Sabias que nos períodos que mais sandía se come, há mais fallecimientos por ahogamiento? Sabias que quanto mais chocolate se consome num país, mais Prêmios Nobel reúne? Pois isso.

Para solucionar todas estas dificuldades se costuma apelar à realização de ensaios clínicos. Imagina que para provar o papel do brócoli numa dieta contamos com 50 ratos e a 25 os alimentamos com o brócoli aos outros 25 não. E isto é muito fácil fazer com animais de laboratório, mas como compreenderás ao o fazer com pessoas o tema se complica. Até o ponto de resultar extraordinariamente difícil o fazê-los (por não dizer impossível):

  • Cegar aos participantes humanos de um ensaio clínico é quase impossível quando mudas padrões dietéticos completos; isso abre a porta a expectativas e comportamentos diferentes.
  • Manter a aderencia e criar contrastes dietéticos grandes na vida real custa muito. Recorda que as pessoas que participem num ensaio clínico não vivem confinados como sim o estão os animais de laboratório.
  • Os efeitos das diferentes dietas costumam ser pequenos e produzem-se lentamente ao longo dos anos, o que exige mostras e duração muito grandes.
  • Ademais, há limitações éticas à hora de forçar a uma parte da mostra a dietas potencialmente nocivas, por exemplo, à hora de "obrigar-lhes" a consumir ultraprocesados, bebidas alcohólicas, etc.

Por fim um ensaio clínico com ultraprocesados

Todo o mau que sabemos são os alimentos ultraprocesados, o sabemos graças a estudos observacionales. Precisamente por suas limitações, a comunidade científica, mas muito em especial as multinacionais desta faixa de produtos (por razões óbvias) sempre têm demandado ensaios clínicos com ultraprocesados para ter provas de maior enjundia ao respeito de seu efeito sobre a saúde. Pois bem, já o temos.

Em agosto de 2025 publicou-se o trabalho, "Dietas ultraprocesadas ou minimamente processadas seguindo pautas dietéticas saudáveis sobre o peso e a saúde cardiometabólica: um ensaio cruzado aleatorizado". Nele se recrutou a 55 adultos com excesso de importância ou obesidad (IMC 25–40) e com um consumo habitual elevado de ultra-processados. Todos seguiram um desenho cruzado 2x2: a cada participante completou dois períodos de 2 meses, um com dieta que incluía alimentos minimamente processados (MPF) e outro cuja dieta era alta em ultra-processados (UPF). Em ambos casos, e esta é a parte importante, se seguiram as recomendações oficiais de dieta equilibrada do Reino Unido. O objectivo do estudo era observá-los mudanças no peso dos participantes e medir as mudanças em sua composição corporal, marcadores cardiometabólicos e apetito.

Dieta com vs sem ultraprocesados: estes são os resultados

  • Ambas dietas, com e sem ultraprocesados, conduziram a uma perda de importância depois dos dois meses de rastreamento. Mas a perda foi maior com a dieta sem ultraprocesados: −2,06% do peso em frente a −1,05% com ultraprocesados.
  • Em composição corporal, o menu sem ultraprocesados conseguiu reduções superiores de massa gordura (−0,98 kg), percentagem de gordura, gordura visceral e água corporal total; o resto de componentes não mudou de forma diferente entre ambas dietas.
  • Quanto ao apetito e a conduta alimentar, o menu sem ultraprocesados reduziu mais a dificuldade para resistir os alimentos "desejo" e os snacks salgados, e melhorou o controle do comer.
  • Em ingestão energética auto declarada, ambos menus reduziram calorías com respeito ao ponto de início dantes do ensaio, mas o menu sem ultraprocesados registou um rendimento de 327 kcal/dia menos que com ultraprocesados.

Que leitura se pode fazer deste novo conhecimento

Este ensaio sugere que, a igualdade de "cumprimento" com as recomendações oficiais, eleger alimentos com uma transformação mínima pode ajudar a perder algo mais de importância e gordura, ao mesmo tempo que se reduzem triglicéridos e melhora o controle do apetito. É uma vantagem modesta, mas real em dois meses.

O menu ultraprocesados foi percebido como mais sabroso e cómodo. Se queremos que a população coma melhor, precisamos alternativas práticas e apetecibles de baixa ou mínima transformação, a preço competitivo. Caso contrário, os ultraprocesados seguirão ganhando a partida.

Este ensaio aleatorizado contribui uma peça sólida: inclusive cumprindo com umas pautas oficiais de alimentação saudável, o grau de processamento do que comemos é importante. Para o dia a dia, a estratégia ganhadora parece ser comer mais alimentos "para valer", sem converter isto numa religião e sem esquecer a practicidad que todos precisamos.