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Confirmado: os medicamentos para perder peso como Ozempic e Wegovy podem causar cegueira

A EMA (Agência Européia de Medicamentos) adverte: Ozempic e Wegovy podem provocar perda de visão (cegueira súbita) por neuropatía óptica

Rocío Antón

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Os medicamentos baseados em semaglutida, como Ozempic e Wegovy, se consolidaram em mal uns anos como um dos grandes avanços no tratamento da diabetes tipo 2 e a obesidad. Sua eficácia para reduzir os níveis de glucosa em sangue, junto com sua capacidade para favorecer a perda de importância, têm provocado um aumento em massa de seu uso em Europa e Estados Unidos.

Uma pessoa sustenta uma caixa de Ozempic, medicamento para tratar a diabetes / EUROPA PRESS - RICARDO LOIRO

Mas este sucesso vem acompanhado agora de uma advertência importante: a Agência Européia do Medicamento (EMA) tem confirmado um possível vínculo entre estes fármacos e um tipo de doença ocular que pode causar perda súbita de visão.

Ozempic e Wegovy: a EMA confirma um risco pouco comum de perda repentina de visão

A reacção adversa detectada denomina-se neuropatía óptica isquémica anterior não arterítica (NOIANA). Trata-se de uma patologia que reduz a irrigação sanguínea para o nervo óptico, o que pode ocasionar cegueira parcial ou inclusive total em matéria de horas. Ainda que sua incidência é baixa, a gravidade das consequências tem motivado que o organismo europeu inclua a advertência na informação oficial dos medicamentos.

Uma farmacêutica comprova a disponibilidade de um medicamento em seu armazém/ FREEPIK

A NOIANA é, após o glaucoma, a segunda causa mais frequente de perda irreversível de visão em adultos. A diferença de outras complicações oftalmológicas, seu aparecimento pode ser repentino e sem sintomas prévios, o que aumenta a preocupação entre médicos e pacientes.

O que diz a evidência científica

A decisão da EMA não é isolada. Desde 2024, diferentes trabalhos tinham começado a assinalar esta possível relação. Nesse mesmo ano, a revista científica JAMA Ophthalmology publicou um estudo que observava um maior risco de NOIANA em pacientes tratados com semaglutida. Pouco depois, um metaanálisis reforçou essa suspeita, ainda que enfatizou que os dados ainda eram limitados e que se precisavam mais investigações.

Uma mulher no oculista/ CANVA

A princípios de 2025, outra investigação foi um passo para além ao vincular tanto a semaglutida como a tirzepatida —o princípio ativo de Mounjaro, outro fármaco da mesma família de agonistas do receptor GLP-1— não só com a neuropatía óptica, sina também com um transtorno ocular menos comum conhecido como maculopatía média aguda paracentral.

Não obstante, os resultados não são unânimes. Uma análise sistémica que revisou 78 ensaios clínicos com mais de 73.000 pacientes não encontrou nenhuma associação entre a semaglutida e a retinopatía diabética, ainda que sim deixou aberta a possibilidade de um vínculo com a NOIANA. Como resumia o endocrinólogo brasileiro Fernando Gerchman, autor principal desse trabalho: "Os achados confirmam que existe um sinal, mas ainda não há provas suficientes para estabelecer uma causalidad definitiva".

Decisão da EMA e repercussão em Espanha

Depois de meses de revisão, o Comité de Avaliação de Riscos em Farmacovigilancia (PRAC) da EMA tem concluído que a NOIANA deve figurar no prospecto de todos os medicamentos que contêm semaglutida. Sua frequência classificou-se como "muito rara", isto é, que poderia afectar a até 1 em cada 10.000 pacientes.

Uma pessoa com um problema na mácula/ CANVA

Em Espanha, a Agência Espanhola de Medicamentos e Produtos Sanitários (AEMPS) já tinha alertado em junho deste risco potencial. No entanto, a actualização oficial do prospecto de Ozempic, Wegovy ou Rybelsus ainda está pendente do visto bom do Comité de Medicamentos de Uso Humano (CHMP) da EMA.

Convém recordar que o prospecto atual de Ozempic em Espanha já advertia sobre a retinopatía diabética como possível complicação, classificada como "frequente" (até em 1 em cada 10 pacientes), sobretudo em quem utilizam insulina de maneira combinada.

Um risco baixo que exige atenção

Em termos absolutos, a incidência estimada da neuropatía óptica isquémica entre os utentes de semaglutida ronda o 0,04%. Ainda que a cifra é baixa, os experientes recomendam não baixar a guarda e consultar de imediato com um médico se se produz qualquer alteração repentina da visão, inclusive parcial.

Uma pessoa fazendo-se uma prova oftalmológica/ CANVA

Ademais, a EMA faz questão de que esta nova advertência não muda a valoração geral sobre a semaglutida: os benefícios superam com cresces os riscos conhecidos. Estes fármacos têm demonstrado ser muito eficazes tanto para melhorar o controle glucémico como para favorecer a redução de importância em pessoas com obesidad, o que a sua vez reduz complicações cardiovasculares sócias.

Uma complicação rara, mas grave: o debate que cruza o Atlántico

Enquanto Europa actualiza seus prospectos, em Estados Unidos a situação transladou-se ao terreno legal. Diversos bufetes de advogados já têm começado a organizar demandas coletivas contra as companhias farmacêuticas responsáveis por estes medicamentos.

Uma pessoa sustenta uma caixa de Ozempic / EP

Representam a pacientes que asseguram ter sofrido perda repentina de visão depois de seu uso, o que tem gerado um intenso debate público sobre a segurança destes tratamentos estrela.

Como actuar: vigilância, informação e equilíbrio

A chegada de Ozempic e Wegovy tem transformado a abordagem de doenças crónicas como a diabetes e a obesidad, duas dos grandes reptos sanitários do século XXI. Agora, o aparecimento desta advertência obriga a pacientes e profissionais a estar mais atentos, mas sem perder de vista a perspectiva: o risco existe, ainda que é muito pouco frequente.

A EMA e a AEMPS recomendam aos pacientes não interromper seu tratamento sem consultar previamente ao médico e ir de imediato a um especialista se aparece qualquer sintoma visual inesperado. Porque, como recordam os experientes, na balança entre benefícios e riscos, a semaglutida segue sendo uma ferramenta fundamental na medicina atual, sempre que se use baixo uma adequada supervisão clínica.