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Nem o aburrimiento nem a personalidade: este é o factor decisivo para não querer fazer planos

Alguma vez tens pensado em que ultimamente te sentes sozinho? Há uma explicação científica ao facto de que nos custe mais fazer novos amigos segundo vamos cumprindo anos

Rocío Antón

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"Pergunto-me se voltarei a ter um verdadeiro tipo de cercania com uma amiga. O tipo de amiga com o que discutes e trocas a roupa, a que vês em teus momentos mais baixos" é um dos comentários —que aparecia escrito no foro Reddit— chamou minha atenção quando googlee a frase "Por que perdes ou deixas de ter amigos com os anos?".

Esta pergunta que lancei motivada pelo conteúdo deste artigo em questão, também a fiz de forma autobiográfica, pois eu mesma tenho sido testemunha de como tenho deixado de me sentir bem com pessoas que dantes me pareciam amizades incondicionais, que finalmente acabaram sendo estranhos com os que já não gostava de fazer planos.

Uma pessoa que prefere não sair de casa e se ficar sozinha lendo/ PEXELS

Tens de saber que se a ti também te passa, é porque atravessar a treintena implica muitas mudanças: novas metas, maiores responsabilidades e, em muitos casos, uma inesperada sensação de isolamento porque já não te diverte o mesmo que a outros. Ainda que costumamos associar a solidão com etapas mais avançadas da vida como a velhice, a cada vez mais pessoas em suas 30 ou 40 se enfrentam ao repto de manter vínculos sociais significativos para além do que lhes dura um casal. Que está a passar?

De noites intensas a encontros programados

Na adolescência e juventude, as amizades vivem-se com intensidade. Saídas espontáneas, conversas que duram horas, risos compartilhados e planos que se encadeiam sem descanso. Mas, com o passo do tempo, esse ritmo muda. As prioridades reordenam-se: o trabalho, os casais, a criação ou inclusive o autocuidado ganha terreno.

Uma pessoa sofre de ansiedade social por receber demasiadas mensagens / FREEPIK

O que dantes era uma rotina de encontros constantes, se transforma em planos esporádicos agendados com semanas de antecipação e que chegado no dia de ir encantar-te-ia ter recusado. Às vezes inclusive surpreendeste-te a ti mesmo fingindo estar doente para te ficar toda a tarde só numa maratona de tua série favorita de Netflix. O café rápido dantes de uma reunião, o jantar de aniversário ou o evento cultural voltam-se tediosos. E ainda que seguimos valorizando essas conexões, também cresce a necessidade de desligar.

Não é só questão de tempo: o cérebro também influi

Para além do ritmo acelerado da vida adulta, a ciência está a começar a entender que esta mudança também tem raízes biológicas. Um estudo recente da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura, tem arrojado luz sobre como o envejecimiento impacta directamente em nossa capacidade para nos relacionar.

Vários amigos num sofá / FREEPIK - gpointstudio

A investigação, publicada na revista Neuroscience & Biobehavioral Reviews, analisou os cérebros de quase 200 pessoas entre 20 e 77 anos mediante ressonância magnética funcional. O achado mais relevante? À medida que envelhecemos, a conectividade entre certas regiões cerebrais chave para a interacção social reduz-se.

As zonas mais afectadas incluem partes do sistema límbico e a ínsula (relacionadas com a gestão emocional), bem como redes neuronales implicadas na percepção de estímulos sociais e o pensamento introspectivo. Em outras palavras, nosso cérebro muda, e com isso também nossa disposição e energia para ligar com outros.

Quando deixar de ser sociable afecta mais do que cremos

Esta diminuição na interacção social não é um detalhe menor. Diversas investigações coincidem em que ter um meio social ativo é um factor protetor em frente a múltiplos riscos para a saúde: desde doenças cardiovasculares até transtornos do ânimo e deterioração cognitiva.

Vários amigos comem num restaurante / FREEPIK

Manter relações sólidas e frequentes pode marcar a diferença em como envelhecemos. Não só melhora nosso bem-estar emocional, também ajuda a preservar nossas capacidades mentais em longo prazo. Estudos como os do professor Arthur C. Brooks, de Harvard, sublinham que uma rede social rica é tão relevante como a alimentação ou o exercício na qualidade de vida durante a maturidade.

Como podemos nos adaptar (e reconectar)

Ante este palco, a proposta dos experientes é clara: é necessário naturalizar este processo e promover ferramentas que nos permitam reconectar com os demais de forma consciente e adaptada a nossa etapa vital.

Dois homens charlan num jantar organizado pela app que junta desconhecidos, Timeleft / TIMELEFT

Programas de estimulação cognitiva e social, iniciativas comunitárias e actividades intergeneracionales podem jogar um papel fundamental. Mas também há pequenos passos individuais que podem ajudar: retomar velhas amizades, dizer se a mais convites, apontar a uma oficina, compartilhar um hobby ou simplesmente atrever-se a iniciar uma conversa. Também existem aplicativos pensados para fazer amigos novos e compatíveis como a de Timeleft.

As prioridades ordenam-se e mudam

Ademais, é importante reconhecer que nossas necessidades sociais mudam, e está bem. Talvez não procuramos a intensidade dos 20, sina relaciones mais profundas, honestas e alinhadas com nossos valores atuais. Que tão se te apontas a esse curso de cerâmica que tanto te apetece? Ou se começas algum tipo de hobby no que implique conhecer a gente com teus mesmos interesses?

Uma pessoa aponta-se a fazer cerâmica para conhecer a outras pessoas criativas / Unsplash


Sentir-se desligado após os 30 é mais comum do que parece, mas não é irreversível. Entender que nosso cérebro também se transforma nos ajuda a ser mais compassivos conosco mesmos. E saber que a vida social influi directamente em nosso bem-estar é uma razão poderosa para seguir cultivando esses laços, ainda que agora floresçam a outro ritmo.