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Pros e contras do conselho "há que comer de tudo"

Centrar o sucesso dietético na variedade de alimentos é um conselho trasnochado de avós bienintencionadas. Em seu dia pôde ter sua razão de ser, mas hoje não: está mais para perto de a desinformación que do sucesso

O nutricionista e dietista Juan Revenga escreve sobre os pós-bióticos e o que prometem / Fotomontagem CONSUMIDOR GLOBAL

Quem recomenda "comer de todo" para se acercar ou para cumprir com as recomendações dietéticas, não me cabe dúvida de que o faz com as melhores intenções. Mas é um conselho que tem expirado. Já não vale. Teve um tempo no que provavelmente sim tivesse alguma utilidade prática, mas já não.

Esta frase pertence, ou encarregou-se de popularizar, D. Francisco Grande Covián quem –já comentámos– foi todo um influencer em Espanha na década dos oitenta e noventa. Bom, realmente, a frase atribuída a D. Francisco fazia referência a que há que comer de todo e, ademais, em plato de postre.

Quando o 'comer de todo' si seria um bom conselho?

Dantes. Refiro-me ao tempo e contexto no que foi pronunciada ou popularizada. Nos anos oitenta e em Espanha. Quando os espanhóis tinham deixado atrás ou ainda sofriam em certa medida, mas menos, algumas doenças carenciales e a fome. Todo isso por falta de suficiente alimento ou de suficiente variedade. Esse tempo no que mal ficavam atrás estes problemas, mas ainda não tinham feito sua entrada em massa as grandes multinacionais com seus enormes catálogos de ultraprocesados. Então o 'comer de todo' era sinônimo de variedade. Refiro-me a sinônimo de uma sã variedade. Foi naquele contexto, no da denominada transição nutricional, quando o conselho tinha todo o sentido.

Quando o recomendar 'comer de tudo' é mais perigoso que beneficioso?

Agora, na actualidade. Quando a oferta de produtos supera em várias ordens de magnitude à de alimentos. Citei-o infinidad de vezes, mas não me resisto a voltar ao fazer: o Livro branco da nutrição em Espanha (FEN, 2013) menciona que nossas avós confeccionaban suas contas diárias com um catálogo de uma centena de alimentos. Hoje, no entanto, a oferta é a mais de 44.000 produtos (não, não me inventei as cifras). Abrir o leque das possíveis eleições quando o catálogo está cheio de ofertas com pobre perfil nutricional não melhora a dieta: piora-a. Por isso, manter o eslogan vigente sem olhar o meio é um erro de comunicação que só favorece ao marketing, nunca à saúde.

A ciência que está detrás

Até aqui, o assunto de 'comer de todo' poderia parecer uma reflexão ou uma opinião, mas não. Há publicações científicas que põem de relevo que, a mais variedade de eleições alimentares, piores resultados de saúde. De facto, os autores concluem que seus resultados não apoiam a ideia de que "comer de tudo com moderación" conduza a uma maior qualidade da dieta nem a uma melhor saúde metabólica.

O maior problema de "comer de tudo" não é semántico, é operativo. Num meio alimentar obesogénico, a diversidade de escasso valor nutricional introduz ruído e tentaciones, sobretudo se o despliegue de dita variação faz-se com um importante investimento em publicidade. A moderación volta-se elástica (de facto, sempre nos parece que somos moderados ante eleições pouco adequadas) e a indulgência encontra sua justificativa: "Hoje toca provar isto novo… total, há que comer de tudo". Essa porta entreabierta, repetida a diário, é a que acaba pesando na báscula e nas analíticas.

Parece variedade, mas não o é

Também convém reconhecer a armadilha estatística do assunto. Com lineares que oferecem milhares de produtos muito parecidos entre si (bolachas com açúcar, bolachas com mel, bolachas com "cereais", bolachas "fitness"), a sensação de variedade é enorme, mas a natureza do eleito não muda. E quem diz bolachas pode dizer refrescos, pizzas precocinadas, snacks salgados, etcétera. Rotacionar entre marcas e sabores do mesmo não melhora a dieta, só a faz mais perigosa ante a aparência da variedade, os neones de vitaminas acrescentadas e o oropel da fibra e o "sem açúcar acrescentado". Comer de tudo... o ultraprocesado é uma armadilha na que não deves cair.